A reforma da floresta é imprescindível, mas só faz sentido se for feita de forma integrada e em função de uma leitura e de uma estratégia integrada do território interior, sustenta a bióloga Helena Freitas.
Sem pôr em causa, de modo nenhum, a necessidade de promover a reforma da floresta e sendo “favorável”, designadamente, às “recomendações da Comissão Técnica Independente” (no relatório sobre os incêndios que começarem em 17 de junho em Pedrógão Grande), Helena Freitas sublinha que a resolução dos problemas da floresta vai “muito para além da floresta”, é “uma questão de valorização do território”.
O interior perdeu, nas últimas décadas, “a atividade económica”, a “atividade agrícola e rural”, a silvopastorícia e, assim, “as pessoas que podiam fazer a diferença”, sem que tenha sido criada uma alternativa, afirma à agência Lusa a professora da Universidade de Coimbra (UC), que foi coordenadora da Unidade de Missão para a Valorização do Interior (UMVI) entre março de 2016 e julho de 2017. Freitas critica, por outro lado, “o centralismo atávico” do país que ignora o interior.
“Estamos a pagar a falta de investimento do Estado” no interior do país, mas não basta “olhar só para a floresta, mas para o conjunto”, apela Helena Freitas, defendendo que “sem investimento no interior, não haverá reforma florestal”.
Mas “reformar [a floresta] para servir quem?”, questiona a antiga deputada e ex-vice-reitora da UC, alertado que, “sem isso [sem a resposta à questão], não há reforma possível”.
Por outro lado, em todos os estudos e análises sobre o setor, “não há um único capítulo dirigido aos rios, à água”, exemplifica a especialista, defendendo que, também neste plano, a floresta tem de ser encarada como parte de um conjunto.
Helena Freitas julgou, quando coordenou a UMVI, que este seria “um projeto político forte”, mas “talvez agora possa ser esse o momento”, admite, insistindo na ideia de que “não haverá reforma florestal, sem olhar para o desenvolvimento” integrado e sustentável do interior do país.
Além disso, essa reforma “só será viável se todos os partidos políticos perceberem que este é um problema do país”, que “a reforma da floresta é imprescindível”, alerta a bióloga.
“Ninguém se pode colocar de fora, nem no presente, nem no futuro”, sustenta, não compreendendo a moção de censura ao Governo que o CDS-PP vai apresentar na Assembleia da República, tanto mais que surge de “um partido que teve práticas pouco abonatórias” da floresta, promovendo, por exemplo, “a expansão do eucaliptal”, sublinha.
“O território foi abandonando por todos os governos”, salienta Helena Freitas, considerando que “os ministérios têm dificuldade em interagir” e que isso exige também uma reformulação da orgânica do governo, que tem de “tornar a valorização do território transversal