A serra da Estrela vai ter um sistema de telecabinas até à Torre para transportar pessoas e, assim, minimizar o problema de tráfego, de corte de estradas por causa da neve e da falta de mais estacionamentos na zona. A Turistrela, empresa concessionária do turismo e desportos na serra, acaba de concluir um anteprojeto para a instalação de três telecabinas, iniciativa que é apoiada pelos municípios do maciço serrano.
Segundo disse o administrador Artur Costa Pais ao Diário de Notícias, a empresa quer “debater soluções para os problemas que todos os invernos causam incómodos às pessoas e que poderiam ajudar a uma melhor dinamização económica na serra da Estrela”. O projeto, que em termos globais ultrapassará um investimento de cerca de 35 milhões de euros (a realizar faseadamente), prevê uma telecabina, com capacidade para oito pessoas, na zona do Covão do Ferro (perto da Nave de Santo António), outra na zona da lagoa Comprida e outra a partir de Alvoco da Serra.
“Este não é um projeto fechado, pode ainda acolher outros contributos e parcerias que nos ajudem a potenciar esta mais-valia que é a serra da Estrela”, sublinhou o administrador, considerando a implantação prioritária da linha de telecabina “vaivém” na zona do Covão do Ferro por se situar no percurso entre a Covilhã e a Torre. Este é o acesso mais utilizado pelos condutores. Tendo em conta as condições de terreno e climáticas adversas, prevê-se um tipo de cabina suspensa num cabo que pode suportar ventos até 60 km/hora. A capacidade de transporte será de 1200 a 1600 pessoas/hora, dependendo dos percursos, a uma velocidade de cinco metros/segundo.
Segundo Costa Pais, a questão do financiamento “não é o maior entrave ao projeto”, já que “poderá ser garantido com capitais próprios, parcerias e recurso a fundos estruturais. O que fizemos foi dar um primeiro passo para que alguma coisa se faça. A inexistência de alternativas de acesso ao maciço central faz que em época de neve haja longos períodos em que não é possível aceder à Torre e à Estância de Esqui. Este facto tem um forte impacte negativo a nível económico e na satisfação dos visitantes”, frisou.
Em contrapartida, assumiu preocupação no que concerne às “questões administrativas” que passam, segundo empresário, “pela falta de recetividade por parte do Parque Natural da Serra da Estrela ou da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional da Região Centro. Nas abordagens informais que têm sido realizadas, o feedback que temos obtido por parte do Parque Natural da Serra da Estrela não tem sido o mais positivo”, lamenta.
Ainda assim, o projeto já foi apresentado à tutela em duas reuniões e nos próximos dias voltará a ser analisada, numa reunião que já está agendada com a Secretaria de Estado do Ordenamento do Território, segundo disse o presidente da Câmara Municipal da Covilhã.
A instalação de meios mecânicos para transporte de pessoas à Torre é uma matéria discutida há mais de meio século. Autarcas, empresários, operadores turísticos e outros intervenientes defendem a necessidade de se criar uma alternativa aos acessos rodoviários para o maciço central da serra da Estrela.
A reivindicação foi de novo ouvida recentemente num debate organizado pela Comunidade Intermunicipal das Beiras e serra da Estrela (CIM-BSE) com o objetivo de analisar a problemática dos acessos à Torre. “A solução dos meios mecânicos tem de ser levada em consideração porque é a que melhor resposta pode dar e é também a que reúne mais vontades”, sublinhou o presidente da Câmara Municipal de Seia, Filipe Camelo. Uma opinião partilhada pelos presidentes das câmaras da Covilhã e de Manteigas, Vítor Pereira e José Manuel Biscaia, respetivamente, que lembraram o facto de esta ser também a solução mais amiga do ambiente. Vítor Pereira lembrou, aliás, que esse projeto permitiria reduzir significativamente o número de veículos que anualmente atravessam a serra da Estrela: cerca de 290 mil que são responsáveis por a emissão de uma média de 1,78 de CO2.
Presente no debate, o responsável pelas relações institucionais da Infraestruturas de Portugal (IP), Carlos Rodrigues, rejeitou as críticas respeitantes à demora da reabertura das estradas e garantiu que nem com o dobro dos meios se conseguiria melhorar a eficiência, devido às características da neve da serra da Estrela.