30 mil pessoas no Boom Festival

Esta segunda-feira, 30 mil pessoas, na sua esmagadora maioria vindas dos mais diversos cantos do mundo, deram início ao Boom Festival. Até dia 11, o mundo das culturas psicadélicas está reunido na Beira Baixa.

Na estrada para a aldeia de Idanha-a-Velha, mais exatamente na estrada para a enorme Herdade da Granja, uma fila de carros avança muito lentamente. De vez em quando há quem saia da viatura e converse pacientemente com o colega da frente. Vislumbram-se essencialmente matrículas francesas, alemãs, inglesas ou espanholas. A décima edição do Boom Festival começou esta segunda-feira (prolongando-se até dia 11 de agosto) e os sintomas das primeiras horas repetem-se. A entrada no recinto faz-se lentamente. Vislumbram-se esmagadoramente estrangeiros – de 152 nacionalidades, segundo a organização. E já dentro da herdade cada um tenta adaptar-se ao espaço. Os repetentes discutem diferenças no cenário. Os iniciados surpreendem-se com o exotismo psicadélico do lugar, tendo por testemunha árvores iluminadas. O espaço, a sensação de liberdade, continua a ser um dos grandes trunfos do festival. Não existe qualquer outro acontecimento assim em Portugal, que consiga projetar essa sensação de infinito. Na segunda à noite a música ainda não se fazia ouvir, por isso essa sensação de intimidade no meio da multidão era ainda mais evidente. O imenso céu estrelado, vozes ao longe, a lua projetada na tranquilas águas da barragem, esculturas e motivos psicadélicos montados em recantos estratégicos, sempre com uma iluminação ténue mas eficaz, acabam por criar um ambiente de grande tranquilidade em muitas das áreas do recinto, com pessoas conversando calmamente em baloiços, espreguiçadeiras ou no chão. Na primeira noite, a música e as muitas atividades do evento não são o mais importante. O que interessa é cada um instalar-se o melhor possível. Adaptar-se. Fazer do recinto a sua casa. Mas a festa mesmo assim aconteceu. Por exemplo, com o Formidable Vegetable Soundsystem, que colocou uma pequena multidão a dançar ao som de alguma música jamaicana, do reggae ao dub, passando pelo ska. O festival é conhecido essencialmente pelas sonoridades do trance psicadélico, mas nunca se fechou numa redoma, acolhendo muitos outros géneros da extensa árvore genealógica das músicas de dança. As últimas edições têm sido um sucesso de público. Mas nunca como este ano essa sensação ficou no ar. A lotação esgotou há semanas (30 mil pessoas é o número que a organização contempla como limite, para que se possa usufruir do espaço de forma saudável) e na Internet disputavam-se até há dias bilhetes a preços exorbitantes. A organização reprova a situação, mas pouco pode fazer para a corrigir. Essa é uma das perversões do sucesso. E hoje o Boom Festival é nitidamente um êxito. Ainda poderão existir algumas mazelas estigmatizantes, resultantes da associação às drogas que sofreu nas primeiras edições, mas hoje isso parece ultrapassado. Hoje o Boom é conhecido em todo o mundo como um festival sustentável. E em Portugal como o evento que convoca mais público de todo o mundo. Numa região altamente desertificada, foi inicialmente recebido com alguma desconfiança. Mas na actualidade é largamente elogiado nas populações vizinhas. Se existe algo que se lamenta é o facto de durar apenas dez dias. Fala-se com pessoas nas ruas, nos cafés e restaurantes, de Idanha-a-Nova a Penamacor, e é essa a sensação que fica. O festival já constituiu marca de uma região que nos próximos dias vai ver o seu quotidiano profundamente alterado, apesar de a Herdade da Granja ser auto-sustentável, um mundo com vida própria.

 


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