Perante quadros de dificuldade económica, as falências assumem-se sempre como consequências dramáticas do falhanço ao nível da sustentabilidade de vários sectores em que as nossas empresas laboram. Podia dizer-se que a crise financeira internacional provocou, por cá, um aumento de 50% do número de falências. Mas não é disso que se trata. As falências ocorreram por outros motivos, mais nossos, do que derivados da situação internacional.
Essa causa externa há-de a seu tempo provocar as suas baixas entre nós. Talvez daqui a um ano já se sinta que haverá ainda menos investimento estrangeiro, menos turistas e muito menos exportações, como se o défice da nossa balança comercial pudesse ter margem para agravamento. Aí sim, as vítimas serão outras, e muitos inocentes serão irremediavelmente apanhados pelo choque do crédito que não conseguirão obter, ainda que se trate de projectos viáveis económica e financeiramente.
São pois nossas, endógenas e intrínsecas, as causas que motivaram estas falências de agora. A perda de competitividade e a incapacidade para atrair investimento estrangeiro, uma política fiscal gravosa e penalizadora da concorrência Ibérica, a burocracia que se arrasta de simplificação em simplificação, o emaranhado legal de exigências, as múltiplas proibições, a lentidão da justiça e o dinheiro mais caro do Ocidente, hão-de ter boa parte na responsabilidade da nossa situação económica actual.
Já se sabe também, que em Portugal a falência é sempre adiada até ao limite; que o digam os nossos pequenos empresários da fronteira, sujeitos a uma concorrência atroz vinda de Espanha, ou os nossos agricultores que resistem apesar dos prejuízos acumulados de mais de uma década, pelo que os efeitos dos problemas de agora só serão verdadeiramente mensuráveis dentro de dois a três anos.
Sendo assim, vamos inevitavelmente ter mais empresas a falir, e consequente aumento do desemprego e da despesa social, ainda que alguma dela atirada para despesas de formação profissional, que agora vão ser alavancadas até aos limites da manutenção aparente do desemprego em taxas baixas.