O Museu do Côa acolhe, até 12 de maio, a exposição internacional “Prehistórico: De la Roca al Museo” (Pré-Histórico: Da Rocha a Museu), composta por 270 peças como pinturas, gravuras e alguns tesouros nacionais (arte móvel), que pretende celebrar uma outra, que teve lugar há precisamente 100 anos, no Museu Nacional de Arqueologia de Espanha”, localizado em Madrid.
Nas três salas do Museu do Côa, o visitante poderá contemplar vários tipos de arte pré-histórica, através das gravuras dos bisontes de Altamira ou o grande auroque [boi selvagem] do vale do rio Côa, entre outras dezenas de objetos de diferentes cronologias.
“Esta exposição tem representadas duas faces do mesmo património. Por um lado, a primeira descoberta da arte pré-histórica da humanidade que aconteceu no século XIX, nas grutas de Altamira e a descoberta ao ar livre das gravuras do Côa”, explicou à Lusa Eduardo Galán Domingo, curador da exposição.
O especialista considera, igualmente, estas duas formas de arte [ Altamira e Côa] como uma forma de “diálogo” entre pinturas das cavernas e gravuras ao ar livre que é “muito valioso para a humanidade”.
“Este diálogo existente entre as duas formas de arte permite que esta exposição venha diretamente de Altamira para o Côa”, vincou o curador.
“Prehistórico: De la Roca al Museo” foi, originalmente, a primeira exposição, “a nível mundial, a debruçar-se sobre a arte pré-histórica, e desempenhou um papel incontornável na sua divulgação pública.
“Entre as peças expostas estão as primeiras representações em tamanho real dos animais de Altamira ou as primeiras descobertas da Arte Levantino [Arte rupestre da bacia mediterrânica da Península Ibérica] que são também património da Humanidade. Também podem ser vistos materiais das primeiras escavações feitas nas grutas de Altamira ou achados pré-históricos do Sudoeste peninsular”, concretizou Eduardo Galán Domingo.
Quem percorrer as três salas do MC pode ainda ver de perto os bustos do arqueólogo amador proprietário do terreno onde foi encontrada a gruta de Altamira, Marcelino Sanz de Sautuola, assim como outras figuras fundamentais na descoberta da arte paleolítica, em Espanha.
Para Thierry Aubry, coordenador técnico e científico da Fundação Côa Parque (FCP), esta exposição “revela uma fase importante no estudo da arte paleolítica”.
“Com a entrada da arte figurativa num museu, 20 anos depois da sua aceitação científica, esta passa a ser aceite pelo grande público. A utilização de técnicas antigas e a publicação dos levantamentos são outros elementos importantes relativamente às exposições atuais baseadas essencialmente nas fotografias e na tecnologia digital” vincou o também arqueólogo.
Por seu lado, Aida Carvalho, presidente da FCP, esta exposição fala por si da mesma arte figurativa.
“Temos pela primeira vez uma exposição ligada à arte pré-histórica. Dada a importância desta exposição no seu tema maior que é arte rupestre enquanto património da Humanidade, decidimos acolher esta mostra”, disse a responsável.
Aida Carvalho, adiantou à Lusa que a próxima exposição agendada para o mês maio, será dedicada à obra da pintora Graça Morais.
Segundo aquela responsável, através da representação e de exposições como a que agora se celebra, foi possível estabelecer um processo de mediação entre os discursos científicos, em torno daquele tipo de vestígios, e o público, um processo que se prolonga até à atualidade, e no qual se insere o Museu do Côa, entre o rigor da investigação e a arte pré-histórica, a sua divulgação e a abertura ao público.
Já Dalila Correia, uma das responsáveis pela montagem da exposição, destacou a “enorme logística” que esteve envolvida nesta operação.
“Muitas das peças são tesouros nacionais de Espanha que obrigam a vários protocolos, burocracia e aprovações do próprio Governo espanhol. Já em termos práticos foram necessários dois camiões TIR para transportar todas as peças expostas. Houve ainda colaboração de técnicos do Museu Nacional de Altamira e de Espanha para fazer o acompanhamento da montagem, em parceria com os curadores”, especificou.
O Museu do Côa está construído no concelho de Vila Nova de Foz Côa, no distrito da Guarda, e assenta parte da sua estrutura numa colina sobranceira ao rio Côa, celebrando o “encontro” dos patrimónios mundiais deste território: a arte pré-histórica do Vale do Côa e a Paisagem do Alto Douro Vinhateiro.