São aldeias no interior e mostram ao mundo como aqui é que se está bem

As Aldeias do xisto não vendem apenas quartos, têm experiências em territórios rurais e a internacionalização destes bens e serviços produzidos no interior do país ganha agora novo impulso.

Primeiro as devidas apresentações desses locais onde nem sempre é fácil trabalhar. As aldeias do xisto são 27 aldeias espalhadas por 16 municípios do Pinhal Interior, na região Centro do país, e são também uma marca territorial em que a identidade cultural é um dos principais recursos que convém preservar e mostrar ao mundo. Nos últimos anos, estas aldeias têm beneficiado de vários projectos de requalificação que as tornam pólos de atracção turística. Argumentos não faltam: belas paisagens, gastronomia típica, velhos ofícios, tradições antigas, artefactos moldados à mão. A qualidade de vida das populações melhora, a auto-estima aumenta e a economia agradece. A projecção desses lugares dentro e fora de portas continua, não cruza aos braços e procura novos trilhos. E é assim que tem de ser. “Nestes territórios submetidos a um destino de esvaziamento é difícil trabalhar sem algum caminho novo, sem algumas experiências”, refere Rui Simões, coordenador da ADXTUR – Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, que tem como missão gerar atractividade, estimulando um desenvolvimento social e territorial sustentável e integrado nas comunidades locais.
Mostrar o que é genuíno, autêntico, o que não é banal, o que nasce em aldeias do interior, é também uma maneira de mostrar ao mundo o que é português. “Há uma identidade rural que transportamos que é muito significante da identidade portuguesa”, sublinha o responsável. A internacionalização é um caminho que tem vindo a ser trabalhado, mas agora pretende-se dar mais um passo numa estratégia concertada em nome de uma melhor capacidade institucional. Essa estratégia de internacionalização de bens e serviços produzidos em contexto rural está acertada e será alvo de um protocolo que será assinado entre as Aldeias do Xisto e a AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, no início do próximo ano. “Temos vindo a trabalhar com a AICEP e convergido no desejo de podermos encontrar mercado para alguns bens e serviços que temos no nosso território”, refere o responsável.
Estas aldeias são turismo, natureza, paisagem, peças de artesanato, gastronomia. A estratégia passa por levar tudo isso a mais lugares, mais mercados. O que nem sempre é fácil em lugares onde não existe muita procura e investimento. Rui Simões acredita que é possível fazer mais e melhor e valorizar o que as aldeias do xisto têm para oferecer. “Não vendemos só quartos, vendemos experiências dentro de um território”, avisa. Por isso, as atenções estão focadas em alguns pontos considerados estratégicos. “Valorizar a marca, renovar um pouco a partir das próprias culturas dos sítios, desenvolver objectos significantes dessa realidade local”, adianta. Os mercados estão definidos e são europeus: Alemanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Reino Unido, Espanha. Além disso, é preciso atenção a novas oportunidades e marcar presença em feiras internacionais.

Reforçar cumplicidades
As Aldeias do Xisto têm 200 associados, 150 dos quais são privados. Têm 20 lojas, 50 praias fluviais, mais de mil quilómetros de percursos pedestres e BTT e 250 mil visitantes no seu site. Foram criadas duas rotas: a Grande Rota do Zêzere e a Grande Rota das Aldeias do Xisto, e há um Welcome Center Aldeias do Xisto na Lousã, o único da marca do Centro de Portugal localizado fora dos capitais de distrito.
Na última quarta-feira, foi inaugurada a exposição Agricultura Lusitana na Universidade de Aveiro, com a presença de representantes da AICEP, do Turismo Centro de Portugal, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro e de algumas universidades portuguesas. Agricultura Lusitana é mais do que uma exposição, é um projeto que envolveu cerca de 150 pessoas de nove escolas superiores de Design nacionais, 22 ateliês de artesanato, uma equipa de design, que se debruçaram sobre a realidade das aldeias, inspiraram-se nesses lugares para criar objetos significantes da memória e da identidade da cultura nacional, dos valores do território e até mesmo do espírito português. Esse envolvimento trouxe às aldeias novas tecnologias, ferramentas e saberes, aumentou o portefólio com novos artefactos de cutelaria, papel, cestaria, sapataria e tornearia. E assim surgiram objetos decorativos contemporâneos, como candeeiros de bronze, peças modernas de cerâmica e de joalharia, sapatos, mesa de centro, bancos, mochilas, almofariz, suporte para medronheiro. E um filme que mostra o ritmo rural, alojamentos, restaurantes, atividades ao ar livre, praias fluviais das aldeias do xisto.


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