A arte e o talento proporcionam expedições para além das trincheiras arquitectónicas, comunicacionais e de convivência social, possibilitando e promovendo a edificação de “harmoniosos” diálogos e contextos de interacção entre os indivíduos. Também permite que o cidadão conviva consigo mesmo, identificando e legitimando os seus talentos, propósitos e reptos. A dança e a música inclusiva despontam do gradual movimento que procura a valorização e a participação de todas as pessoas, nomeadamente pessoas portadoras de deficiência. A inclusão deve embrulhar, em actividades sociais, pedagógicas e culturais, todos os cidadãos. A dança e a música constituem mananciais geradores de dinamismos expressivos não só no cabimento individual, como também no cabimento colectivo. Torna-se fundamental proporcionar configurações de igualdade a todos os cidadãos, perspectivando o desenvolvimento de potenciais, e a concepção de arquétipos de integração e de equidade social. Será que existem muitos projectos ou programas que impulsionem verdadeiramente a expressão corporal em pessoas portadoras de algum tipo de deficiência? Será que o aperfeiçoamento da “percepção” corporal, da criatividade, da socialização, dos índices de contentamento e de bem-estar, da comunicação, e da autonomia não é fundamental para qualquer pessoa? Será que a consolidação de espaços e de programas, nos quais seja possível a participação de todos, para grupos heterogéneos não é elementar? Será que a realidade ideal não se encontra afastada, em variadíssimas circunstâncias, da própria realidade efectiva?
A comunicação acaba por premiar, de forma ininterrupta, a edificação do diálogo entre os cidadãos, apadrinhando o uso de modelos de comunicação alternativa ou “auxiliar”. Torna-se capital o reforço dos patamares relativos à qualidade de vida dos indivíduos, desenvolvendo e disseminando, permanentemente, valores como o respeito; o esguardo; a solidariedade; a igualdade; e a coadjuvação. Infelizmente a maior parte das escolas públicas estão sobrelotadas, existindo turmas com várias dezenas de alunos. Nestes casos, podemos seguramente afirmar que os professores têm dificuldade em perfilhar “correctamente” o processo de inclusão. Talvez os direitos das crianças e dos adolescentes passem a ser parte integrante de um processo de exclusão.
Algumas instituições vocacionadas para o atendimento de pessoas portadoras de deficiência acabam por inaugurar superfícies para que, e de modo progressivo, pessoas sem deficiência abracem esses trabalhos, mecanismos e causas. A edificação e a estruturação de grupos heterogéneos constituem contextos que devem ser degustados como agentes agregadores e nunca excludentes. Será que as instituições não devem estar direccionadas para a comunidade em geral? Será que as instituições não fazem parte dos ruídos, tumultos e volubilidades que desfilam no mundo? Será que as mesmas não devem agasalhar um papel activo de forma a amputar esses mesmos ruídos, tumultos e volubilidades? Quais são as transformações estruturais imprescindíveis ao “pensamento” e aos procedimentos das instituições que asseverem a acessibilidade e a “permeabilidade” da singularidade?
Quando trabalhamos com faixas-etárias heterogéneas e grupos compostos por pessoas com diferentes tipos de deficiência, acabamos por edificar um verdadeiro diagrama colaborativo entre as mesmas. Por exemplo aqueles que não ouvem ou que não veem auxiliam-se entre si, podendo os outros serem degustados como prolongamentos do seu próprio corpo. A separação do eu e do outro assume um papel crucial para o desenvolvimento da representação, da interpretação e da simbolização, condições necessárias para a aquisição e aprimoramento de competências. Será que a comunicação expressiva não pode ser considerada um tipo de linguagem? Será que esse conceito não pode ser promovido no espaço das artes? Será que o tema inclusão dispensa mais conjunturas de investigação? Será que não é importante e reconfortante trabalhar com uma visiva que caucione o direito de todos os cidadãos, designadamente o de terem as suas necessidades supridas de modo a alcançar a condição de igualdade? Será que a superfície inclusão, para além de pessoas com necessidades especiais, não embrulha todos aqueles que estão em situação de risco, nomeadamente idosos, crianças e adolescentes? Como se identificam os grupos vulneráveis? Será que a técnica deve procurar padronização? Será que a mesma não deve “laborar” com o potencial criativo de cada indivíduo? Será que toda e qualquer ocupação deve procurar unicamente a proporção estética e o virtuosismo? Será que o trabalho não deve identificar e fomentar as dissemelhantes configurações criativas e expressivas de cada pessoa?
O corpo pode ser contemplado como um transporte que possibilita à pessoa com deficiência “perscrutar” o Universo através do movimento, sendo basilar encontrar o potencial comunicativo expressivo. Na verdade, esse potencial sugere um novo olhar sobre a dança, a música e a inclusão. Será que a dança e a música não constituem e aformoseiam um habitat de expressão; de educação; de socialização; de lazer; de bem-estar; de amor-próprio; de conforto emocional; e de terapia? Será que o fortalecimento dos índices de auto-estima não é uma configuração fundamental? Será que não é importante que os cidadãos sintam que são capazes de receber, de criar, de valorizar e de compartilhar? Será que não existem pessoas que nunca se aproximaram, por uma panóplia de razões, de cidadãos portadores de deficiência? Será que não é essencial valorizar e disseminar o diálogo e a socialização das pessoas com deficiência junto das comunidades? Será que as mesmas, através da partilha de experiencias magníficas e pigmentadas, não nos oferecem colossais e importantes ensinamentos? Será que não aprendemos com as diferenças e com as semelhanças? Será que a inclusão não tem diferentes “indumentárias”? Será que não é determinante reflectir sobre as mesmas? Será que não é fundamental lançar olhares para o passado e para o presente com a finalidade de despertar conhecimentos, percepções e comportamentos, bem como de enfatizar conceitos concernentes ao desenvolvimento de procedimentos emaranhados? Será que não é necessário analisar os encadeamentos sociais impuros e os arquétipos da ciência contemporânea relativamente à inclusão? Será que devemos desperdiçar a oportunidade de amplificar diálogos colaborativos sobre a inclusão?
A inclusão tem forçosamente que estar envolvida num processo de reflexão e de acção, desenvolvendo abordagens e contextos simplificadores relativamente a pessoas com necessidades especiais. Devemos certamente ser construtores do conhecimento. Será que não é importante perceber o nosso tempo e o tempo de cada pessoa? Será que não é basilar respeitar as minhas limitações e as limitações dos outros? Será que não devemos empregar a nossa criatividade e impulsionar a dos outros? Será que não é relevante cooperar e alcançar cooperação? Será que a sociedade não nos deve exigir uma salutar comunicação? Será que sabemos comunicar? Será que não é interessante participar e permitir a participação dos outros? Será que não é relevante ouvir as necessidades dos outros? Será que não devemos compartilhar os nossos sentimentos e valorizar os das outras pessoas?
A comunicação acaba por premiar, de forma ininterrupta, a edificação do diálogo entre os cidadãos, apadrinhando o uso de modelos de comunicação alternativa ou “auxiliar”.