Embora a televisão chegue a um maior número de cidadãos do que a Internet e, logicamente, possa ser considerada como um meio mais democrático de acesso, a verdade é que não permite grande interactividade com o público.

Não há, nem pode haver nenhuma perplexidade quando referimos que a informática modificou as noções tradicionais de exposição e de reprodução visual. Desconhecer ou ignorar as reformas sociais, com forte incidência na imagem, com que a sociedade contemporânea está a lidar, constituirá o verdadeiro alicerce de uma demagogia barata. A Internet assume-se, cada vez mais, como uma componente desta “congeminência” actual, tendo arcaboiço para emendar, corrigir e reformar a forma como os cidadãos se relacionam entre si e se inventariam com as “ambiências naturais”. Será que não é indispensável perceber e questionar o campo de acção das modernas “ferramentas”?


O YouTube consiste num robusto instrumento de “promulgação” de vídeos que está disponível no ciberespaço, com acesso ilimitado, centralizado e interactivo. O YouTube é o resultado de uma titânica associação, oriunda do célere capitalismo, projectada para aligeirar a rentabilidade do ócio e do passatempo. Contudo, desvia-se das restrições de um produto de cariz meramente comercial, devido, principalmente, ao poder do seu “traço” comunicativo e da sua vertente audiovisual e “plural” que actuam energicamente sobre a compreensão sensorial, a reminiscência afectuosa e a inteligência cognitiva.
No YouTube “irmanamo-nos” com os “pedaços” de uma história nova, quotidiana, concreta, “verdadeira”, simbólica, e, por vezes, simulada que nos entusiasma e nos envolve numa consciência comum e comunitária. A possibilidade que meros espectadores ou utilizadores têm de contemplar e de disponibilizar conteúdos de literatura, de ciência e de entretenimento através de um meio democrático, acessível e interactivo, constitui um motivo, mais do que suficiente, para se proceder a uma actualização do seu imaginário figurativo, da sua intelecção e da sua interpretação estética.


O YouTube, no seu “programa”, apresenta a possibilidade de terminar com os monopólios de expressão pública, estruturando, contemporaneamente, atmosferas de interacção entre indivíduos com diferentes identidades culturais. Logo, representa uma “tela” democrática no sentido de espaço livre para todos os conteúdos e uma espécie de meio de comunicação social sem censura ou cortes, em que qualquer indivíduo tem total autonomia e infindável liberdade de expressão. Todavia, a informação é apresentada fora dos moldes jornalísticos e esta conjuntura constitui, certamente, um prenúncio da consolidação de um meio de comunicação sem coador. O YouTube amamenta a sensação de que qualquer um de nós pode ser redactor, editor, jornalista ou comunicador. Será que a “popularização” da informação não foi fortemente impulsionada com a Internet? Será que o YouTube não lhe conferiu uma dimensão ainda mais grandíloqua?


O YouTube, através das suas funcionalidades em que se conjugam o ilusório e o autêntico, o analógico e o digital, o histórico e o factual, o ancestral e o hodierno, o corpóreo e o virtual, o orgânico e o tecnológico, realiza, a uma imensidão de admiradores de música, arte e cinema, a quimera da construção de uma programação audiovisual.


Não será antiquado e desajustado afirmar que o YouTube ainda desempenha o papel de protagonista “revolucionário”, constituindo uma brilhante “tentativa” comercial e uma espécie de “pedra no sapato” para as ditaduras, máfias e regimes autoritários. Há uns anos atrás, seria difícil conjecturar que todos os cidadãos tivessem a possibilidade de se metamorfosear em promotores e produtores de imagens e que, as mesmas, pudessem ser difundidas de uma forma tão célere e tão abrangente. Por possuir um recheio extenso e uma democracia na imagem, a Internet permite ler, escutar, observar, testemunhar, advogar, intervir e relacionar de forma mais eficaz, convincente e desafogada que os apelidados meios tradicionais, utilizando, simultaneamente, arquétipos autónomos às variáveis tempo e espaço, e às diferenças culturais, económicas e políticas. O aperfeiçoamento das tecnologias digitais da imagem proporciona-nos, seguramente, um entendimento distinto das nossas próprias “afinidades” com os objectos, com o espaço e com o tempo. Por exemplo na própria página inicial do YouTube, que é indumentada de entradas, atalhos e componentes comutativos, podemos encaminhar observações e julgamentos críticos, na medida em que a rede tem a porta aberta às sugestões, inspirações e intervenções, facilitando e fomentando, deste modo, a contemplação de novos horizontes, o arrostamento de modernos reptos e a edificação de um conjunto de circunstâncias inéditas de gestão e de auto-gestão dos procedimentos interactivos.


Apesar da história nos relatar diversos casos em que os políticos utilizaram os meios de comunicação social para difundir a sua ideologia e para propagandear assuntos de fraca índole moral, também através da Internet presenciamos uma fragilidade no controlo de alguns conteúdos e de alguns sites.
Há efectivamente uma revolução no “panorama” da imagem, uma vez que, alterando de forma visceral a nossa conexão e correspondência com o visível e com o perceptível, transforma-se a configuração, o assunto e os conteúdos dos objectos e das questões que “importamos” ou “exportamos”. Neste contexto, estes novos produtos, devido ao cunho da inovação, da originalidade, do descomedimento, das duplicações e da fácil e rápida liberdade de acesso e utilização, prescrevem a indispensabilidade de uma investigação e separação selectiva, para que a verdadeira essência da cultura digital se consiga saborear.