A autenticidade da infância em situação de perigo e vulnerabilidade ainda permanece à escala mundial, um repto que tem de ser devidamente enfrentado e amputado pela sociedade contemporânea.

Alguns factores que promovem e conduzem à institucionalização das crianças são: o abandono; os contextos de negligência física e psicológica; a exploração do trabalho infantil; a inabilidade socioeducativa; os comportamentos imersos em violência física e psicológica; os índices elevados de alcoolismo; a toxicodependência; a prostituição de menores; as enfermidades do foro psicológico; as doenças físicas; a pobreza e a ausência de configurações habitacionais; a detenção dos pais; e o falecimento dos progenitores. Será que conhecer o emaranhado universo da criança institucionalizada não deve constituir um propósito global? Será que não é extremamente difícil não sofrer com o padecimento das crianças?

Estas crianças e jovens também se sentem atemorizadas, desgostosas, descontentes e irritadas, condições que patenteiam a profunda antinomia em que navegam, ou seja entre a imagem idealizada que constroem do encadeamento familiar e a realidade pardacenta com que têm de comungar. Será que o significado de “família ideal” para as crianças institucionalizadas difere muito do significado aduzido pelas crianças encaixadas em ambientes familiares naturais? Será que “viver juntos” não constitui o raciocínio principal das crianças para a definição de uma família benigna e estruturada? Será que o estereótipo tradicional de família nuclear ainda está muito presente na sociedade contemporânea? Será que podemos negar a influência do discurso dominante na nossa sociedade? Será que o mesmo não nos indica incessantemente como deve ser constituída uma família ideal? Será que as crianças consideram e degustam as disposições monoparentais como sendo uma família? Será que a noção que as crianças têm de família consegue ser autónoma da estrutura das suas famílias de origem?
A adopção integra um aglomerado de projectos de vida para algumas das crianças que se encontram institucionalizadas. Talvez uma das soluções de futuro para as crianças institucionalizadas seja o acolhimento familiar que tem vindo progressivamente a substituir o acolhimento institucional em múltiplos Países europeus. Quais são as principais diferenças entre as famílias de acolhimento e as famílias adoptivas?

É seguramente oportuno referir que a institucionalização não se configura como uma autêntica condição de família para as crianças, mesmo que os índices de esforço e empenho sejam robustos e capitalizados na tentativa de metamorfosear lares e centros de acolhimento em casas e ambientes familiares.

O abandono aquartela inúmeros vértices umbrosos. Infelizmente em algumas instituições também existe esse abandono de forma a evitar a promoção do afecto. É desconfortável saber que em alguns casos as instituições, com características para serem provisórias, passam a constituir, quando a adopção não se concretiza, a única e derradeira possibilidade de um volumoso número de crianças. Existem situações que têm forçosamente de ser alvo de investigações persistentes, homogéneas e incessantes. Essas investigações devem fazer germinar políticas concretas, exequíveis e competentes de protecção à infância, garantindo e impulsionando ininterruptamente a dignidade da criança. Algumas condições que merecem ser pigmentadas com estudos, análises e investigações rigorosas são: as políticas públicas de apoio à família de origem; o contexto histórico das crianças; o abandono das crianças por famílias supostamente desapegadas; a pertinência dos vínculos afectivos; a própria institucionalização; a forma como se trabalha o processo de adopção; as correspondências que devem ser conservadas; a importância da formação dos recursos humanos que trabalham directamente com as crianças; a dissonância ou tendenciosidade nas deliberações de interrupção das visitas; as fracturas das ligações no âmago da instituição; as conexões edificadas na superfície institucional; os indicadores de rotatividade de funcionários na instituição; as dificuldades quotidianas no desenvolvimento ou na aprendizagem das crianças; e o motivo pelo qual o processo de adopção possibilita a devolução da criança por alegado mau comportamento. Será que alguns profissionais não têm extremas dificuldades em realmente cumprirem com a sua função de educadores? Será que todos os profissionais conseguem educar? Quem avalia essa conjuntura?