As salas de aula, tal como se ambicionava, continuaram a ser autênticos espaços de debate e de discussão.

O Clube de Oralidade “Pensar Alto” é fruto do protocolo de colaboração entre a Município da Guarda e o Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque, nomeadamente entre a Divisão de Educação, Intervenção Social e Juventude, e o Grupo de Filosofia da Escola Secundária Afonso de Albuquerque.


É essencial presenciar a sensibilidade não só por parte do Executivo da Câmara Municipal, como também por parte dos professores para abraçar este projecto, assim como para perceber a relevância do mesmo junto dos alunos.


O Clube de Oralidade “Pensar Alto” decorreu entre os meses de Novembro de 2022 e Maio de 2023, com alunos de várias turmas do 10ª e 11ª ano. Os temas debatidos em sala de aula foram: “redes sociais” e “saídas à noite”.


De salientar o compromisso e a disponibilidade, por parte dos professores de Filosofia, para que o projecto tenha continuidade e já perdure há vários anos. Neste sentido, agradeço aos professores, que juntamente comigo dinamizaram este projecto de continuidade, António Madeira, Luísa Fernandes, Albertino Vaz, Aureliano Valente e Lurdes Alves.


As salas de aula, tal como se ambicionava, continuaram a ser autênticos espaços de debate e de discussão. As capacidades discursivas e argumentativas, no campo da oralidade, foram, uma vez mais, impulsionadas.


Não tivemos egos inflamados, nem tão pouco perniciosas verdades absolutas. Ninguém adormentou os passos da liberdade de expressão. Os alunos foram os protagonistas e, tal como tinha sucedido nos anos anteriores, demonstraram ter opiniões incisivas sobre os temas propostos, fazendo amiudadamente observações perspicazes. Infelizmente há muitos “actores de charcutaria” na sociedade, os jovens não fazem seguramente parte dessa “parcela”.


Proferir livremente aquilo que pensamos é comerciar os sinais da nossa própria existência. O debate livre e a livre circulação de ideias constituem configurações extremamente importantes na labiríntica sociedade moderna.


Este ano lectivo, o Clube de Oralidade “Pensar Alto” terminou com a actividade “Livres na Prisão”, no Estabelecimento Prisional da Guarda. Inicialmente, e juntamente com a professora Luísa Fernandes, reforcei a importância da poesia nos caminhos da literacia, da inclusão e do pensamento crítico. De seguida, distribuí, de forma aleatória e sem conhecer os reclusos, vários poemas de autores consagrados, poemas esses que já tinham sido declamados por mim no programa “Reflexo Imperfeito” da Rádio Altitude. No final da sessão, e após a leitura dos poemas, os participantes escreveram o poema colectivo “Liberdade”. Foi uma manhã memorável, na qual desfilaram sorrisos francos, assim como vozes de confiança, inclusão, emoção, esperança, alegria, imaginação, imensidão e liberdade. Os participantes foram excepcionais, para além da amabilidade com que nos receberam, mostraram compromisso com a actividade “Livres na Prisão”. Também salientei que todas as pessoas têm talento e capacidade para criar, que todos devemos ter mais do que uma oportunidade e que o hiato que existe entre estar deste lado ou estar institucionalizado é muito ténue. A poesia, mais uma vez, transformou a sombra em luz, e provocou calafrios quentes e gestos honestos.


O Clube de Oralidade “Pensar Alto” vai continuar no próximo ano lectivo! Deixo-vos o poema colectivo “Liberdade”!

Liberdade
Apanhas-me desprevenido
Soltem as raízes desta flor
Porque fugiste de mim
Sei lá
Deus acima de tudo
Não me ocorre nada
Porque te perdi
Tenho a minha família à espera
O sol que anda alto
Liberdade
Oh, liberdade, liberta-me destas grades
A nossa mente
Por ti desespero, anseio e me amarguro
Dizem que “gato escaldado de água fria tem medo”
Todos os encarcerados sabem a razão deste segredo
Como é triste a solidão
Tirem-me daqui
Não me sai nada agora
Não consigo pensar
Só penso em não estar aqui
Liberdade que me foi privada assim do nada
Acabei detido no Estabelecimento Prisional da Guarda
Saudades, tantas saudades da família
Não me ocorre nada
O que fui fazer à minha vida
Só nós sabemos o que sofremos
O luar que aparece sozinho à noite que nos traga a liberdade
Vidas destruídas
Tão perto e tão longe
Os meus filhos por mim esperam
Deus não me abandonou
Só me colocou à prova
Dentro desta prisão só a ele lhe peço perdão
Tinha tudo e tudo perdi
Só Deus sabe o que sofro aqui
Meu Deus dá-me a liberdade, pois já ontem era tarde
Libertai-me desta angústia.

Reclusos do Estabelecimento Prisional da Guarda