Desde sempre que a curiosidade foi um dos maiores emblemas do homem, levando-o, não só a estudar a natureza e a “criação”, como também a alcançar, de uma forma ininterrupta, o desenvolvimento humano. No contemporâneo período de aperfeiçoamento, é seguramente proveitoso afirmar que o homem tem ao seu dispor “expedientes” tecnológicos ilimitados.
A nova cultura está alicerçada no império tecnológico e comunicacional. Por esse motivo foram emergindo modernas feições na execução de acções ilegais e ilegítimas. Delitos que outrora eram consumados com armas, passaram a dispensar a violência e a presença dos transgressores nos locais dos crimes. As distâncias já não patenteiam “portagens”. Os meios de comunicação social facultaram aos seres humanos a salvaguarda e consolidação da sua cultura, bem como a disseminação da mesma. Os mecanismos informáticos, nos quais obviamente se inscreve a Internet, podem ser contemplados e estudados como a reestruturação e a reinvenção da imprensa.
Na Internet existe um “mundo” de informações e de conhecimentos que já faz parte do nosso quotidiano, assumindo-se mesmo como indispensável à nossa vida profissional. Por exemplo, a informatização de certos procedimentos em algumas instituições públicas é sinónimo de celeridade e de eficácia, assim como de divulgação uniforme e democrata da informação. Todavia, e tal como em tudo na vida, não existem somente vantagens quando se utiliza a Internet, uma vez que a mesma também “usufrui” de uma ilharga umbrosa, sombria e enigmática que não se anuncia nas publicidades e propagandas da televisão, da rádio, dos jornais e das revistas.
A Internet também pode ser considerada como um universo indistinto, promíscuo e adulterado, no qual é possível descobrir todos os arquétipos de negócio e comportamentos ilícitos, tais como: sexo “jactancioso” com crianças e jovens; racismo; uso abusivo de imagens; desprezo pela vida humana; vilipêndio pela pluralidade religiosa; apologia ao crime; total banalização do sexo; defesa desmedida das mais incongruentes e perversas ideologias; comércio de mulheres; e ensinamentos para a materialização de uma descomunal diversidade de burlas.
A “rede” universal consegue disseminar por todo o mundo, num curto período de tempo, imagens, textos, sons e informações, dominando e algemando, deste modo, todos os limites temporais e geográficos possíveis e imaginários. Pelo facto de a Internet ser um instrumento de comunicação sem fronteiras, a difusão de informações impudicas e ilícitas também se transformou num costume. Será que a Internet não é uma prodigiosa ferramenta para o crime? Será que os crimes digitais não têm um “crescimento” análogo ao das novas tecnologias?
Através do computador temos a possibilidade de assumir muitos rostos; esconder a idade; executar várias funções; “inovar” a estirpe; mudar a nossa “natureza”; alterar a sonância da nossa voz; metamorfosear o humor e o estado de espírito; adoptar variadíssimas identidades; e escolher comodamente as nossas acções. Será que as redes digitais não ameaçam a existência, a identidade, a paridade, a respeitabilidade, a qualidade de vida e a liberdade?
A maior arduidade na luta contra as fraudes que desfilam nas fragrâncias electrónicas surge quando as mesmas são realizadas por profissionais que agasalham portentosas erudições técnicas. Estes “prodígios” não costumam deixar “pegadas”, uma vez que empregam um conjunto de paradigmas, habilidades, técnicas e conhecimentos que embaraçam a investigação judicial.
Os mecanismos de segurança são os que ainda, embora de uma forma ténue, vão salvaguardando a sociedade hodierna. O Estado deve acarinhar uma “memória” legislativa preventiva e bastante diligente capaz de promover e efectivar a defesa dos cidadãos, caso contrário o crime digital actuará sempre de forma desprendida e libertina.