É nas recessões que as políticas sociais (de redistribuição) assumem maior importância e, bem assim, os investimentos públicos, que têm de ser mais selectivos.

Vivemos um momento de grande apreensão nos mercados e na Bolsa. A crise económica sofre agora os efeitos da crise financeira. São os juros que se mantêm altos, os limites aos novos créditos para as famílias e empresas, a quebra nos investimentos, o suspense na actividade económica, a venda de activos com perdas elevadas, etc., com empresas cotadas a perderem 60% do seu valor desde Janeiro.
Provavelmente, alguns mais avisados, sabem que as crises são cíclicas e que a seguir a uma subida, vem quase sempre uma descida e vice-versa. Um sobe-e- desce alternado, se bem que inscrito numa curva de longo prazo em que as descidas e as subidas assumem períodos mais longos, visíveis e sentidos pelos cidadãos. Sabem que não se podem manter indefinidamente os níveis de consumo e de endividamento sem que a produtividade aumente na mesma razão. Sabem que as recessões não são coisa boa e se traduzem em desemprego, menos consumo, menos impostos cobrados e menor distribuição da riqueza produzida.
É nas recessões que as políticas sociais (de redistribuição) assumem maior importância e, bem assim, os investimentos públicos, que têm de ser mais selectivos. Se nada for feito para contrariar esses maus momentos da economia, aumentará a pobreza, a insegurança e a crise alastrará aos valores sociais.
E não se pense que a pobreza se combate apenas com medidas centradas no chamado “rendimento mínimo”. Já há mais de uma década que esse subsídio existe e não se consegue medir qualquer avanço na redução da pobreza nacional sendo disso prova o insucesso na reinserção social dos abrangidos e a elevada emigração dos nossos jovens.
Em recessão ou fraco crescimento (que caracterizam a última década portuguesa) é necessário empreender mais e melhor, com todos os disponíveis para criar rendimento a trabalhar efectivamente, com ajudas à criação de postos de trabalho, com arrojada selectividade nos investimentos geradores de emprego no presente e de riqueza no futuro.
É muito duvidoso que tais objectivos se consigam com mais uma ou duas pontes no Tejo, ou com uma vasta rede de TGV, ou com um mega aeroporto em Lisboa ou um terminal de contentores em Alcântara. O caminho não é esse, parece-nos.
Há outros investimentos susceptíveis de fazerem crescer o País, desenvolvendo-o em coesão e preparando-o para um presente mais difícil do que se julga. A eles nos referiremos num próximo comentário da Bolsa, que está tão em baixo que só pode subir, certo? Errado. Vários especialistas apostam numa queda de mais 20% até ao fim do próximo mês… dá que pensar e preocupar.