O presidente da Câmara de Viseu admitiu ontem que se o Governo não assegurar que a futura empresa intermunicipal de abastecimento de água e saneamento receberá 50 milhões de euros de apoios comunitários esta poderá não ser constituída.
“Com menos de 50 milhões de euros de garantias de apoios comunitários para a empresa intermunicipal não conseguimos avançar, nem ela é viável. Porque se estivermos a assumir todo este investimento numa perspetiva de um empréstimo de médio prazo, isso é ruinoso para os municípios”, disse Almeida Henriques (PSD) aos jornalistas, no final da reunião de Câmara.
Em setembro de 2017, com o objetivo de encontrar soluções para o problema da escassez da água sentida na região, os municípios de Viseu, Mangualde, Nelas, Penalva do Castelo, Sátão, São Pedro do Sul, Vila Nova de Paiva e Vouzela celebraram um acordo para a constituição de uma empresa intermunicipal.
Almeida Henriques explicou que estão a ser concluídos os estudos necessários para constituir a empresa, mas que, nas conversas que tem havido com o Governo, a expectativa destes oito municípios “está a ser um pouco gorada”.
“Saímos da última reunião que tivemos com o Governo muito dececionados. De cada vez que falávamos num investimento, diziam ‘já não há dinheiro’ no ciclo urbano da água”, contou.
O autarca e antigo secretário de Estado da Economia lembrou que “o Governo está a fazer neste momento a reprogramação dos fundos comunitários” e poderia “passar 300/400 milhões do fundo de coesão para as questões ambientais”, ao invés de apostar no Metro de Lisboa e do Porto.
Na sua opinião, “o período de seca que Portugal viveu nos últimos anos justificaria isso”.
Almeida Henriques lembrou que, no ano passado, aquando a situação de seca que afetou a região, obrigando ao transporte de água de camião, todos os dias recebia promessas de que seriam arranjadas soluções para evitar que o mesmo volte a acontecer.
“Quando chega à hora da verdade, querem-nos empurrar para os braços das Águas de Portugal. Mas porquê? Nós queremos ter um regime autónomo. Conseguimos garantir qualidade às pessoas e preço”, realçou.
O autarca social-democrata disse que a negociação com o Governo vai continuar e fez votos para que impere o bom senso e que os oito municípios, unidos numa empresa, consigam fazer as obras necessárias para garantir o abastecimento de água.
“Queremos avançar com a empresa intermunicipal. Da mesma maneira que o Governo iria apoiar as Águas de Portugal para fazer os investimentos, que apoie agora os municípios”, exortou.
Almeida Henriques avisou que a atual Barragem de Fagilde “tem um prazo de validade que daqui a sete oito anos se esgota”.
“Temos neste momento sete/oito anos para construir a barragem de Fagilde, para substituir a existente. Só aí estamos a falar de 14 a 16 milhões de euros. Mas temos, ao mesmo tempo, que fazer a conduta de ligação ou ao Balsemão ou a Trancoso, porque são as duas alternativas mais próximas. Cada uma dessas condutas custa cerca de dez milhões de euros”, contabilizou.
Segundo o autarca, “estes investimentos têm que ser obrigatoriamente feitos, só pensando em Viseu, Penalva, Mangualde e Nelas”.
“Se pensarmos também nos outros quatro municípios que viriam a aderir a este sistema, há também mais alguns investimentos que é preciso fazer, no sentido de assegurar o abastecimento de água”, acrescentou.