“Este é um dia importante para ICNF, ao devolver à liberdade um raro exemplar de abutre-preto ao seu habitat natural, neste caso ao Parque Natural do Douro Internacional, onde existe uma pequena colónia destas aves necrófagas composta por dois casais. Foram, também restituídos à natureza dois grifos”, disse à Lusa a diretora Regional do Norte do ICNF, Sandra Sarmento.
As aves foram devolvidas ao seu ecossistema no miradouro do Carrascalinho, concelho de Freixo de Espada à Cinta, distrito de Bragança.
O abutre-preto foi recolhido em Fafe (distrito de Braga) pela GNR, provavelmente por se ter “perdido” e ter estado vários dias sem encontrar alimento, sendo transportado e acolhido pelo ICNF no Centro de Recuperação de Fauna Selvagem no Gerês.
A ave esteve em recuperação durante cerca de um mês e meio, com o acompanhamento pelo Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e o Centro de Interpretação Ambiental e de Recuperação Animal (CIARA), no concelho de Torre de Moncorvo.
Já o grifo foi apanhado em Mogadouro, seguindo os mesmos passos de recuperação.
Segundo a responsável regional do ICNF, em Portugal o abutre-preto conta com uma população de cerca de 35 casais com uma colónia a sul próxima de Barrancos, outra no Parque Natural do Tejo Internacional e, mais a Norte, a pequena colónia do Parque Natural do Douro Internacional.
A responsável do ICNF disse que há um trabalho de acompanhamento de aves rupícolas através do programa ‘Life Rupis’, um projeto teve início em julho de 2015 com uma duração de quatro anos.
Esta iniciativa ibérica teve um financiamento de 3,5 milhões de euros, comparticipado a 75% pelo programa LIFE da União Europeia, cabendo os restantes 25% aos nove parceiros envolvidos.
“Nesse contexto positivo de recuperação da espécie, ainda que lenta e vulnerável, pretende-se sempre que possível contribuir com a libertação de mais exemplares com a esperança que se possam instalar e juntar à pequena população existente”, indicou.
Com a presente libertação desta ave juvenil, o ICNF pretende contribuir para a conservação desta espécie devolvendo-a à liberdade num dos locais melhor preservados do Parque Natural do Douro Internacional próximo da colónia já existente.
O ‘Life Rupis’ está a terminar em território português e espanhol, mais concretamente na Zona de Proteção Especial (ZPE) do Douro Internacional e Vale do Rio Águeda, e na área protegida de Arribes del Duero.
Em Portugal existem três tipos de abutre, o grifo, o abutre-do-egito, ou britango, e o abutre-preto, sendo que as duas últimas espécies são as mais ameaçadas e acompanhadas pelo ‘Life Rupis’.
Segundo os estudos realizados por vários organismos ligados à avifauna ibérica, os abutres-pretos extinguiu-se como nidificante em Portugal no início da década de 70 do século XX.
As principais ameaças à sua conservação são a mortalidade por envenenamento ou por colisão ou eletrocussão, o abate ilegal, a redução da disponibilidade de alimento, a degradação do habitat de alimentação e nidificação e a perturbação humana.
O abutre-preto é a maior rapina da Europa, podendo ter uma envergadura de asa de quase três metros.
O habitat preferencial do abutre-preto são regiões remotas de difícil acesso e pouco humanizadas.
Esta ave, tal como os grifos, é quase exclusivamente necrófaga, pois alimenta-se principalmente de carcaças de médio e grande porte.