Um projeto europeu para a conservação do lobo ajudou pastores portugueses a coexistir com estes animais, através da instalação de vedações e da integração de cães de proteção, diminuindo em 80% o número de animais afetados.
“Os principais resultados [em Portugal do projeto] foram conhecer melhor a população de lobos” na Guarda e em Castelo Branco e conseguir “ajudar vários criadores de gado, quer através dos cães de gado, que cedemos no âmbito do projeto, quer através das cercas para proteção do gado durante a noite”, explicou hoje à agência Lusa o coordenador nacional, Francisco Fonseca.
O balanço provisório foi apresentado em Lisboa, com a participação da coordenadora internacional do projeto, Valeria Salvatori, de Itália, o outro país que participou na iniciativa europeia.
Portugal participou através do Grupo Lobo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Francisco Fonseca avançou que foi possível mudar as atitudes de algumas pessoas perante o lobo, mas sublinhou que “este é um processo lento” e “não se pode acreditar que só por fazermos este projeto as pessoas vão todas estar a favor do lobo, isso não acontece nem com o lobo nem com outras espécies que causam prejuízos”.
O Projeto Life Med-Wolf, que termina este ano, desenvolveu-se desde setembro de 2012 nos distritos da Guarda e de Castelo Branco, e na província italiana de Grosseto, com o objetivo de “mostrar, de forma prática”, aos pastores e criadores de gado que é possível coexistir com o lobo, explica o coordenador nacional.
Esta iniciativa junta organismos públicos, associações representativas dos agricultores e centros de investigação nos dois países, o que é importante na tarefa de aproximar grupos com interesses aparentemente contrários, como disse à Lusa Valeria Salvatori.
O coordenador português deu um exemplo da forma como os lobos podem contribuir para a economia local. “O lobo pode ser, por exemplo, um meio de atrair turistas”, promovendo a troca de experiências e conhecimentos entre o meio urbano e o meio rural.
Com este projeto, foram apoiados, em Portugal, 19 produtores através da instalação de 34 vedações em Almeida, Pinhel, Guarda e Sabugal, permitindo proteger cerca de 3.000 animais, principalmente bovinos, mas também ovelhas e avestruzes, tendo reduzido em 88,1% o número de ataques.
Foram também doados e integrados em rebanhos 31 cães da raça Serra da Estrela, distribuídos por 16 explorações, uma das quais de burros, nos concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel, Almeida, Guarda e Sabugal, levando à diminuição em 60% no número de animais afetados pelos lobos.
Durante os primeiros dois anos, os criadores que recebem esta ajuda têm apoio, tanto técnico e veterinário, nomeadamente para a adaptação dos cães ao trabalho com os rebanhos, assim como para a sua alimentação.
Apesar de o projeto europeu estar a terminar, a sua ação vai continuar e Francisco Fonseca avançou que já foi obtido apoio para manter os cães de gado nos próximos três anos, alargando a distribuição dos cães a outras áreas do país.
Através da monitorização dos lobos incluída no projeto, foi possível concluir que a população não é estável nos distritos da Guarda e de Castelo Branco.
Em 2016, foram localizados dois prováveis núcleos ou famílias de lobos – alcateias -, não ultrapassando a dezena de animais, o que comparado com os dados dos anos 1970 ou 1980 “não é nada”, acrescentou Francisco Fonseca.