No próximo mês de janeiro vamos ter eleições para a Assembleia da República, em que serão eleitos os deputados por cada um dos círculos eleitorais distritais. No distrito da Guarda elegeremos apenas 3 dos 230 deputados; ou seja 1,3% da Assembleia da República e por cada deputado bastarão 15 mil votos. Embora tenhamos um significativo território, este é reduzidamente povoado, e tal influi no número de mandatos.
Ainda que o número seja pequeno, a elevada atomização partidária, agora com mais partidos sobretudo à direita do PSD, ditará que só os grandes partidos, PS e PSD, vão eleger deputados, cabendo dois ao partido mais votado e um ao menos votado destes dois, não parecendo razoável (neste momento) que outra qualquer força partidária ultrapasse os 15 mil votos no distrito para lutar pela eleição do 3.º deputado.
As regras do método de Hondt, não obstante sejam o nosso método acolhido constitucionalmente para a conversão de votos em mandatos, deixam de lado os votos dos pequenos partidos. Nem sequer há um círculo residual nacional onde possam ser considerados. Os Açores, por exemplo, têm esse círculo para as eleições regionais, mas não é esse o sistema acolhido nas eleições legislativas nacionais.
Voltando à Guarda e olhando aos resultados das últimas 4 eleições, temos o PS a partir com ligeira vantagem em 2009, para logo a seguir ser ultrapassado pelo PSD em 2011 e 2015 (este último em coligação com o CDS) só conseguindo ultrapassar de novo o PSD nas últimas eleições de 2019, ganhando o 3.º deputado (o PS elegeu 2 e o PSD apenas 1). O ano de 2011 haveria de ser o melhor dos anos eleitorais para o PSD, com três mandatos para um só mandato dos socialistas (fui mandatário distrital dessas eleições e recordo a surpresa com que recebi esse resultado, de tão inesperado, não obstante o Prof. Manuel Meirinho, cabeça de lista estivesse otimista quanto ao mesmo, porventura um dos melhores resultados do PSD a nível nacional).
Eleições Legislativas no Distrito da Guarda (PSD e PS)
Nota: Em 2015 o PSD concorreu coligado com o CDS.
Em número de mandatos ficou assim a distribuição nas últimas 4 eleições:
Notas: Manuel Meirinho viria a ser substituído por João Prata e Ana Mendes Godinho foi substituída por Cristina Sousa. Em 2019 o número de mandatos passou a 3, pela diminuição da população e consequentemente do número de eleitores.
O que esperar do próximo ato eleitoral? Ainda não haverá sondagens distritais, nem tão pouco são conhecidos os candidatos a deputados, mas sabe-se que também por cá poderá haver um “castigo” dos partidos que provocaram a queda do Governo, podendo os socialistas beneficiar de algum reforço por esse facto, com eventuais perdas do BE e da CDU, que juntos tiveram mais de 8 mil votos nas últimas eleições. É o chamado “voto útil”.
Do mesmo modo, o PSD poderá beneficiar desse mesmo efeito captando, sobretudo, os votos úteis do CDS, isto se não vier a existir coligação pré-eleitoral como em 2015.
Maior incógnita é saber os efeitos de um eventual crescimento do Chega ou mesmo da Iniciativa Liberal, que a acontecer, parece prejudicar mais o PSD. Juntos, estes partidos em 2019 tiveram apenas cerca de 1500 votos, mas percebe-se que agora já terão votação mais expressiva, atentas as sondagens nacionais.
De um modo ou de outro, ambos os partidos, PS e PSD andarão muito próximos nas intenções de voto. O PS tudo deverá fazer para manter o seu segundo deputado, pelo que toda a luta será pelo 3.º deputado do distrito, sabendo-se que os maiores partidos poderão almejar essa conquista. Não é impossível, como se viu em 2011, mas dependerá sempre de muitos fatores, incluindo os nomes colocados a sufrágio. Desta vez haverá ainda menos eleitores recenseados no distrito e janeiro, com a pandemia em alta novamente, pode favorecer o crescimento da abstenção.
Resultados das eleições Legislativas de 2019 – Distrito da Guarda
(Fonte: MAI, 2021)