Os sentidos necessitam de estar aguçados para que os indivíduos consigam contemplar, escutar e opinar sobre as numerosas configurações de composição dos sujeitos comprometidos com a criação, planeamento e estruturação. É indispensável compreender os ruídos, as conversas, as propensões, os ritmos e os silêncios, bem como sentir e decifrar os aromas peculiares. O adolescente acaba por ter de se adequar às modernas circunstâncias e voltagens que flutuam na sociedade. Estas oferecem-lhe um novo olhar sobre o mundo e sobre si próprio. Na realidade, o tempo e o espaço não são distribuídos, classificados e usados da mesma forma por todos os indivíduos. Será que a história da sociedade não demonstra que existem diferentes formatos de valorizar o tempo de trabalho e o tempo do descanso? Será que os diferentes grupos sociais não apresentam os dissemelhantes modos de contemplar o espaço da casa ou da rua? Será que a “naturalidade”, tão robustamente edificada na sociedade, não nos impossibilita de destacar e assinalar que os adolescentes se deslocam, circulam e se juntam de formas diferenciadas?
As divisões adjacentes à linhagem, camada social, etnia e sexualidade estão embrulhadas em boa parte das construções sociais, sendo apenas na cronologia dessas divisões que podemos descobrir esclarecimentos para a coerência que as superintende. Continuamos a observar e a analisar os problemas e dilemas da adolescência porque, na verdade, os mesmos são reais, acarretando índices de incómodo, desassossego e complexidade. Contudo, e em abono da exactidão, é crucial referir que actualmente desfilam concepções diferentes em relação a esta temática, possibilitando-nos testemunhar e degustar a adolescência de outra maneira. Será que muitos dos enigmas da adolescência não despontam como meio de adaptação do adolescente aos novos reptos e aguilhoamentos que lhe vão sendo colocados? Será que não são múltiplos os desafios a vencer? Será que o adolescente não precisa de se sentir valorizado como pessoa e útil para os outros? Será que o novo contexto biológico, a tentativa de obter independência, os novos encadeamentos interpessoais, a progressão académica, as amizades, a integração num grupo e os namoros não são desafios constantes e determinantes na vida dos adolescentes? Será que a informação fidedigna não é fundamental para os jovens fazerem escolhas correctas e proveitosas? Será que a superação dos desafios e a ocupação das indispensabilidades não constituem condições necessárias para que os adolescentes se tornem adultos saudáveis e rendosos? Será que a adolescência não é um período de transformações viscerais e de sentimentos contraditórios que não se circunscreve unicamente ao adolescente, mas que se estira também aos pais, docentes e amigos? Será que os problemas não devem ser contemplados e analisados como ressonância de uma divergência entre o amadurecimento biológico e a maturidade social?
Para desengrossar a “complexidade” na adolescência torna-se essencial criar e propagar projectos multidisciplinares, apostar em movimentos que autentiquem a nomeação de efectivos agentes de protecção e equacionar correctamente os diferentes itinerários de vida. As faixas etárias e as categorias sociais perfilhadas pela sociedade moderna acabaram por admitir diversas e avantajadas metamorfoses, afastamentos, regressos, eliminações e adições ao longo dos tempos. Será que nas sociedades modernas existe algum tipo de acontecimento que assinale o fim da infância ou o princípio da adolescência?
Os adolescentes também costumam ser acusados de mentir. Esta conjuntura acaba por ser colocada amiudadamente na família, no grupo educativo e na sociedade. O acto de mentir engloba a declaração de contextos que não são verdadeiros, bem como pressupõe uma disposição deliberada, visível e precogitada. Será que os adolescentes agasalham tempo, eupatia e perseverança para ingressar, de uma forma plena, no sistema da embustice? Será que os mesmos ocultam a verdade por outros motivos, nomeadamente para se protegerem, para que não os perturbem, para evitar resultados menos agradáveis ou para atingirem certas finalidades? Será que os adolescentes aldrabam? Como pode ser definida a mentira? Será que não é fundamental conhecer as diferenças e os limites que caminham entre a mentira e a concepção? Será que não é elementar saber as fronteiras entre a omissão, a narração da história segundo a nossa imagem e conveniência, e o acto de mentir? Será que em algumas ocasiões a mentira não surge de uma leitura inexacta da realidade? Será que alguém questiona que, em algumas circunstâncias, as crianças e os adolescentes mentem? Qual será o escalão de acoplagem entre mentir, no período da adolescência, e a perfilhação de “valores” indumentados de seriedade e insinceridade, e de fidelidade e infidelidade? Será que a negação da verdade é o mesmo que mentir? Será que a negociação com os pais não é mais vantajosa para os adolescentes do que a mentira? Será que com o acto de negociar não se ganha quase sempre alguma coisa? Será que boa parte da acção de mentir não se aprende no seio familiar?
Alguns estudos indicam a influência dos amigos como uma condição determinante para a conduta desviante, ou não, dos adolescentes. Todavia, outros estudos mostram que a ausência de amigos funciona como um agente impulsionador de problemas de foro intelectual. Os amigos, através dos seus comportamentos, podem constituir uma nascente positiva ou negativa de influência. “Correr riscos” é uma expressão associada à adolescência que tem sido usada para interligar um conjunto de procedimentos desvantajosos para a saúde, designadamente: o consumo de substâncias químicas; as condutas sexuais de risco; as atitudes assassinas; os comportamentos suicidas; a condução descautelosa; as desarrumações alimentares; e a marginalidade. Os comportamentos de risco quando têm início prematuramente acabam por albergar maiores índices de probabilidade de se transformarem em verdadeiros problemas. Será que as mudanças não permitem aos adolescentes descerrar novos ambientes e ensaiar novos procedimentos? Será que os comportamentos de risco não servem para conhecer novos elementos da vida não experimentados até esse período? Será que os mesmos não podem contribuir para adquirir anuência e consideração dos outros jovens; obter independência em relação aos pais; exteriorizar denegação pelos princípios tradicionais; conviver com a aflição, desapontamento e previsão do insucesso; plasmar a sua identidade; e progredir para um estatuto superior? Será que, por vezes, os comportamentos de risco não aconchegam uma chancela normativa, lógica e benigna para os adolescentes? Será que, em certos contextos, os comportamentos de risco não patenteiam ocupações utilitárias e funcionais relevantes para os adolescentes?
Se os comportamentos de risco espontarem confederados a outros comportamentos de risco e, dessa forma, permitirem classificar o modo de vida do adolescente como de risco, então o mesmo pode já estar empacotado em problemas profundos. Os entendimentos do risco manifestam-se na interpretação e representação da fragilidade pessoal em relação a uma determinada ocorrência contraproducente. Será que não é necessário desenvolver, e posteriormente fortalecer, um plano nacional de informação sobre saúde e estilos de vida dos adolescentes? Será que também não é importante edificar um programa de intervenção precoce que difunda as condições de protecção em relação aos comportamentos de risco e que “cerque” os contextos e alvos de vida fundamentais? Será que a implicação em comportamentos de risco não aumenta com a idade? Será que o comportamento antigo não condiciona e encaminha o comportamento futuro? Será que não é essencial salvaguardar as fases nas quais ainda não tenham sucedido estes comportamentos e, de forma simultânea, impulsionar os argumentos e raciocínios de auxílio?