As golden shares acabaram por não afectar desfavoravelmente o valor da empresa, pois efectivamente não havia qualquer registo de desconto ou subtracção relacionado com a maior comparência do Estado nas empresas. Talvez o retorno até fosse positivo, uma vez que existia uma empatia generalizada entre a população e as organizações privadas que saboreavam indicadores robustos de supervisão do Estado. Será que o problema esteve no utensílio em si ou no uso que se lhe deu? Será que alguma vez as golden shares espelharam o seu verdadeiro âmago? Será que as mesmas não ampliaram os riscos de gestão duvidosa e a limitação à livre competição?
Será que o Estado não agasalhou uma propensão para se comportar da mesma forma que os privados? Será que a gestão dessas empresas não se sentiu de alguma forma ilibada e resguardada pela intervenção do Estado quando os problemas emergiram? Será que o Estado conseguiu controlar a transferência de lucros para outros cabimentos económicos?
Importa salientar que as privatizações ou reprivatizações devem acomodar o robustecimento da cubicagem empresarial do País; a modernização, reorganização e fortalecimento de certos “departamentos” prolíficos da economia do País; a promoção do mercado de capitais, proporcionando uma desafogada comunicação e participação da população na titularidade do capital das empresas; a diminuição da actividade do Estado na economia; e o incremento dos índices de competitividade. Será que as golden share não beneficiaram o “grande capital”? Será que a sua aplicação não produziu consequências discriminatórias? Será que não lesaram a conveniência nacional, afectando de modo desfavorável as cláusulas de competitividade? Será que os investidores não ficaram retraídos pelo facto de em tais poderes não existir a obrigatoriedade de participação social por parte do Estado ou de outras entidades públicas?
É seguramente conveniente realçar que uma das principais deliberações que os grupos mais portentosos adoptaram foi a de maximalizar as sinergias, participações e cooperações de grupo, circunscrevendo o valor acrescentado encarcerado no País onde actuavam. O resultado acabou por ser uma repartição de riqueza mais franzina, uma vez que as adquirições, contratações e subcontratações foram solicitadas às empresas do grupo instaladas no estrangeiro. Neste contexto, espontaneamente compreendemos que boa parte das receitas foi transportada para outras extensões financeiras, assim como os processos de “esquadrinhamento” e aperfeiçoamento que foram executados num País que não o nosso. Para exacerbar a conjuntura económica e financeira da Europa, a liquidez económica desfila nas modernas economias emergentes que na sua esmagadora maioria se localizam fora da Europa. Será que não é extremamente necessário perfilhar estratégias nacionais que embrulhem a superfície física e empresarial portuguesa? Será que não é indispensável compreender as fisionomias da internacionalização empresarial? Será que o investimento directo estrangeiro não constitui um instrumento vital para a nossa economia? Será que não é fundamental fundar uma autêntica política de parcerias com os Países de língua portuguesa?