Mostra-me o lugar onde te escondes do conflito. Colhe estrelas de prata. Apresenta-me a foz do teu rio. Vem à nascente do meu coração. Corações análogos que nunca amaram. O tempo pode nunca curar determinada mágoa. São poucos os elementos que parecem ser autênticos. A noite surge, por vezes, tão perdida e perturbada. Os alicerces do espírito não são sempre satisfatórios nem pragmáticos. Intercalei o brilho da lua e emoldurei a tua fotografia com um coração. Em sonhos tacteio o teu rosto a sorrir. Paisagem deslumbrante que não pretendo encobrir. A tese da frustração germina selvagem. Deusa sublime que entraste no meu pensamento. Farol de sedução, configuração de anjo e silhueta açucarada. Mesmo que o coração te implore, nunca voltes ao local onde a tristeza te invadiu. Abandona a instigação que o medo edifica. Abandona as perturbações e as memórias desleais. Não regresses ao lugar onde o sol se escondeu. Alguém que nos apresente a luz e nos outorgue o regaço. Alguém que afirme que a vida não é só dor, lamento e embaraço. Procuro estruturar a vida e encontrar razões para dissolver tanta ambiguidade. O sangue ferve e as emoções à flor da pele acarretam sofrimento. As superfícies pigmentadas estão afastadas, as melodias sombrias permanecem em chamas. Mergulhar constantemente nas tempestades e andar sempre nas estradas mais sinuosas não é um posto, mas sim um desgosto. Os sapatos de sola gasta enterram-se, mas já nem dou importância a tal situação. Em mais uma encruzilhada, contemplo o relógio a deglutir o dia. Deitei-me numa rocha desbotada e plana. O cume da montanha está mais distante. Sorriso amarelo e seis gritos que não dei. Incomensuráveis sonhos protelados. Caem as gotas de um céu insatisfeito. Pressões e depressões pintadas no muro. A imagem de sangue será sempre uma triste recordação. A liberdade abandonou a bússola da minha mão. Repiso trovas e esbarro em loucos passos de dança. Anfiteatro triste, vazio e sombrio. Olhares molhados, golpeados e imobilizados. A ponte entre o conflito original e o conflito essencial acabou por ruir. Num presente indesejado ouvem-se canções descompassadas. Águas correm sem destino ou direcção. A estrela sem brilho, a esperança distante, o espantalho e o ponto de água turva. Bálsamos que nos alarmam, perturbam e golpeiam. Fantasmas, espadas desfilam na penumbra. Olhos e lábios aguados no escuro da imagem. Consumir sinais de pecado. Arrastar a viagem para o precipício. O som do silêncio vagueia na lua. O xadrez perverso do tempo e do espaço obstruiu-me a passagem. O meu refúgio situa-se num lugar ermo. Os pássaros cantam sem fulgor. Padrão de inferno numa indumentária rasgada. Pensamentos sóbrios em curvas apertadas. Veias já pouco afinadas. Rosto fatigado e desalinhado.
Em mais uma encruzilhada, contemplo o relógio a deglutir o dia.