Júlio Ambrósio, de 46 anos, residente no concelho de Celorico da Beira, no distrito da Guarda, referiu que este ano já comprou “dois camiões de forragens” para alimentar os mais de mil animais que possui numa quinta, na freguesia de Prados.
O empresário agrícola não tem falta de água na sua exploração, mas na área de sequeiro “a produção de pastagem, nesta altura, é praticamente nula”.
Referiu que a situação, “num futuro próximo, será grave, por causa da falta de forragens”, uma vez que nos meses de maio e junho costuma recolher forragens para a alimentação do próximo inverno e, “se não chover nos próximos tempos”, essa produção “está comprometida”.
“Já fiz a aquisição de forragens extra da exploração, coisa que, por norma, nunca seria necessário. A alimentação, a nível da ração, foi aumentada para suprir as necessidades que os animais não colhem na pastagem”, relatou.
Segundo Júlio Ambrósio, a produção de leite “também caiu um pouco” e os custos aumentaram: “Neste momento já estou a fazer rega, que seria uma coisa impensável num ano normal. Ou seja, já estou a ter custos a nível de energia que não eram previsíveis”.
“Os próximos tempos vão ser difíceis, mesmo que os apoios venham, porque a seca não se resolve vindo os apoios. Os apoios suprem as perdas que nós temos”, assume.
Na opinião do produtor pecuário do concelho de Celorico da Beira, que vende leite de ovelha para uma queijaria que produz queijo Serra da Estrela DOP (Denominação de Origem Protegida), “será impossível que os apoios que venham” possam “cobrir a falta de forragens no futuro”.
Como este ano já comprou dois camiões de forragens, Júlio Ambrósio espera não ter de recorrer novamente ao mercado, mas é uma hipótese que não rejeita “caso a seca se prolongue por mais 20 ou 30 dias”.
A região demarcada de produção do queijo Serra da Estrela abrange os municípios de Carregal do Sal, Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia, Mangualde, Manteigas, Nelas, Oliveira do Hospital, Penalva do Castelo, Seia, Aguiar da Beira, Arganil, Covilhã, Guarda, Tábua, Tondela, Trancoso e Viseu.
Mais de 90% do território estava a 15 de fevereiro em seca severa ou extrema, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que indica um novo agravamento da situação de seca meteorológica no país.
O último boletim de seca indica valores de percentagem de água no solo inferiores ao normal em todo o território, com as regiões Nordeste e Sul a atingirem valores inferiores a 20%, com “muitos locais a atingirem o ponto de emurchecimento permanente”.