As condutas colectivas de geração, as representações e as metáforas emblemáticas dos valores dos adolescentes são boa parte das vezes desconhecidas para os cidadãos. Será que não é exactamente este desconhecimento e a posterior denegação que dilatam o hiato entre as gerações?
Aos critérios globais que os eliminam, amputam e desconsideram em determinadas superfícies, os adolescentes redargúem com telas de desapreço, considerando a erudição de alguns adultos como simples imbecilidades.
Os adultos que procuram interpretar os seus valores próprios e que, sempre longe da ostentação e da magnificência, se mantenham a par da cultura dos jovens e a contemplem como normal acabam por ter mais oportunidades de transmitir a esta geração inúmeras doses de agnição, competência e aptidão, bem como um conjunto de valores fundamentais que na verdade cobrem e pigmentam de sentido esses mesmos saberes e habilidades. Será que nas intervenções junto da população mais nova não existe a indispensabilidade de procurar o adolescente concreto, ou seja o adolescente no seu verdadeiro movimento? Será que os estudos e as análises sobre as representações sociais não são elementares? Será que não é a partir das representações sociais que os indivíduos se orientam na atmosfera social, física e ideativa? Será que no sistema de preparação e elaboração da representação não há preponderância do social sobre o individual? Será que não tem mais influência o pensamento social do que o individual pelo facto de ser edificado colectivamente? Será que as representações sociais não norteiam os comportamentos e a própria comunicação social? Será que as mesmas não determinam uma realidade sociocultural análoga?
As persistentes ondulações de humor e de ânimo acabam por ser um recurso defensivo que se institui nas atitudes dos jovens, com o objectivo de apaziguar os seus antagonismos internos e, consequentemente, de auxiliar nas situações de perda. Será que todos os comportamentos dos adolescentes exprimem o estabelecimento de índices de morbidade?
Os adolescentes experimentam-se, e essa configuração de se experimentar vem habitualmente escoltada de infracções e desobediências que na perspectiva dos progenitores sugere que eles têm filhos com vários dilemas, perturbações, “enfermidades” e problemas. Quando os adolescentes evidenciam indícios de depressão, particularmente no que toca às exteriorizações dos seus afectos e emoções, como a melancolia e o veto, podem estar a necessitar de uma espécie de separação com o mundo. Por vezes, o adolescente necessita de elaborar um mapa das contrariedades que aconchega em descobrir as referências simbólicas que lajeiem um caminho para si mesmo e para pigmentar as suas próprias selecções e conveniências. As depressões podem estar associadas não só a uma dor necessária e que deve ser ultrapassada, como também a uma perda irremediável que recai sobre a própria auto-estima, a auto-estima acabrunhada. Na verdade, o universo dos adultos destapa o quanto é quebradiço o compromisso de que o fim da infância é um requisito para um lugar social reconhecido. Será que essa passagem não coloca os jovens num pardacento tempo de espera, no qual os mesmos são obrigados a concretizar a reedificação dos ideais perdidos?
Os adolescentes controvertem as normas da família, da escola e da sociedade, numa cristalina revelação de que nem todos os modelos e sugestões que os pais transmitem são proveitosos. Neste ponto de vista, não existem forçosamente obstáculos entre pais e filhos, mas sim conspecções diferentes e, supostamente, complementares.
Na adolescência há um desenvolvimento físico intenso, com robustas transfigurações internas e externas. As metamorfoses na superfície intelectual e afectiva também são vigorosas e amiudadas. O conjunto de amigos tem a propensão para aumentar em importância e interesse, e a inclinação para a imitação ganha intensidade. A avidez é incomensurável, o entendimento de fórmulas enigmáticas é cada vez maior, a sociabilidade desfila intensamente, contudo a textura da insegurança também está bastante presente. Aos períodos de tranquilidade sucedem-se outros de enorme debilidade. Na verdade, os jovens sentem-se eternos, possantes e competentes para todos os ramos que ornamentam a sociedade.
Vivemos numa sociedade onde permanentemente os cidadãos precisam de fazer parte de um grupo e de participar num qualquer espectáculo. A publicidade de bebidas alcoólicas tem vindo a conquistar inúmeros jovens, despreocupados com um futuro que lhes parece longínquo. A utilização de drogas legais acaba por fazer parte do panorama da nossa confraternização, bem como do quotidiano cultural das pessoas. Em alguns patamares, a sociedade agasalha um conceito muito positivo sobre as bebidas alcoólicas e a publicidade explora essa tendência, coligando-a ao gáudio e à voluptuosidade. Vulgarmente as publicidades relacionadas com as bebidas alcoólicas apresentam mulheres lindas, saudáveis, bem-sucedidas e de curvas magníficas. Esta “coloração” acaba por sugerir aos jovens êxito. Torna-se relevante apreciar as escolhas e análises que os adolescentes têm que efectuar no processo de crescimento, devendo sempre distinguir aquilo que é apropriado e desapropriado.
O império das indústrias de bebidas alcoólicas concede às grandes potências políticas e económicas, ou aos interesses particulares, um autêntico poder cultural, social e político, especialmente sobre as comunidades que não foram adubadas através de uma educação que hierarquiza, interpreta e critica as informações recebidas. Portanto, estes monopólios, de modo constante e em inúmeras circunstâncias com grandíssima miséria de recheios, amamentam pujantes mecanismos de erosão das especificidades culturais. Esta desafinada cultura mundial acarreta orgânicas tácitas, podendo criar naqueles que sofrem esse tipo de impactos um sentimento de latrocínio e de perda de identidade. Será que as publicidades referentes às bebidas alcoólicas não são criminosas e preocupantes? Será que as mesmas não sugerem valores que na realidade existem, mas não possuem?
O propósito capital da comunicação é satisfazer e compensar necessidades primárias do quotidiano entre os indivíduos. A eficiência da doutrina de comunicações pode ser comensurada quando as suas necessidades e as necessidades daqueles com os quais ela está embrulhada são saciadas. Será que a comunicação não serve para, de algum modo, admoestar as informações que as pessoas têm de si mesmas? Será que a comunicação não deve orientar as nossas condutas?
Os progressos na tecnologia foram responsáveis pela entrada da humanidade na época da comunicação universal, revogando, de certa forma, as diferenças e as fendas existentes. As informações estão disponíveis em qualquer parte do mundo, em algumas ocasiões em tempo real e nas regiões mais escondidas. A interactividade possibilita a emissão, e recepção, de informação e conhecimento, assim como conversar, argumentar, discutir e difundir sem a existência de limites espaciais ou temporais.
A televisão, o cinema, a rádio, os jornais e as revistas edificam fenómenos paralelos e antinómicos ao conceber um “temperamento” universal. Será que por vezes os mesmos não alteram o sistema existencial?
Quando os cidadãos são abrangidos de forma subliminar pelas “prédicas” dos meios de comunicação ou quando deambulam no interior do pensamento os chavões oriundos desses sistemas acaba por suceder uma revolução em todo o decurso intelectivo. A sociedade devia facultar aos cidadãos instrumentos que os coadjuvassem a desenvolver um “correcto” sentido de identidade que aniquilasse os padrões de descontentamento e letargia. A sociedade aquartela a responsabilidade de brindar os cidadãos com conjunções para aguilhoar e fomentar a criatividade e a labutação útil. Será que não é fundamental apresentar uma educação que aprecie a dignidade humana?
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