A nova espécie de inseto foi encontrada nas rochas de uma cavidade natural, conhecida por Buraco da Moura, perto de Lapa dos Dinheiros, em Seia.
O estudo que esteve na origem da descoberta do escaravelho envolveu Artur Serrano, Carlos Aguiar e Mário Boieiro do cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais) e biólogos de outras instituições, nomeadamente José Conde (Centro de Interpretação da Serra da Estrela) e Sandra Antunes (Centro de Conservação das Borboletas de Portugal).
“Trata-se de um escaravelho predador que apresenta adaptações particulares ao modo de vida subterrâneo, nomeadamente despigmentação do exosqueleto, ausência de asas e de olhos compostos funcionais, e possui apêndices alongados para mais facilmente detetar as suas potenciais presas e predadores”, refere o cE3c.
A fonte adianta que a nova espécie “recebeu o nome de ‘Domene viriatoi’, em homenagem a Viriato, prestigiado chefe militar dos lusitanos”, que se presume ser originário da região da Serra da Estrela.
A descoberta científica já foi publicada na revista Zootaxa, referindo os autores que a nova espécie encontrada “é diagnosticada e comparada com espécies próximas do subgénero Lathromene Koch, 1938, endémico da Península Ibérica”.
Este achado confirma a importância da Península Ibérica, que “tem um ‘hotspot’ de biodiversidade para besouros subterrâneos e destaca a necessidade de estudar, valorizar e proteger essas espécies únicas e dos seus habitats”, segundo os investigadores.
O escaravelho subterrâneo de cor avermelhada e com comprimento do corpo de 6,9 a 8,2 milímetros (machos) e 6,3 a 8,8 milímetros (fêmeas) foi estudado em duas fases, entre abril e outubro de 2013 e 2014.
O coordenador do estudo, Artur Serrano, disse à agência Lusa que “a descoberta e divulgação de qualquer espécie nova para a ciência é sempre importante, pois acrescenta mais um ‘tijolo’ à construção” do conhecimento sobre a biodiversidade do planeta Terra.
Em sua opinião, “qualquer território deve sentir orgulho no seu património como um todo, quer este seja o cultural, o natural, entre outros”.
“Os patrimónios só podem ser valorizados e entendidos como tal se forem conhecidos e divulgados. Assim, o nosso já rico património natural ficou enriquecido com a descoberta desta nova espécie, que apesar de ser ‘pequenina’ em termos de envergadura, é até ao momento exclusiva do território português. Por outro lado, a sua divulgação e proteção deve ainda ser motivo de orgulho para os habitantes do concelho de Seia”, referiu.
Em relação à salvaguarda do local onde o escaravelho foi encontrado, Artur Serrano lembra que “o Buraco da Moura foi classificado pelas entidades competentes como abrigo de importância nacional para a conservação dos morcegos”. Logo, o acesso “deve ser restringido o máximo possível para salvaguardar a integridade deste habitat”.