Desenho, música e gravuras do Côa levam a documentário sobre origem da arte

Este trabalho está gravado em três episódios documentais que usam a ‘metáfora’ do “Álbum da Família Humana” como lema, uma vez que aqui a história da arte é pensada como um Álbum de Família

O ilustrador António Jorge Gonçalves e o pianista Filipe Raposo juntaram-se num novo projeto à procura de respostas sobre a “Arte do Côa”, que originou um documentário a apresentar no Museu do Côa e a disponibilizar ‘online’, na quinta-feira.

Com o projeto dedicado a “O nascimento da arte”, António Jorge Gonçalves e o pianista Filipe Raposo partiram das gravuras paleolíticas do vale do Côa, trocaram ideias com especialistas de diferentes áreas, e levantaram possibilidades para as razões que, desde sempre, “levam a espécie humana a realizar obras de arte”.

Este trabalho está gravado em três episódios documentais que usam a ‘metáfora’ do “Álbum da Família Humana” como lema, uma vez que aqui a história da arte é pensada como um Álbum de Família, com os seus retratos, histórias e lugares, desde há 30 mil anos até aos nossos dias.

“O Vale do Côa é um sítio privilegiado para podermos entender quem eram as pessoas que fizeram estas gravuras. Tentar perceber a partir dos arqueólogos, sociólogos e antropólogos qual seria a necessidade humana que estaria por trás de começar a construir essas imagens [gravuras rupestres]”, disse à agência Lusa António Jorge Gonçalves.

Usando duas das ‘ferramentas tecnológicas’ mais marcantes da história – o computador e o piano -, os dois artistas têm desenvolvido, nos últimos anos, um ‘diálogo íntimo’ entre o desenho em tempo real e a música, em projetos como “4 mãos”, “concerto para caneta digital e piano”.

Desta vez, são as gravuras rupestres e aqueles que as criaram que os movem.

“Nós partimos de uma relação que fomos construindo com o Museu do Côa e com as gravuras do Paleolítico Superior, para procurar respostas para a razão de os humanos terem feito estas gravuras. Há uma certeza, pelo menos desde o Paleolítico, de que nós, humanos, temos a necessidade de criar obras de arte. E são obras que não têm uma função prática, pois não servem para caçar ou para alimentar. Porque é que foram feitas?”, questionam os autores deste trabalho.

As perguntas que são colocadas pelos autores deste “Álbum da Família Humana” são simples: “Quando começámos a criar obras de arte? O que sabemos dos humanos que desenharam as gravuras rupestres? Qual a necessidade que os levou a criar?”.

Os artistas procuram pistas para respostas a estas questões, numa perspetiva de descendência “destas pessoas que faziam este tipo de arte, como as gravuras do Côa”.

“Também nós continuamos a fazer gravuras sonoras e visuais, inscritas nas paredes de hoje, que são os ecrãs ou os teatros, e a tentar perceber se tudo isto é feito pelas mesmas razões dos homens de há cerca de 30 mil anos”, vincaram os dois artistas.

“Nos nossos espetáculos temos construído – em ambiente de improvisação e espontaneidade – um tipo de gramática que engloba tempo, estrutura, textura, abstração, evocação e emoção”, explicou à Lusa António Jorge Gonçalves.

Este projeto, “O Nascimento da Arte”, leva assim António Jorge Gonçalves e Filipe Raposo a lançarem-se no estudo dos vestígios ancestrais, “espalhados pelo mundo dos primeiros sinais” da presença humana no universo, como são as pinturas rupestres.


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