A actividade, na qual participaram 549 alunos do 3º e 4º ano e que foi realizada em todas as escolas da cidade da Guarda e no Centro Escolar de Gonçalo.

“Ler e Sentir Abril” foi fruto de uma parceria entre o Município da Guarda, as Bibliotecas Escolares dos Agrupamentos de Escolas da Guarda e a Escola Regional Dr. José Dinis da Fonseca, Outeiro de São Miguel. Na actividade, “Ler e Sentir Abril”, abordei a importância dos valores de Abril.


A actividade, na qual participaram 549 alunos do 3º e 4º ano e que foi realizada em todas as escolas da cidade da Guarda e no Centro Escolar de Gonçalo, num total de 14, teve 16 sessões ao longo de quase duas semanas.


Com apoio de um Kamishibai (Teatro de Papel), li o livro “O Tesouro”, do autor, e meu conterrâneo, Manuel António Pina. Um livro de grande valor literário, orientado para um público infantil, que espelha o 25 de Abril e a Revolução dos Cravos. No livro, Manuel António Pina descreve Portugal como “País das Pessoas Tristes”, obviamente referindo-se ao período da ditadura. “Pessoas Tristes” pelo facto de não terem liberdade.


Antes de ler o livro “O Tesouro”, expliquei aos alunos a origem do Kamishibai, assim como o papel importante que esta ferramenta poderosa teve na promoção dos caminhos da inclusão e da literacia, levando às crianças mais desfavorecidas e que residiam longe das cidades a magia dos livros e das histórias. Deste modo, essas crianças puderam viajar, sonhar e aprender através dos livros.


Em todas as sessões, e depois de ler o livro de forma apelativa, circunstância que cativou claramente os alunos, conversei com os mesmos sobre o livro “O Tesouro” e sobre as configurações que envolveram a “Revolução dos Cravos”. Conversas animadas, nas quais os alunos demonstraram ter alguns conhecimentos sobre o “Dia da Liberdade”.


A liberdade de expressão, a censura, a Guerra Colonial Portuguesa, a ditadura, a oposição política, os partidos políticos, a democracia, o sufrágio universal, o País como uma prisão, as meninas e os meninos separados nas escolas, a emigração “a salto”, a fome, a iliteracia, a ignorância, o direito à greve, a exploração dos trabalhadores, as precárias condições de trabalho, os “Capitães de Abril”, o eterno símbolo da Revolução, Salgueiro Maia, as palavras de ordem dos “Capitães de Abril”, a mulher que distribuiu os cravos, os cravos colocados nos canos das espingardas, a rádio como meio de comunicação social fundamental para a Revolução, as senhas, “E Depois do Adeus” e “Grândola, Vila Morena”, que secretamente deram o sinal para a saída das tropas dos quartéis na madrugada do dia 25 de Abril de 1974, os poetas, escritores e artistas que tiveram um papel determinante na luta pela liberdade e a “história” do poema “Tourada” de Ary dos Santos, interpretado por Fernando Tordo no Grande Prémio TV da Canção de 1973, foram alguns dos contextos que abordámos depois de ler o livro “O Tesouro”, com apoio de um Kamishibai.


Também falámos, ainda que superficialmente, no concelho do Sabugal. O Rio Côa e o Castelo das Cinco Quinas acabaram por dar o mote para apresentar o autor do livro. Fiz questão de ler parte de um pequeno texto autobiográfico de Manuel António Pina, no qual versa o Sabugal, a sua terra de nascimento: “O meu nome é Manuel António Pina. Nasci numa terra com um grande castelo, nas margens de um rio onde, no Verão, passeávamos de barco e nadávamos nus. Chama-se Sabugal e fica na Beira Alta, perto da fronteira com Espanha. Quando era pequeno, olhava para o mapa e pensava que, por um centímetro, tinha nascido em Espanha. Mais tarde descobri que as fronteiras são linhas inventadas que só existem nos mapas. E que o Mundo é só um e não tem linhas a separar uns países dos outros a não ser dentro da cabeça das pessoas.”


E pelo facto de a liberdade ter regras, de referir que a liberdade esteve presente em todas as sessões da actividade “Ler e Sentir Abril”, pois os alunos, para além da simpatia com que me receberam, tiveram um comportamento exemplar, demonstrando interesse e compromisso com a actividade. Professores e alunos estão seguramente de parabéns!


As sessões terminavam com os alunos a cantar a “Grândola, Vila Morena”, do nosso Zeca Afonso e a entoar bem alto: “Viva a Liberdade”!


É fundamental abraçar este tipo de iniciativas e actividades, assim como perceber a pertinência das mesmas junto da comunidade.


Termino esta crónica com um poema colectivo que me foi oferecido no Centro Escolar de Gonçalo. Os autores do poema “Tesouro” são: a professora e amiga Helena Pedro; e os alunos Simão, Leonor, Micaela, Eduardo, Clarisse, Francisca, Maria Inês, Bruna, Helena, Francisco, Laura e Jesus. O poema está em minha casa ao lado das fotografias de família. Grato!

Tesouro
Um tesouro bem guardado
será sempre encontrado …
Sobretudo se for
um tesouro bem carregado
de amor, respeito, simpatia, gratidão…
Ah! Então será guardado no coração!
Haverá, porventura, tesouro maior?!
Não, claro que não!
Tesouros assim, são para mim
O melhor que a vida nos pode dar…
Então que os saibamos guardar,
cultivar e distribuir
por aqueles que não são capazes de o sentir
ou nunca tiveram a dita de o receber
por não o saberem acolher…
Este tesouro bem guardado
será o bem, premiado,
a recompensa da vida singela,
humilde e desprendida
de coisas vis e inúteis…
Façamos da vida um tesouro de Amor!