A experiência escolar marca profundamente a vida do adolescente, uma vez que a mesma constitui uma enorme vivência de socialização e de convívio com as dissemelhanças.

A adolescência aconchega profundas transmutações e voltagens, nas quais se enlaçam sistemas de amadurecimento físico, mental, social, afectivo e emocional que são influenciados pelas particularidades intrínsecas a cada indivíduo. A envolvente social e cultural dos indivíduos, bem como a conjuntura histórica constituem condições que tornam emaranhado o confinamento e a conceituação do vocábulo adolescência. Os adolescentes têm a necessidade de formar grupos, podendo os mesmos ser altamente inflexíveis e ferozes na exclusão de outros que são diferentes. Será que estas atitudes não podem ser saboreadas como autênticos tipos de defesa contra a sensação de perda de identidade?
Os adolescentes agasalham inúmeras fragilidades interiores. Em diversas ocasiões essas debilidades também são pintadas a tons de agressividade e desdém. Será que estes contextos não promovem os factores de risco como álcool, drogas e violência? Será que não é por meio das interacções que os agentes de socialização transferem crenças, certezas e práticas propagadas no meio social ao qual pertencem? Será que essas crenças e procedimentos não são fundamentais para a fundação e estruturação do sujeito? Será que a cultura não hospeda o papel de organizadora das práticas pedagógicas?

Apesar de existirem várias configurações de família na sociedade moderna, a verdade é que a família acaba por ser o primeiro grupo, a primeira escola, o primeiro hospital e a primeira experiência de prática da cidadania que cada pessoa experimenta. Este contexto é muito importante e determinante para o percurso futuro de vida. Será que os vínculos de parentesco asseguram sempre a existência de bem-querer, amizade e paz no seio da família? Será que o convívio familiar não alberga muitos e pardacentos episódios marcados pela violência doméstica? Será que as principais vítimas não são as crianças, os adolescentes e as mulheres? Será que a violência doméstica não constitui uma violação dos direitos elementares da criança e do adolescente? Será que a “lei do silêncio” não continua a ser a mais “ouvida”? Será que a violência doméstica não é, em diversas circunstâncias, interpretada como um direito natural dos pais ou um requisito normal na linguagem e comportamento familiar? Será que é fácil calcular a violência psicológica? Será que a significação rigorosa do que constitui ou não violência no encadeamento entre pais e filhos não é duvidosa, polémica e intrincada? Será que a violência não é atravessada por certos modelos culturais? Será que existem dados suficientes sobre a violência doméstica? Será que as bases históricas não são importantes para os estudos sobre adolescência? Será que a maioria dos adolescentes transgressores não presenciou e foi vítima de violência doméstica? Será que essas vivências não podem influenciar o modo como o adolescente compreende a realidade? Será que é salutar saborear as conjunções vulgares sempre como desafio pessoal?

A experiência escolar marca profundamente a vida do adolescente, uma vez que a mesma constitui uma enorme vivência de socialização e de convívio com as dissemelhanças. A escola é um espaço no qual o estudante pode desenvolver imensas capacidades, interagir com outras pessoas e reconhecer outros protótipos de referência. O insucesso escolar produz amiudadamente um processo de culpabilização e degeneração da auto-estima, pois o mesmo acolhe sentimentos de inferioridade. Na verdade, o insucesso escolar pode provocar condutas agressivas e a violência pode estimular o fraco desempenho académico.

Quando os adolescentes estão bem incorporados na sociedade e possuem bons alicerces, aumenta o sentimento de protecção e solidariedade, restringindo-se o discernimento de risco. As iniquidades sociais, desigualdades económicas, exclusão social e ausência de oportunidades são telas que fazem aumentar os índices de violência e desespero nas comunidades. Se realmente pretendermos contribuir para o aperfeiçoamento absoluto das gerações em formação, é indispensável estar compenetrado na necessidade e exequibilidade do trabalho integrado da educação para a pacificação, a multiplicidade, o respeito pelos direitos humanos e os valores morais gerais. Será que não é essencial que os adolescentes tenham a noção que existe a inseparabilidade entre direitos e obrigações na vida em sociedade?
Por vezes quando definimos alguém como adolescente acabamos por colocar em causa as suas pluralidades de existência, edificando uma significação que impossibilita que os delineamentos de novas correntes e de vida adquiram robustez de expansão e crescimento.

Para os adolescentes, a beleza e o peso parecem ser as configurações de maior relevância. Somente depois se assoma a influência do sexo, idade, crescimento pubertário e valores sociais. A auto-estima é saboreada como um indicador de tranquilidade mental e um conciliador da conduta humana. A idade, habilitações e profissões dos pais, bem como a religião são cláusulas com bastante influência no amor-próprio e na auto-confiança dos adolescentes. A função que a imagem corporal representa para a auto-estima espelha a sua relevância no aperfeiçoamento do adolescente. Será que os adolescentes possuidores de auto-confiança e auto-estima não apresentam maiores índices de capacidade para amplificar a sua auto-eficácia, bem como para reagir às tensões e imposições da sociedade e às inclinações dos grupos para condutas danosas para a saúde?

As informações correctas podem ser muito proveitosas na adolescência, uma vez que esta fase da vida é pródiga em novidades, metamorfoses, descobertas, dubiedades, periculosidades e inseguranças. Não existem informações que tenham capacidade para substituir a experiência, todavia as mesmas podem coadjuvar os adolescentes a compreender que as inúmeras transformações que acontecem são normais neste período de vida. Qual a imagem que os adolescentes fazem de si mesmo? Que responsabilidades conseguem assumir? Quais são as responsabilidades que os adolescentes esperam que os pais, escola e sociedade assumam?

A construção da identidade é social e ocorre durante toda a vida das pessoas, dependendo da cultura e da sociedade onde as mesmas estão inseridas. A identidade influencia a forma como os indivíduos se sentem e se comportam em contextos desafiadores e provocadores. A identidade está intimamente ligada com tudo aquilo que o indivíduo pensa que é ou com aquilo que o indivíduo mais se identifica. A identidade pessoal também está associada à auto-estima, sendo fundamental saber quem somos e quem acreditamos ser. Tudo o que imaginamos e idealizamos, assim como a nossa identidade pessoal constituem pinturas que estão coligadas ao meio social em que vivemos e às identidades sociais com que convivemos. A estruturação da identidade pessoal tem lugar no âmago da relação de uma pessoa com outras pessoas e sempre num argumento social.

Também será pertinente afirmar que a identidade social pode ser definida como a disposição de um determinado indivíduo, em relação à disposição dos demais no seio da sociedade. Ao seleccionarmos, por exemplo, uma profissão, formação, religião ou estado civil estamos a descrever a nossa identidade social. Deste modo, podemos asseverar que a identidade social pode ser atribuída e adquirida. Será que aos valores diferentes não são outorgadas significações dissemelhantes? Será que a identidade social não está inventariada com a atribuição de valores?

Os adolescentes necessitam de ser identificados e perfilhados como protagonistas. O período da adolescência determina a entrada numa nova realidade que produz desordem de conceitos e perda de algumas referências. Numa perspectiva psicológica, a constituição da identidade utiliza métodos simultâneos de meditação, observação e auscultação. A maior altercação na adolescência é a apelidada “crise de identidade”. Essa fase só estará concluída quando a identidade tiver encontrado uma configuração que determine, de modo definitivo, a vida subsequente. A crise de identidade irá desencadear inúmeras identificações com pessoas, grupos e ideologias. Essas identificações vão acabar por constituir um tipo de identidade transitória que somente sobreviverá até que a perturbação em causa seja dissolvida e uma identidade independente seja edificada.