Na relação económica com Portugal, representa muito pouco e tem vindo a cair, sendo que neste momento importamos mais da Rússia do que exportamos. Importamos sobretudo combustíveis e lubrificantes e exportamos produtos alimentares e bebidas.

Já muito se disse sobre a guerra em curso, provocada pela invasão russa de um Estado soberano, a Ucrânia. Aqui vamos olhar para outros prismas da guerra, que já vai na segunda semana de confrontos com bombardeamento e destruição de muitas cidades ucranianas, trazendo sofrimento a todo um povo que não pode ser compreendido e muito menos aceite por quem ouse ter valores de humanidade e solidariedade.

A Rússia (Federação de Estados) é uma potência; um país muito importante no panorama internacional. O seu peso económico estará entre 5 e 8% da economia mundial, ainda que muito focado nos produtos petrolíferos, energéticos e afins. Já o seu peso militar é, reconhecidamente, muito maior.


Na relação económica com Portugal, representa muito pouco e tem vindo a cair, sendo que neste momento importamos mais da Rússia do que exportamos. Importamos sobretudo combustíveis e lubrificantes e exportamos produtos alimentares e bebidas. O saldo é favorável à Rússia em mais de 300 milhões de euros. As nossas exportações para aquele país representam apenas 0,33% das nossas exportações e as importações 0,75% (valores de 2020).


Já no panorama internacional, a Federação Russa, 11.ª economia mais importante do mundo, exportou em 2020 cerca de 337 mil milhões de dólares e importou 231 mil milhões de dólares, registando um saldo positivo apreciável, resultante, sobretudo de gás natural e produtos petrolíferos. Saldo esse que lhe permite estar à frente em recursos belicistas.


Apesar de ser uma grande potência em termos militares, não o é em termos económicos, comparando com outras latitudes e posicionamentos ideológicos. E talvez aí resida a instabilidade dos últimos anos. Todos os Estados que saíram da então União Soviética nos anos 90 do século XX e se aproximaram da Europa, desenvolveram-se e cresceram imensamente (vejam-se a Lituânia, a Letónia, a Estónia e a República Checa, por exemplo); ficando a Rússia com indicadores comparados mais frágeis.
Se a Ucrânia fizer essa aproximação à Europa, alguém duvida que se tornará num país próspero e desenvolvido, atentas as suas riquezas naturais e capacidades produtivas?! Mas ao fazê-lo, os cidadãos russos poder-se-iam questionar: por que só nós estamos condenados à pobreza e à riqueza mal distribuída, quando todos os nossos vizinhos ocidentais prosperam?!

Fonte: FMI (2020)


Para já os tempos são de guerra e de sofrimento para todo um povo ucraniano, sobretudo, mas também russo, que se vai encontrar com as pesadas sanções comerciais internacionais. assistimos na última semana a anúncios das marcas impondo cortes, fechos, limitações e desinvestimento… Atentemos só num pequeno exemplo: a Inditex, dona da ZARA, já decidiu encerrar as suas 500 lojas na Rússia, encolhendo as suas vendas em 8%…Obviamente que isso pesará igualmente na Rússia e no povo russo, que assim se verá afastado da prosperidade e bem-estar, não obstante detenha uma das maiores riquezas minerais e energéticas do globo.


Finda a guerra, seguir-se-á a sua reconstrução. Só um país, a China, estará preparado para uma rápida e eficiente reconstrução das cidades destruídas pelos ataques russos. A China ficará também a ganhar com a compra de combustíveis baratos à Rússia. Sendo a única compradora, estabelecerá ela o preço, naturalmente em baixa. Entretanto os consumos energéticos da Europa vão sendo desviados para importações dos países árabes, que também já estão a ganhar com este conflito, também porque os oligarcas russos precisam encontrar bons destinos para as suas fortunas. Na Rússia é que eles não vão colocar um cêntimo.


Com este ajustamento do panorama internacional, as importações da Rússia vão sofrer pesados cortes, pelo menos enquanto houver memória dos horrores da guerra, mas também o mercado internacional de consumo vai encolher e ajustar-se em baixa. Por cá, combustíveis bem mais caros serão a nossa realidade no imediato. Porventura teremos de voltar ao consumo do carvão para produção energética. Também os orçamentos europeus vão começar a destinar valores mais elevados para armamento e política de defesa comum, não vá um qualquer ditador ter mais olhos que barriga.


Se o mundo mudara com a pandemia Covid, agora volta a mudar com a estatuição desta ameaça de certo modo inesperada e incompreensível no séc. XXI. Talvez por isso a comunidade internacional (instituições, organizações públicas, mas também privadas, indústria e comércio) desta vez tenha agido mesmo, não perdoando a quem não respeita a soberania e a liberdade dos povos. Pois, se hoje acontece aos outros…