À descoberta da Serra... com o Geocaching

Em tempo de férias, vamos conhecer uma atividade de ar livre que pode ser praticada na Serra da Estrela.

O Geocaching “é uma forma de partilhar aventuras e locais que muitas vezes passam ao lado do turista típico.” Também conhecido por caça ao tesouro moderna, este hobby vem conquistando cada vez mais adeptos.
Ainda era de madrugada quando vários geocachers se dirigiram para o ponto mais alto de Portugal continental. Nessa manhã, a Serra da Estrela estava fria e ventosa, mas nada impediu os cerca de cinquenta geocachers se reunirem por uma boa causa: o “CITO nas alturas, o mais alto do país”. Este é um tipo de evento (CITO, sigla correspondente a Cache In Trash Out, que significa Cache Dentro Lixo Fora) organizado com o intuito de limpar um determinado local, recolhendo o lixo que a população vai deixando no chão. Na Serra da Estrela, o lixo vai acumulando em qualquer recanto onde, com o vento, este se arrasta até assentar numa zona mais abrigada. Na sua maioria tratam-se de embalagens de alimentos que os turistas vão deixando cair, tais como garrafas de plástico e de vidro, ou latas de refrigerantes, mas também se encontram alguns objetos perdidos, tais como acessórios de máquinas fotográficas ou de cabelo.

Na comunidade geocachiana, Sérgio Reis e Sofia Silva são conhecidos por Sphinx_n_Sophie e foram uns dos responsáveis pelo CITO que decorreu no passado 27 de abril. A ideia do evento surgiu numa conversa entre um grupo de amigos. O objetivo seria “contribuir de alguma forma para minimizar as marcas e os danos provocados pelos turistas”, principalmente no inverno. Por isso, a escolha óbvia foi a zona da Torre: “É uma área muito maltratada pela falta de respeito de quem a visita”, havendo quem abandone “os materiais usados nas típicas brincadeiras na neve”, acabando estes por se juntar a outros tipos de lixos provenientes do centro comercial, afirma Sérgio. Apesar disso, “foi visível o ar de espanto de algumas pessoas que por lá passeavam, ao verem um grupo bastante grande a recolher lixo”, comenta o geocacher. A consciencialização a nível da responsabilidade ambiental é importante para que as pessoas coloquem o lixo nos contentores.

David Caetano, do Fundão, que também é conhecido por Katano na comunidade geocachiana, decidiu participar neste CITO para contribuir para a limpeza de um local que muito preza. O resultado foi positivo pois “os participantes foram estóicos e recolheram dezenas de quilos de lixo”, conta David, lixo esse que foi recolhido no dia seguinte pela Câmara Municipal de Seia. “Há agora um cantinho da zona da Torre que está limpinho e, para mim, a sensação é extremamente gratificante”, acrescenta o geocacher. Para Sérgio, o que é necessário é “manter uma atitude de consciencialização não apenas com palavras mas principalmente com ações”.

Mas o Geocaching não consiste apenas em eventos. Embora o CITO seja a “expressão mais pura da componente de consciencialização para a preservação do meio ambiente deste passatempo”, como descreve David, é importante não esquecer o Geocaching na sua forma mais tradicional.

Este hobby consiste então em esconder e, principalmente, encontrar containers, que são geralmente caixas plásticas herméticas (eg tupperwares) em locais de interesse histórico ou paisagístico. Qualquer geocacher pode fazê-lo, desde que respeite certas condições, tal como não danificar o meio ambiente. Para esconder uma cache, basta tirar as coordenadas da localização do container e só depois criar a página online da mesma onde está descrito o motivo da colocação da mesma, a descrição do acesso ao container, entre outras informações de teor prático. Com a ajuda de um GPS, os outros geocachers poderão encontrar o contentor que contém um livro de registos e por vezes objetos para troca. Uma vez encontrado, cada geocacher regista a sua visita na página online da cache em questão, dando o seu parecer sobre a mesma e partilhando assim a sua experiência com a comunidade.

A Serra da Estrela, tal como em quase todos os pontos de interesse do país, é um local com inúmeros tesouros escondidos – mais de 400 – que proporcionam igual número de aventuras e descobertas aos praticantes de Geocaching.

Sérgio e Sofia, ambos residentes em Seia, são geocachers desde final de outubro de 2010. Desde aí, muitos foram os quilómetros que percorreram a pé na Serra da Estrela, percursos que lhes permitiram conhecer “locais magníficos e segredos de que só alguns habitantes locais têm conhecimento”, tais como “lagoas escondidas”. Como Sérgio costuma dizer, são “locais mágicos que a Estrela esconde de quem só a conhece da estrada”. Para esta dupla, o Geocaching “é uma forma de partilhar aventuras e locais que muitas vezes passam ao lado do turista típico”.

Para António Cruz de São Pedro do Sul, que pratica este hobby desde 2010 com a sua companheira Valente sob o nick de Valente Cruz, “o Geocaching é uma mais-valia para o turismo na Serra da Estrela, dado o crescimento exponencial que este passatempo tem tido”. O Geocaching possibilitou-lhes a descoberta de muitos locais e percursos na Serra que de outra forma muito dificilmente teriam conhecido.

Para os turistas típicos, vários são os locais que passam despercebidos. O Covão da Ametade é um desses locais que é descrito na página da sua cache como um “lugar paradisíaco no coração da Serra da Estrela”. Trata-se de uma pequena planície junto à nascente do rio Zêzere e aos pés dos Cântaros Raso, Magro e Gordo. Os cântaros são conhecidos entre a comunidade geocachiana por proporcionarem desafios a nível físico ao longo das suas subidas. Um dos motivos que os levam a tal aventura é a vista panorâmica que só os corajosos que alcançam o cume dessas fragas têm a oportunidade de contemplar. O Raso é o de mais fácil acesso e o que possui um melhor panorama, facultando uma vista sobre a Barragem do Viriato, o Vale Glaciar, o Covão de Ametade e os restantes cântaros. O Magro é o mais visível da estrada e o Gordo é o que exige mais tempo e melhor preparação física.

Perto da Lagoa Comprida, uma das paragens quase obrigatórias para quem visita a Serra, existe um percurso que leva a uma vista panorâmica sobre a Barragem do Covão do Forno, a Barragem do Covão do Curral, a Lagoa Seca e a própria Lagoa Comprida. Mais à frente, existe a Lagoa do Covão dos Conchos, desconhecida por quase toda a gente, que desvia águas para a Lagoa Comprida.

Do lado de Manteigas encontra-se o Poço do Inferno, um dos ex-libris da Serra da Estrela. Afastado da estrada principal que liga Manteigas à Torre, o Poço do Inferno consiste numa cascata com cerca de dez metros de altura.

O Geocaching existe desde 2000, tendo surgido no estado de Oregon, nos Estados Unidos da América. Em Portugal, este passatempo já conta com mais de 36 mil adeptos e mais de 39 mil caches escondidas.

Para os Sphinx_n_Sophie, o Geocaching também é uma mais-valia para o turismo da Serra da Estrela: “Há pouco tempo atrás, o turismo na Serra baseava-se na neve, mas as pessoas começam pouco a pouco a perceber que a Serra da Estrela tem muito mais para mostrar, sejam paisagens magníficas, lagoas recônditas, costumes ou tradições das suas gentes – o Geocaching permite descobrir tudo isso”.


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