Perto das 21 horas o “Senhora da Sorte”, como se chama o valboeiro que é protagonista desta aventura, tinha acabado de atracar a cerca de oito quilómetros da Régua, depois de passar a barragem da Bagusta, contou à Lusa um dos “destemidos”, Joaquim Pinto. Antes, já o vereador do Turismo da câmara de Gondomar, Carlos Brás, havia explicado que esta viagem serve para “promover as tradições piscatórias do Douro, nomeadamente a pesca fluvial” e vincar a “identidade de uma embarcação antiga e típica da região”. A viagem pelo Douro navegável começou quarta-feira em Barca d’Alva, zona de Figueira de Castelo Rodrigo, estando previsto, ao fim de cinco dias a remar um barco com “proa avançada e popa quadrada de quase sete metros de comprimento e menos de metro e meio de boca”, a chegada a Ribeira de Abade, concelho de Gondomar, pelas 16 horas. “Esta é uma descida inédita que nos põe muito à prova. Se o vento é de este, ajuda-nos, mas se não, atrasa-nos. Até aqui navegamos numa espécie de lago”, contou Joaquim Pinto, prevendo só encontrar correntes “mais desafiantes” já próximo da barragem de Crestuma-Lever. Joaquim Pinto conhece o Douro mas intitula-se como o “lúdico da aventura”, uma vez que com ele segue Serafim Neves, dono do valboeiro que é “profissional da pesca fluvial”, nomeadamente na captura de sável, lampreia e enguia, uma atividade que o vereador de Gondomar defende “não poder ser esquecida”. “O Douro é uma das nossas apostas estratégicas, incluindo-se o desenvolvimento do turismo, mas as tradições como a pesca são fundamentais. É expectável que o “Senhora da Sorte” se cruze com vários barcos-hotel que fazem o Douro e isso faz deles [pescadores] embaixadores das tradições”, afirmou Carlos Brás. E, tal como o autarca previa, cumpridos dois dias de descida – os pescadores de Gondomar remam alternadamente em equipas de duas pessoas das 6 às 19 horas – este valboeiro já se cruzou, entre outros, com o Vasco da Gama, o Viking e o Milénio, barcos que percorrem o Douro navegável para efeitos turísticos. “Falámos com o comandante, com a tripulação, e contamos o porquê desta viagem. Incentivam-nos e até ajudam com abastecimento de gelo para a preservação da comida que trazemos porque almoçamos e jantamos no barco ora um entrecosto grelhado, ora uma picanha. E o peixe? O peixe não puxa carroça e isto é durinho”, descreveu Joaquim Pinto. Hoje os quatro pescadores vão pernoitar perto da Fogosa, terra da maçã, e dizem só ter tido um “susto” até ao momento, a 20 quilómetros do Pinhão, entre as barragens do Pocinho e da Valeira, onde “por segundos não conseguiam entrar na eclusa [obra de engenharia hidráulica que permite que embarcações subam ou desçam os rios em locais onde há desníveis]”. Esta viagem é organizada pela Associação Recreativa Valboense 1.º de Dezembro, com o apoio da câmara de Gondomar que transportou o barco até Barca d’Alva e tem mantido contacto com os pescadores garantindo “apoio logístico se necessário”.