A recém-empossada presidente da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho, vai manter toda a equipa diretiva, dando continuidade aos projetos já iniciados, e prevê incrementar outras iniciativas com uma marca pessoal, ao longo da comissão de serviço.
Aida Carvalho, de 47 anos, é docente no Instituto Politécnico de Bragança (IPB), tomou posse no dia 01 de março, como presidente do Conselho Diretivo da Fundação Côa Parque (FCP), a entidade que gere o Museu e o Parque Arqueológico do Vale do Côa.
A responsável foi nomeada pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, após a morte por doença súbita do anterior presidente da Fundação, Bruno Navarro, que ocupou o cargo durante três anos.
Em entrevista à agência Lusa, Aida Carvalho disse que o desafio do momento é estudar a forma da reabertura do Museu do Côa (MC), que se espera para breve, entre outros projetos de continuidade e de cunho pessoal, como uma exposição de João Cutileiro, escultor que morreu no passado dia 05 de janeiro.
“Estamos a trabalhar para que a reabertura do MC seja feita com uma exposição de João Cutileiro, que será a primeira após a sua morte. Com esta iniciativa esperamos ter uma reabertura em grande do espaço museológico para que os visitantes sintam a necessidade de visitar ou revisitar o Museu, já que será o ponto de encontro para todos aqueles que queiram visitar o território”, disse a responsável à Lusa.
Para Aida Carvalho, é também “urgente” a renovação da frota de viaturas todo o terreno, área em que a nova responsável pela FCP quer deixar o seu cunho pessoal e contribuir para “a pegada ecológica”, com aquisição de viaturas movidas a energia fotovoltaica.
“A renovação da frota da FCP é, efetivamente, urgente, podendo-se mesmo sobrepor a outros projetos que já vêm de trás. Nós temos de implementar no Vale do Côa um conjunto de boas práticas ambientais, e todos os nossos colaboradores estão sensíveis a questão. Esta será a minha aposta pessoal e a marca que pretendo deixar no Côa”, vincou Aida Carvalho.
O programa de visitas ao Parque Arqueológico do Vale do Côa é outras das apostas de continuidade, já que, em 2020, e durante os meses de verão, a Fundação Cão Parque “teve um desempenho excecional”
“Se no verão de 2020 houve uma grande afluência de visitantes, este ano queremos mesmo aumentar o [seu] número. Neste sentido estamos a fazer arranjos nos núcleos rupestres com o arranjo dos caminhos de acesso e a recuperação de estruturas, de forma a criar melhores condições para quem visitar a Arte do Côa”, indicou a nova presidente da FCP.
Outra das novidades adiantadas em entrevista à Lusa é a chegada, em maio, ao rio Côa, de uma embarcação movida a energia fotovoltaica, que permitirá aos visitantes conhecer as gravuras que se encontram nas rochas de xisto, ao longo deste curso de água.
A FCP está igualmente a trabalhar na abertura de mais dois novos espaços de visita, que se juntam aos núcleos já conhecidos como a Canada do Inferno, Penascosa ou a Ribeira de Piscos.
“Pretendemos que, no próximo verão, estes novos núcleos sejam visitáveis a bordo da nova embarcação movida a energia, os quais estão localizados nas margens do rio Côa, percursos que serão depois complementados com passeios pedestres” concretizou Aida Carvalho.
Outra das apostas da nova responsável é a implantação, dentro do prazo de 18 meses, do Programa Especial do Parque Arqueológico (PEPA) do Vale do Côa, que tem por objetivo ser um instrumento de trabalho para a gestão da arte rupestre, da região, tida como dos um dos mais importantes achados arqueológicos do paleolítico superior. O PEPA foi tornado público em dezembro de 2020.
“Temos 18 meses para [aplicar] o PEPA e estamos a reunir esforços e a trabalhar com toda a força para implementar este plano dentro do prazo previsto por lei. E com certeza que vamos conseguir”, afirmou Aida Carvalho.
O PEPA vai permitir ordenar e identificar o maior conjunto conhecido de arte paleolítica ao ar livre, projetando a nível mundial o nome de uma região com um vasto património cultural e natural, e marcando ainda uma nova atitude das instituições e das populações na preservação do património enquanto base fundamental da identidade dos territórios, do exercício da cidadania e da coesão social.
Segundo Aida Carvalho, é importante resolver a questão da “propriedade” dentro do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC).
Aida Carvalho disse ainda que a visita do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, em 30 de julho do ano passado, veio dar nova visibilidade mundial ao Vale do Côa e, como consequência, trouxe um aumento de responsabilidades para a preservação e divulgação da Arte do Côa.
Há 25 anos, Aida Carvalho foi guia intérprete no PAVC. Hoje a responsável garante que estes elementos da estrutura, os guias, são um elo de ligação “muito importante” entre quem visita o território e a divulgação das gravuras do Côa.
Os sítios de arte rupestre do Vale do Côa, distribuídos por mais de 80 núcleos, numa área aproximada de 200 quilómetros quadrados, em redor do curso do rio, quando se aproxima da confluência com o Douro, localizam-se maioritariamente no município de Vila Nova de Foz Côa, estendendo-se ainda por uma área que abrange também os municípios vizinhos de Figueira de Castelo Rodrigo, Meda e Pinhel.
Como uma imensa galeria ao ar livre, o Vale do Côa apresenta mais de mil rochas com manifestações rupestres, identificadas em mais de 80 sítios distintos, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 25.000 anos.
A arte rupestre do Côa, inscrita na Lista do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), desde 1998, foi uma das mais importantes descobertas arqueológicas do Paleolítico superior, em finais do século XX, em toda a Europa.