Arte rupestre no Parque Natural da Serra da Estrela apresentada amanhã

Serra da Estrela

Achados de arte rupestre localizados no Parque Natural da Serra da Estrela vão ser apresentados amanhã, em Vide, concelho de Seia, numa conferência que aborda 16 anos de investigação arqueológica nas bacias dos rios Ceira e Alva.

“Na área do Parque Natural da Serra da Estrela ainda não tinham sido detetados sítios de arte rupestre, apesar de haver centenas de sítios nas imediações, sobretudo nas freguesias de Vide e Teixeira (Seia), e outros sítios em várias freguesias do concelho da Covilhã”, disse hoje à agência Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA) e orador na conferência. Nuno Ribeiro referiu que os sítios, localizados próximo da aldeia de Cabeça, numa área florestal, “eram conhecidos por alguns pastores que ali passavam com o gado” e ”diziam que eram pegadas dos mouros”. “Eles próprios, pastores, fizeram algumas das gravuras que se observam, como alguns podomorfos [pés] e alguns motivos cruciformes, apresentando-se quase sempre como gravuras sobrepostas a outras preexistentes usando-se o método de martelagem através de um percutor duro”, adiantou. Segundo o investigador em pré-história, trata-se de “cerca de quatro lajes planas de xisto com centenas de gravuras como círculos, motivos tipo ‘ferraduras’, covinhas, cruciformes e que se situam próximo de uma mina antiga”, de onde se extraíam metais, e junto de um caminho ancestral ligado à transumância. “O estado de conservação das lajes é bastante bom”, acrescentou Nuno Ribeiro, admitindo que, “pelo que já está inventariado em termos de património arqueológico pelo Centro de Interpretação de Arte Rupestre de Vide”, fundado em 2008 pela associação, “estes sítios confirmam que em toda a área da serra da Estrela deverão existir sítios de arte rupestre e uma ocupação muito mais antiga”. Estes sítios de arte rupestre foram referenciados na tese de doutoramento de Nuno Ribeiro, intitulada “Manifestações de Arte Rupestre nas bacias hidrográficas dos rios Ceira, Alva e áreas de fronteira com as bacias hidrográficas dos rios Zêzere e rio Unhais”, que analisou mais de 694 sítios de arte rupestre.

Os sítios que vão ser objeto de apresentação na quarta-feira, no Clube Desportivo de Vide, a partir das 19:00, foram estudados no âmbito da tese de licenciatura de Luís Miguel Correia numa universidade inglesa, tendo o trabalho de campo sido realizado o ano passado.

“Toda esta arte rupestre com mais de 1.000 sítios de arte rupestre é uma das maiores concentrações de arte rupestre da Europa e está esquecida pelo poder local que, em primeiro lugar, deveria acautelar a sua preservação, apoiando o seu estudo para que se possam desenvolver mais circuitos arqueológicos e turísticos e utilização deste património como uma alavanca do desenvolvimento regional, numa região carecida de atividade económica”, considerou o presidente da APIA.


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