Vivemos tempos em que desfilam as comodidades, tecnologias, memórias descartáveis, aparências, produção em massa, e universos fraccionados e automatizados. Actualmente existe a preocupação de como o conceito de adolescência é aplicado na sociedade em geral.
Embora esse conceito visite amiudadamente os meios de comunicação, os diálogos, os colóquios, as dissertações académicas e os discursos jurídicos, o mesmo acaba por “perfurar” alguns procedimentos em dissemelhantes superfícies de actuação, nomeadamente na psicologia.
Será que não é importante saber como os adolescentes desenvolvem os traços de benevolência nas suas correspondências? Será que os homens empregam as máquinas e os conhecimentos tendo em conta a sua conveniência?
Será que o vocábulo juventude dissolve ou transforma os impasses e os dilemas estabelecidos na sociedade? Será que a noção de adolescência não necessita de ser interrogada e investigada pelos alicerces que agasalha?
A adolescência é um período do desenvolvimento com o qual todos os indivíduos convivem. As transformações hormonais, glandulares, físicas e corporais, concernentes a esse período, acabam por aconchegar alguma responsabilidade pelo aparecimento de determinadas particularidades psicológico-existenciais exclusivas dos adolescentes.
Esses contextos passam a ser compreendidos como uma essência, na qual os atributos, mas também as imperfeições, como teimosia, obstinação, insurreição, desapego familiar, apego excessivo a determinados grupos, desdém, perturbação, inconstância afectiva, insatisfação, aborrecimento, tristeza, repugnância, hostilidade, impulsividade, excitação, veemência, acanhamento e auto-observação, acabam por constituir a identidade adolescente.
Ao fixarmos um rótulo, confirmado por leis e obrigações antecipadamente coladas e fundamentadas nas elocuções científicas racionalistas, pode-se dar o caso de conceber uma “comarca” específica e balizada para os jovens, uma identidade que deseja capturá-los aprisioná-los e circunscrevê-los, e uma ferramenta que tenta dificultar e toldar alguns movimentos.
Será que quando se reafirma a uniformidade não se rejeitam as configurações da diversidade e da dissemelhança?
Na verdade, os argumentos e os contextos homogeneizantes não podem ser considerados inultrapassáveis, uma vez que existem permanentemente alguns desvios exequíveis e encadeamentos maleáveis. A lógica identitária é indumentada de campos de fuga.
Será que no âmago da lógica identitária, a realidade não está parcialmente restringida por quadros de referência? Será que o conceito de juventude não pode ser “capturado”?
As condições culturais, especialmente a religião, têm alguma influência no amor-próprio dos adolescentes, devendo as mesmas serem alvo de meditação e de rigorosos esquadrinhamentos, de forma a se compreender se contribuem para amplificar a auto-estima ou para produzir antagonismos interiores na etapa da vida em que os adolescentes estão a construir o seu arquétipo de valores.
A adesão e assiduidade ao culto espiritual despontam de uma indispensabilidade intrínseca ao homem para procurar a sua tranquilidade.
A família, a escola e as pessoas que “convivem” com os adolescentes devem estar informados, organizados e preparados para proteger os mesmos e auxiliá-los a superar os sentimentos contraproducentes em relação a si próprios. Na adolescência, o processo de maturação biológica, psicológica e social é bastante enérgico.
Quando se reimplantam os equilíbrios biológicos, cognitivos e emocionais, na fase derradeira da adolescência, alcança-se, de modo sincrónico, uma representação corporal positiva e doses de auto-estima satisfatórias.
A adolescência compreende inúmeros conspectos que serão vivenciados por uma pessoa como sejam: as metamorfoses físicas marcantes; o estabelecimento de conexões colectivas; o desenvolvimento de novos comprometimentos; e a edificação de valores pessoais intimamente ligados à sua atmosfera social.
A adolescência é um momento de passagem que pode ser árduo e “dispendioso”, pois a pessoa adulta ainda não germinou e a criança que existia ainda não feneceu.
A adolescência abrange a segunda década da vida, ou seja, dos onze aos vinte anos de idade e engloba dois processamentos diferenciados que se sobrepõem: a adolescência; e a puberdade. Puberdade é a denominação facultada ao período em que acontecem transformações físicas que geram a maturação sexual e que, de forma natural, tornam os indivíduos biologicamente capazes de se reproduzir.
A adolescência é a designação que conglomera, na segunda década da existência, todas as transformações emocionais, psíquicas, culturais e sociais dos indivíduos.
Os adolescentes procuram uma independência emocional e económica em relação aos pais. De maneira gradual, o grupo constituído por pessoas da mesma idade vai alcançando uma enorme importância para os mesmos.
A adolescência é conhecida como a etapa em que ocorrem habitualmente as discórdias mais espessas com a família, pois os adolescentes criam resistências ao seguimento das normas e dos conselhos. Os amigos são a principal referência de comportamento para os adolescentes.
Por vezes os jovens tornam-se vulneráveis e “susceptibilizáveis” quando confrontados com a apreciação dos companheiros e, por essa razão, podem ser facilmente e irreflectidamente influenciados pelos pareceres e atitudes dos mesmos. Logo, podemos asseverar que se trata do período em que há um vínculo compacto com outras pessoas de idade similar.
As relações estabelecidas entre os jovens vão sendo metamorfoseadas à medida que os mesmos identificam e edificam a sua própria identidade. Na verdade, a partir desta estruturação de identidade, os antagonismos com a família tendem a ficar encurtados.
Será que o diálogo entre os jovens e a família não assume um papel cada vez mais essencial na minimização dos conflitos? Será que as comparências calorosas e as convivências afectuosas, normalmente tão comuns na infância, não devem continuar a ser praticadas e valorizadas na adolescência e ao longo de toda a vida?
As transmutações comportamentais constituem, portanto, uma característica que acaba por estar adjacente aos adolescentes. Existe, por parte dos jovens, a perfilhação de novas práticas em relação ao falar, dialogar, incorporar, vestir e relacionar.
Todos os jovens, ainda que em períodos de tempo diferentes, passam pela fase de pensar que podem mudar o mundo, acabando por desperdiçar algumas referências importantes.
Na medula do tema adolescência é certamente oportuno referir que existe a puberdade prematura e a retardada. Na realidade, existem algumas circunstâncias que podem provocar as diferenças de tempo na chegada de algumas transformações, entre as mesmas destacam-se: os contextos ambientais; as disposições frequentes de stress; o forte deperecimento emocional; o consumo de algumas substâncias de semblante químico; os dinamismos físicos muito activos; o emagrecimento excessivo e propositado; e a desnutrição pela ausência de condições financeiras.
Actualmente é praticamente universal a noção de que a violência não é parte integrante da natureza humana e que a mesma não tem sustentáculos de ordem biológica. A violência é em diversas ocasiões associada à adolescência.
Será que a violência não pode ser definida como um fenómeno histórico e social edificado, e consolidado, na sociedade? Será que a mesma pode ser desconstruída? Será que a desconstrução da violência não necessita do empenho e compromisso dos actores sociais, das instituições e da sociedade ecuménica em todas as suas inúmeras dimensões?
O sistema educacional aconchega uma responsabilidade peculiar nas disciplinas adolescência e violência. Torna-se elementar não aceitar a sugestão de acomodar a responsabilidade pela transfiguração da sociedade no pelouro da educação ou de considerar que as iniquidades de ordem social e económica poderão ser remediadas por uma instrução de qualidade.
Devemos é saborear o ensino como um desenho capital na formação e organização intelectual de todas as linhagens. Será que um dos factores principais para que os jovens tenham sido embrulhados nessa textura da violência não está relacionado com a dificuldade que as famílias, professores, profissionais de saúde e governantes têm em interpretar as características, carências e indispensabilidades da adolescência?