Júlio Ambrósio deu continuidade à atividade familiar e detém na quinta da família, nos arredores da aldeia de Prados, um rebanho com 1.020 ovinos da raça Serra da Estrela, sendo 900 animais adultos e 120 crias.
“Ter o maior efetivo ovino da raça Serra da Estrela de toda a região é, para mim, um motivo de orgulho e de satisfação. Se bem que o meu objetivo nunca foi ser o maior, mas ser o melhor”, disse o produtor pecuário à agência Lusa.
Referiu que o seu rebanho cresceu porque, nos últimos anos, os vizinhos desistiram da atividade: “Esse pessoal foi abalando daqui e nós fomos crescendo, porque o meu pai, quando começou [em 1987], tinha 50 ovelhas e quando as passou para mim [em 2009], tinha 300”.
A exploração pecuária da família Ambrósio, que começou com os pais de Júlio, é mantida com mão de obra familiar. A atividade emprega diariamente Júlio, o irmão (José, 44 anos) e a cunhada (Patrícia, 36 anos). A irmã Conceição, de 47 anos, trabalha num lar de idosos da região, mas apoia quando é necessário. O pai e a mãe vão acompanhando o dia a dia da exploração e “também ajudam, se for caso disso”.
“Aqui o trabalho não falta. É uma vida muito presa, mas fui criada nisto, nunca fiz outra coisa na vida e gosto dos animais”, disse Patrícia Ambrósio à Lusa, na pausa de uma ordenha.
A mulher trabalha na quinta do cunhado desde que casou, está habituada à rotina da exploração pecuária e garante que se sente bem, apesar de “ser uma atividade muito exigente”.
Da exploração administrada por Júlio Ambrósio saem diariamente, em média, 200 litros de leite de ovelha, para a queijaria da Casa Agrícola dos Arais, também no concelho de Celorico da Beira, que produz queijo Serra da Estrela DOP (Denominação de Origem Protegida) e pertence à sua esposa.
“Os meus pais tinham uma queijaria e produziam queijo DOP, mas, em janeiro, deixaram de produzir. Eu já vendia leite há uns 7 ou 8 anos para dois ou três sítios, mas agora só vendo para um e também vendo borregos DOP. Os primeiros borregos certificados a nível nacional foram os meus”, disse.
Na quinta da família Ambrósio as ovelhas estão divididas por três rebanhos: “As que dão leite, as que estão secas ou prenhes e as de recria”.
Júlio, o irmão e a cunhada não param um minuto: “Aqui há sempre muito para fazer. O dia de trabalho começa às 08h00 e termina às 20h00. Todos os dias do ano. Começamos logo de manhã, pelas 09h00 com a ordenha, que costuma prolongar-se até às 11h00. Nesta época do ano, temos a parte mais fácil, pois é só ordenhar as ovelhas, pô-las a pastar e por comida nas manjedouras durante o dia, para elas terem a ‘papinha’ quando regressam e voltarmos a fazer a ordenha”, relatou.
A vida na quinta é “muito presa” e a família tira férias repartidas, pois, como referiu à Lusa, “pelo menos duas pessoas têm de estar cá sempre para tratarem dos animais, embora no verão, como não há ordenha, é mais fácil, porque é só pô-las a pastar”.
Pelas contas de Júlio Ambrósio, o mega rebanho consome por dia 600 quilos de forragens, 150 quilos de ração e 100 quilos de milho.
A juntar ao apascentar e ao cuidar dos animais existem outras tarefas, como lavrar as terras e fazer as sementeiras de sorgo, milho, centeio e azevém.
O empresário possui uma área de regadio, onde apascenta os animais, com 25 a 30 hectares, e tenciona duplicá-la no próximo ano.
O seu pai, Júlio Ambrósio, de 72 anos, que sempre teve ovelhas Serra da Estrela, não esconde a alegria por ver que o filho que tem o mesmo nome se dedicou à atividade e é, hoje, um empresário de sucesso: “É para mim uma grande satisfação, porque ele frequentou o curso de jovem agricultor e eu passei-lhe o rebanho e fiquei com a queijaria, que fechei em janeiro, porque já não tenho saúde e por ter muitos encargos. Saber que ele tem hoje o maior rebanho do país da raça bordaleira Serra da Estrela é uma satisfação muito grande”.
O patriarca da família não esconde, no entanto, a tristeza pelo encerramento da queijaria, onde a sua mulher confecionou queijo DOP Serra da Estrela “durante mais de 20 anos”.
“O nosso queijo era de qualidade e foi consumido em vários lugares do mundo, como nos Estados Unidos da América, na Suíça, na Bélgica e na França”, concluiu.