Como um veterinário e um engenheiro do ambiente querem pôr cabras a limparem os matos

As cabras são excelentes gestoras dos terrenos florestais, uma vez que limpam todo o tipo de matos e campos e, para além da refeição gratuita, ainda ajudam a prevenir os fogos florestais.

Esta técnica secular, que entretanto caiu em desuso com o abandono do interior, está a ganhar uma nova dinâmica nos últimos anos.

Depois de um projeto-piloto ter surgido em 2012 em Vila Pouca de Aguiar, no distrito de Vila Real, uma nova iniciativa será lançada na aldeia de Vila Cova, no concelho de Barcelos, pelos empreendedores Filipe Gandra, médico veterinário, e Fábio Jácome, o engenheiro do ambiente.

O financiamento do projeto – Quintal Holístico – foi colocado site de crowdfunding português PPL e pretende angariar €6.000, distribuídos pela eletrificação da cerca (€1.200), reconstrução de um edifício para alojamento de animais (€1.300) e aquisição dos animais (€3.500).

A campanha já angariou 10% do total necessário para colocar o projeto sobre rodas e prolonga-se pelas próximas quatro semanas. Caso os empreendedores consigam o financiamento, a iniciativa arrancará dois meses depois.

“Os animais apresentam funções importantes na gestão dos ecossistemas. Ao longo dos tempos foram retirados das florestas em muitos locais, impedindo o seu pastoreio. Consequentemente surgiram alguns problemas, particularmente o crescimento descontrolado dos materiais vegetais combustíveis (designados normalmente por matos), que nos períodos mais secos aumentam a sua matéria seca, tornando-se materiais facilmente inflamáveis”, explicam os responsáveis do projeto.

As cabras são animais com um comportamento alimentar muito particular. Selecionam e procuram partes específicas (mais nutritivas) das plantas, mas não as destroem completamente. “Além disso, a sua anatomia permite adaptarem-se às condições íngremes das florestas, conseguem até empinar-se, apoiando-se apenas nos membros posteriores para alcançarem com a boca partes mais elevadas das plantas. Conseguem também subir, equilibrar e alimentarem-se em zonas de declive acentuado”, avançam os promotores.

“Todos os anos os fogos florestais destroem milhares de hectares de floresta. Com o pastoreio dos caprinos, consegue-se uma redução dos materiais secos combustíveis. Transforma-se em matéria orgânica, que fertiliza os solos, e consequentemente consegue-se uma maior rapidez na regeneração da floresta, principalmente das árvores”, continuam.

O projeto visa uma gestão global da floresta, direcionada não só para os materiais arbustivos mas também para as árvores. Isto porque o fogo pode propagar-se não só através dos matos mas também através das copas das árvores.


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