O despovoamento pode ser definido como uma espécie de migração, tendo a “capacidade” de metamorfosear os espaços e a dinâmica dos mesmos, bem como de implementar determinadas problemáticas de penosa resolução.
Há quem incrimine os sucessivos Governos de serem parte integrante ou os mentores deste fenómeno, ao encerrar, por exemplo, escolas e tribunais, e, simultaneamente, promover o investimento no litoral em prejuízo do interior.
Essa descrição, em certa medida, corresponde à verdade, contudo não podemos deixar de salientar que existem Concelhos que, e apesar de aquartelarem semelhantes conjunturas de dificuldade, conseguem concretizar projectos e parcerias de desenvolvimento. Portanto, é seguramente justo afirmar que, e em cenários semelhantes de dificuldade, há Concelhos que se desenvolvem e outros que vêem o desenvolvimento por um canudo.
Há Concelhos que não fixam, muito menos atraem, os jovens. Existem Câmaras Municipais que nunca elaboraram qualquer programa que permitisse aos jovens a materialização de sonhos, de projectos, de ambições e de expectativas.
Será que a esmagadora maioria do orçamento das Câmaras Municipais, nomeadamente nos Concelhos que pertencem ao Interior do País, não devia ser aplicada na criação de postos de trabalho e, consequentemente, na fixação de população?
A família, os amigos, a identificação com a nossa terra e o sentimento de pertença pela mesma constituem configurações relevantes de fixação dos jovens nos Concelhos, contudo estão longe de ser decisivas.
Há Concelhos que estão paralisados e pouco têm para oferecer. Existem Câmaras Municipais que não têm espírito empreendedor, “essência” crítica e capacidade de resposta.
Os diagnósticos, as soluções e as respostas locais devem adoptar semblantes descoincidentes em cada região, uma vez que devem ter em conta os recursos naturais e humanos; as conjunções singulares; a “frincha” económica; a especialização e organização produtiva; e as capacidades de estruturação existentes em cada lugar.
O investimento na reanimação e no encorajamento das competências locais é basilar. Este investimento deve perfilhar planos e projectos diversos que envolvam uma complementaridade e consubstanciação de parcerias entre actores sociais locais e actores sociais provenientes do exterior.
As actividades consistentes de crescimento e de aperfeiçoamento jamais podem ser projectadas em configurações metafísicas ou enigmáticas. A realidade local aquartela e manifesta atributos muito próprios e singulares, pelo que o seu método de desenvolvimento tem forçosamente que perfilhar um caminho exclusivo.
Será que os projectos não necessitam de actores de primeira linha em detrimento de actores decorativos? Será que o sucesso não passa pela coligação dos recursos endógenos com os recursos exógenos?
As ruas das nossas queridas aldeias estão desertas; os clamores oriundos das brincadeiras das crianças são um eco longínquo; os terrenos agrícolas estão repletos de ervas daninhas; a agitação e o frenesi dos jovens esfumaram-se; e os ruídos do gado desapareceram.
O jogo do despovoamento é intrincado e algumas Câmaras Municipais não conhecem as regras do mesmo.
É necessário escutar, não apenas ouvir, os jovens, pois são eles os actores principais dos efeitos atracção e rejeição, bem como das transfigurações que acontecem na morfologia do espaço.
A transição entre a escola e o trabalho; a passagem do conceito de dependência para o conceito de independência; e a transição do estado jovem para o estado adulto e economicamente capaz constituem as configurações mais importantes e marcantes da vida dos jovens. Contextos que agasalham inúmeros afogos, reptos e ensejos.
Torna-se fundamental criar empregos, todavia esses empregos devem ser empreendedores de forma a lograr desestagnar os Concelhos e promover o seu crescimento. A questão económica e profissional será porventura a mais importante para os jovens, porém é imprescindível desenvolver os Concelhos numa óptica de conjunto.