“Vamos em maio, quando abrem as próximas candidaturas do POSEUR [programa operacional sustentabilidade e eficiência no uso de recurso] no domínio da conservação da natureza, apresentar uma candidatura para reintroduzir o lince na Serra da Malcata”, disse à agência Lusa João Matos Fernandes.
“A expetativa de sucesso que temos é de em três, quatro, cinco anos podermos ter condições para que o lince possa voltar à Serra da Malcata”, referiu.
Para cumprir este objetivo, “é fundamental que também o Estado cumpra a sua função” com a instalação de alguns cercados com coelho bravo e pequenas mudanças, como “fazer alguns pequenos prados, com mosaicos na paisagem que tenham zonas de refúgio, tanto para o lince como para as presas, em comum e em associação com a gestão daquele espaço como uma zona de caça”, explicou o ministro.
“Acredito que, no final deste ano, já estaremos em condições de poder iniciar no terreno as intervenções que conduzirão a que, num prazo que infelizmente nunca será muito curto, volte a haver lince na Serra da Malcata”, realçou o governante.
A existência de alimento, ou seja, coelhos bravos, é fundamental para a decisão de libertar os linces.
A densidade de coelhos bravos por hectare recenseada na Serra da Malcata era de 0,29 quando o programa LIFE, que tem financiado a reintrodução do lince na Península Ibérica, diz que tem de haver um mínimo de dois coelhos bravos por hectare, lembrou João Matos Fernandes.
Assim, concluiu, “não há quaisquer condições para hoje poder reintroduzir o lince na Serra da Malcata”.
O lince tem sido introduzido em Portugal com sucesso, ainda que seja uma experiência recente, no Vale do Guadiana, onde há densidade “da ordem dos 3,5 coelhos bravos por hectare, tudo isto em zonas de caça ordenada”, frisou ainda.
Desde 2005, existe um plano de ordenamento territorial na Serra da Malcata que “claramente aponta a caça como uma atividade económica importante também para a melhoria do habitat”, nomeadamente pela introdução de espécies autotones, como coelhos bravos, o alimento do lince.
Assim, “pareceu-nos importante, seguindo o conselho técnico do ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e Florestas], permitir a caça ordenada naquela parcela da Serra da Malcata”, explicou o ministro, mas alertou que, para haver caça na área, o Governo tem de aprovar um plano e “a única espécie que está previsto poder caçar-se, na melhor das hipóteses daqui a um ano e meio, é o javali”.
João Matos Fernandes insistiu que “não há quaisquer condições na Serra da Malcata, por exemplo, para caçar coelhos ou perdizes [que] têm um número reduzido e é completamente proibida”.
O Ministério só vai aceitar uma caça de espera ou acompanhada por um profissional que trabalhe na reserva de caça, garantiu.
A revogação da portaria que interditava a caça da Serra da Malcata, que o Ministério esclareceu ter sido só na zona sul, deu origem a várias críticas dos ambientalistas, assim como de alguns partidos, como o PAN, os Verdes ou o Bloco de Esquerda.