Especialistas querem demolir ensecadeiras resultantes da suspensão da barragem do Côa

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“Pretendemos no início de dezembro ter concluído os estudos técnicos para retirada das ensecadeiras e tornar livre o rio Côa. Todos ganhamos com rios vivos e saudáveis”.

A Fundação Côa Parque, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e a Rewilding Portugal iniciaram ontem um projeto para demolir as ensecadeiras com mais de 27 anos no rio Côa, após a suspensão da construção da barragem.

“Trata-se de um projeto para estudar a viabilidade da remoção das ensecadeiras existentes na foz do rio Côa, deixadas após abandono da construção barragem de Foz Côa e que permitirá uma conectividade de 54 quilómetros ao longo do curso de água“, explicou à Lusa Pedro Prata diretor da Rewilding Portugal.

Por seu lado, o vice-presidente APA, Pimenta Machado, avançou que a remoção das ensecadeiras, estruturas obsoletas que combinam uma dimensão ambiental, ecológica e patrimonial, será o maior projeto em Portugal para repor a conectividade fluvial.

“Pretendemos no início de dezembro ter concluído os estudos técnicos para retirada das ensecadeiras e tornar livre o rio Côa. Todos ganhamos com rios vivos e saudáveis”, vincou o responsável.

Já a presidente da Fundação Côa (FCP), Aida Carvalho, indicou que foi possível reunir um conjunto de entidades que estão unidas em prol da demolição deste passivo ambiental.

“Trata-se de uma ambição com mais de 26 anos que agora está próximo de ser concretizada em prol da defesa e conservação da Arte do Côa, devido à erosão causadas pelos consecutivos episódios de cheias que são promovidos pela travagem da águas deste rio, por efeito das ensecadeiras”, destacou.

Segundo o arqueólogo Miguel Almeida, estas ensecadeiras foram construídas em meados da década de 90 do século passado para ter um tempo útil de cerca de três anos e já passaram mais de 26 anos sem nada ser feito.

“Estamos há mais de 25 anos sem que esta estrutura tenha manutenção e o que acontece é que o túnel da ensecadeira está entulhado. Estamos a observar que a cada dois anos, nós verificamos a ocorrência de uma cheia, o que deveria acontecer apenas a cada 100 anos “, explicou o técnico.

De acordo com o especialista, após a construção das ensecadeiras, o ritmo de degradação das gravuras rupestres do Côa foi acelerado 50 vezes, para além do tempo normal.

As obras da Barragem de Foz Côa foram suspensas em 1996, devido à descoberta de um notável de arte rupestre, tendo sido criado o Parque Arqueológico do Vale do Côa, e a sua inscrição na lista do Património Mundial da Unesco, em 1998.

Para os promotores deste projeto, as duas ensecadeiras que foram construídas provisoriamente continuam a “obstaculizar o fluir do rio Côa”, tendo-se convertido em barreiras obsoletas com importantes impactos negativos ambientais, ecológicos, culturais e económicos, incluindo impactos na conservação e preservação das gravuras.

A colaboração entre a APA, a Rewilding Portugal e a Fundação Côa Parque vai permitir a realização de estudos de especialidade para analisar a viabilidade técnica, ambiental, ecológica e social da remoção das Ensecadeiras de Foz Côa.

Este projeto é financiado pelo Programa Europeu Open Rivers, uma organização que financia projetos dedicados ao restauro de rios, e é realizado em parceira com a Fundação Côa Parque, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e a Rewilding Europe, com o apoio técnico de empresa de consultoria na área da engenharia.


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