A leitura esclarecedora reclama um comportamento meditativo, que deve ser expugnado diante do universo, da humanidade, da verdade e da vida. Logo, a leitura deve ser degustada como um manancial inextinguível de investigação e jamais como uma descomprometida decifração de representações gráficas.
Sempre que filamos um livro devemos tentar descortinar o “caminho” que o escritor deu à narração e simultaneamente relacioná-lo com as nossas próprias vivências e conhecimentos textuais, destapando e reestruturando, deste modo, novas concepções e representações. Através da prática da leitura, somos capazes de conhecer outros vocábulos e assimilar diferentes construções gramaticais. A leitura, não só desimpede a dilatação de conhecimentos e a ascensão a estados superiores de desempenho intelectivo, como também desfruta de uma faceta de inclusão social. Os analfabetos tradicionais e os analfabetos funcionais constituem um conjunto de indivíduos que transportam diariamente o descolorido embrulho do afastamento social.
Quando se lê um livro, interage-se com o texto, bem como com os ledores virtuais e potenciais que são estabelecidos e identificados no ritual da escrita. O texto exerce, desse modo, uma intercessão entre os indivíduos.
A Internet, devido à sua extraordinária habilidade e aptidão de vulgarizar livros, imagens e representações, alberga a capacidade de ampliar a condição virtual. Contudo, os leitores na Internet invulgarmente compreendem o significado do pleno, do contentamento visual e palpável que se obtém através da familiaridade e convivência com, por exemplo, um jornal. Estas dissemelhanças são essenciais, uma vez que as mesmas são responsáveis pela permanência do formato impresso. Apesar da crescente propagação dos recursos tecnológicos, é importante saber que a moderna tecnologia não tem capacidade para substituir definitivamente os processos e procedimentos mais envelhecidos.
A leitura constitui um dos mecanismos mais relevantes para a aprendizagem, proporcionando a edificação e o robustecimento de ideias, representações e actuações. Será também importante referir e sublinhar que ninguém se transforma num bom leitor por incumbência e não existe ninguém que “germine” apreciando os perímetros da leitura. Todavia, a mesma assume um papel crucial no desvendamento dos enigmas sociais, no “abrangimento” social, na formação dos cidadãos e no decrescimento da ignorância.
O Estado, a família, a escola e as bibliotecas assumem um papel fundamental para o aumento dos índices de leitura, na medida em que ninguém se converte em leitor estando próximo de uma tela cultural em que o “livro” esteja mal desenhado ou não exista. Em Portugal, um país que ainda acondiciona graves insuficiências no ensino público e hospeda uma elevada taxa de iliteracia funcional, todos os paradigmas que estimulem os indivíduos para a prática da leitura devem ser extraordinariamente bem recebidos.