É seguramente importante compreender que a fotografia também constitui um mecanismo pedagógico de consciencialização da nossa realidade, sendo igualmente um meio de entender os equívocos e os progressos do pretérito, sempre com a função de preservação, estruturação e edificação da memória colectiva.
Como vivemos numa sociedade alvoraçada e injusta, na qual a ética indumenta-se do lucro e do engano, maior relevância deverá ser dada à memória colectiva que herdámos.
Os pedagogos, os fotojornalistas e os editores devem embalar o compromisso de espicaçar a meditação, a ponderação e o aperfeiçoamento da consciência daqueles que possuem o papel, utilizando as imagens fotográficas, de matricular o nosso dia-a-dia. Tornam-se relevantes os avisos e as recomendações para a importância da moral e da catalogação íntegra das imagens.
O fotojornalismo tem sido ebúrneo de infinitas argumentações e altercações sobre a ética do conteúdo das imagens. Por exemplo, os meios de comunicação social têm a autonomia de modificar os moldes de apresentação em relação à violência e à morte.
O jornal, como fio condutor da meditação, alcançou uma função primordial na configuração do modo como o homem assimila o hodierno. O alicerce da liberdade de expressão é empregue variadíssimas vezes para fundamentar as preferências, apuramentos e selecções dos meios de comunicação.
Não é menos verdade que em algumas ocasiões os fotojornalistas, atravessando por irresoluções éticas e embaraços na atmosfera laboral, discordam de determinados comportamentos e opções dos seus editores.
Através de uma observação epidérmica ao fotojornalismo dos jornais impressos, percebem-se algumas características e particularidades pertinentes. Algumas delas são compartilhadas, mas felizmente outras não.
No leque das coincidências podemos destacar o poder, a energia e a desenvoltura que as agências noticiosas têm vindo a conquistar ao longo dos últimos anos.
Quanto às desconformidades, estas estão intimamente associadas às desiguais linhas editoriais, à ética dos profissionais da informação e às conveniências comerciais dos proprietários dos jornais.
Acontece frequentemente que os leitores mais “descontraídos” contemplam as imagens unicamente como explicações e resumos daquilo que está tipografado nos textos jornalísticos. Porém, elas não encerram apenas esse papel, uma vez que na maioria dos casos também são colocadas para completar e teatralizar um determinado acontecimento.
Será que não estão muito em voga as estratégias que convocam a atenção e a “meditação” dos consumidores, bem como as mensagens subliminares?
Um vértice que também merece alguma atenção é o apelo e o estímulo constante que os jornais fazem aos leitores para os mesmos enviarem imagens para as redacções. Todavia, a maior parte dos leitores não são profissionais da área e não aconchegam qualquer tipo de vínculo à instituição.
Por estes motivos também não têm o compromisso e a responsabilidade jornalística dos acontecimentos, nem qualquer inquietação com a autenticidade e fidelidade das imagens.
A “rivalidade” da televisão contribuiu para a fotografia perder terreno como principal mecanismo de informação visual, mas também cooperou para a obtenção de um poder de síntese significativamente superior. Porém, o fotojornalismo jamais pode ser analisado como uma mera ilustração do jornal impresso, pois é executado com a esclarecida finalidade de difundir informação.
A linguagem não verbal, isolada ou interligada com a verbal, deve ser acondicionada pelos comunicadores de forma rigorosa e imparcial, manifestando constantemente a necessidade de esquadrinhamentos sérios de criatividade e de abnegação por parte dos fotógrafos e dos editores.
Contudo, a inquietação do jornalista em verbalizar a verdade e o desassossego do fotógrafo em patentear a realidade estão quase sempre num patamar superior ao da reflexão sobre os sentimentos dos receptores da mensagem.
O receptor está mais articulado com a presteza da notícia e com a dinâmica de celeridade na imprensa, do que propriamente com o conteúdo. Neste sentido, podemos afirmar que a “ilustração” e a preocupação do fotojornalismo devem assentar na comodidade e tranquilidade da comunidade, e não unicamente no mediatismo, no lucro e na difusão célere de informação.