Em declarações à agência Lusa, alguns produtores explicaram que a chuva intensa, numa fase em que a floração das árvores já tinha começado, pode provocar doenças e comprometer o desenvolvimento do fruto. “O problema é que esta humidade pode fazer apodrecer as flores e assim, obviamente, não há condições para a polinização e muito menos para o ‘vingamento'”, detalhou Alberto Mendes, produtor de cereja que tem cerca de 16 hectares. Alberto Mendes recordou que as “árvores estão ensopadas em água” e sublinhou que, “nesta altura”, isso “não é bom” para nenhuma cultura. Em anos “normais”, este produtor chega a colher mais de 100 toneladas de cereja, mas, para este ano, ainda não se atreve a avançar com prognósticos porque, se há duas semanas acreditava que ia ser um “ano excelente”, agora já está mais cético e assume que tudo “depende dos próximos dias”. “Tínhamos as cerejeiras mesmo bonitas e como poucas vezes me recordo de as ver. Mas, nesta vida, já sabemos que é assim, umas vezes é o sol em excesso que as amadurece demais, outras o frio e a chuva, que implicam quebras. Vamos ver como vai ser”, desabafou. Uma opinião que é partilhada por Almério Oliveira, que tem cerca de 37 hectares de cerejeiras e uma produção que pode ultrapassar as 300 toneladas, isto se entretanto as condições climatéricas melhorarem. “Se isto parar nos próximos dias, pode não ser muito grave, mas se continuar assim mais oito dias então a situação complica-se mesmo a sério”, referiu. Os produtores preferem não quantificar eventuais perdas, por enquanto, porque acreditam que a chuva irá parar e têm esperança de que “pelo menos” as variedades mais tardias venham a vingar normalmente. Pedro Catalão, coordenador da Cerfundão – empresa de embalamento e comercialização de cerejas da Cova da Beira – para a qual alguns produtores encaminham parte da produção, também considera que não se deve criar “alarmismos prematuros”. “Os produtores têm-nos dito que a situação é preocupante. Contudo, não podemos criar alarmismos prematuros”, ressalvou. A região da Cova da Beira é uma das principais áreas de produção nacional de cereja, fruto que contribui fortemente para dinamizar a economia local. O Fundão, concelho no qual se encontra a maior área de cerejais, tem realizado uma forte aposta na divulgação e promoção da “Cereja do Fundão” enquanto marca, o que contribuiu para a afirmação do fruto no mercado nacional e internacional, e para que, nos últimos anos, tenham surgido vários subprodutos, como os licores ou o Pastel de Cereja do Fundão, inicialmente designado como pastel de nata de cereja.
Produtores de cereja do Fundão temem efeitos da chuva na produção
Os produtores de cereja do Fundão disseram hoje recear que a chuva das últimas semanas prejudique a produção daquele fruto este ano.