Ouvimos regularmente falar em alimentação e Diabetes, mas será que compreendemos, de facto, esta relação?

Os últimos números indicam-nos que, em Portugal, cerca de três milhões de pessoas têm diabetes ou pré-diabetes, o que representa 30% da população.

A Diabetes mellitus tipo 2 é uma doença crónica que ocorre habitualmente na idade adulta, caracterizada pela produção insuficiente de insulina ou pela incapacidade do corpo em utilizá-la, resultando no aumento anormal da glicemia (vulgarmente denominada por “açúcar no sangue”).

Os hidratos de carbono são o principal nutriente com efeito na glicemia. Após a sua digestão, transformam-se em glicose (o “açúcar”) que, ao passar para a corrente sanguínea, deve ser encaminhada para o interior das células onde será convertida em energia. É nesta fase que a insulina, hormona produzida pelo pâncreas, assume o papel de “chave”, uma vez que “abre portas” nas células do nosso organismo para a glicose entrar.

Embora exista uma forte componente hereditária na Diabetes tipo 2, os principais fatores de risco para o seu desenvolvimento incluem o excesso de peso, alimentação inadequada e sedentarismo. Assim sendo, a prevenção desta doença crónica envolve sempre mudanças no estilo de vida, incluindo a alimentação.
E é precisamente no confronto com a necessidade de alteração de hábitos alimentares que surgem as dúvidas mais frequentes: “O que comer?”, “Qual a quantidade ideal?”, “Quando comer?”, “Devo eliminar os hidratos de carbono da minha alimentação?”.

Este processo de reeducação alimentar torna-se ainda mais confuso quando constatamos a enorme quantidade de informação (nem sempre fiável) em torno deste tema.

Em primeiro lugar, é importante esclarecer que a alimentação para a prevenção da Diabetes, não tem por base, exclusivamente, o cuidado com a ingestão de alimentos ricos em açúcar… todos os hábitos alimentares influenciam! A alimentação deve ser analisada por inteiro, sendo errado culpabilizar ou divinizar um único nutriente ou um grupo específico de alimentos.

A eliminação dos hidratos de carbono da alimentação como forma de prevenção da Diabetes tipo 2 tem sido uma prática bastante recorrente na população em geral. No entanto, não será a mais correta! Vejamos: se é através deste nutriente que obtemos a principal fonte de energia do nosso organismo, conseguimos compreender que a sua exclusão total da alimentação não será a melhor opção.

Para além disso, os hidratos de carbono encontram-se, principalmente, em alimentos como cereais e seus derivados, fruta, leguminosas, batatas, leite e iogurtes, que constituem importantes fontes de outros nutrientes essenciais.

Neste sentido, o segredo está na escolha das melhores fontes deste nutriente (devendo privilegiar alimentos ricos em fibra, vitaminas e minerais), na diminuição do consumo de doces e refrigerantes, e no ajuste das quantidades ingeridas, de acordo com as necessidades individuais.

De um modo geral, o recomendado é adotar uma alimentação saudável, isto é, uma alimentação equilibrada, variada e completa, segundo a Roda dos Alimentos portuguesa. Simultaneamente, um baixo consumo de alimentos processados, ricos em açúcar, sal e gorduras saturadas é requisito para uma alimentação adequada.

Não seria possível abordar este tema, sem mencionar um dos padrões alimentares mais sustentáveis e com mais benefícios reconhecidos ao nível da saúde, a Dieta Mediterrânica.
As suas características tornam-na numa aliada para a saúde, nomeadamente na diminuição de risco para o desenvolvimento de várias doenças crónicas, incluindo a Diabetes mellitus tipo 2.

Quais os 10 Princípios da Dieta Mediterrânica?

  1. Frugalidade e cozinha simples, tendo como base as preparações que protegem os nutrientes, como as sopas, os cozidos, os ensopados e as caldeiradas.
  2. Elevado consumo de alimentos de origem vegetal, nomeadamente de produtos hortícolas, fruta, pão de qualidade e cereais pouco refinados, leguminosas secas e frescas (exemplos: ervilhas, grão, feijão) e frutos gordos (exemplo: nozes, amêndoas, avelãs).
  3. Consumo de alimentos de origem vegetal, produzidos localmente, frescos e da época.
  4. Consumo de azeite como principal fonte de gordura.
  5. Consumo moderado de laticínios, de preferência magros.
  6. Utilização de ervas aromáticas para temperar em substituição do sal.
  7. Consumo frequente de peixe e consumo baixo de carnes vermelhas.
  8. Água como principal bebida ao longo do dia.
  9. Consumo baixo a moderado de vinho e apenas nas refeições principais.
    Atenção: O consumo de bebidas alcoólicas é totalmente desaconselhado a crianças, jovens, grávidas e lactantes.
  10. Convivialidade à volta da mesa.

Este aconselhamento geral ajuda a orientar as decisões diárias relativas à alimentação, no entanto, permanece frequentemente uma grande dificuldade em colocá-lo em prática. Por essa razão, torna-se essencial a obtenção de ajuda por parte de um profissional de saúde, como o nutricionista, principalmente em casos de pré-diabetes.

Não existindo uma fórmula mágica, torna-se impossível encontrar um único plano alimentar que se adeque a todas as pessoas. Existem muitos fatores que condicionam o aconselhamento e o plano alimentar individual, como por exemplo: idade, peso, altura, prática de exercício físico, história clínica, objetivos individuais, horários, hábitos alimentares pré-existentes, entre outros. A individualização é um fator crucial para que o processo de reeducação alimentar tenha o maior sucesso possível, promovendo a prevenção de doenças crónicas e uma maior qualidade de vida.

Não subvalorize o impacto que a alimentação pode ter na sua vida. Adote um estilo de vida saudável!

Artigo escrito por: Nutricionista Cátia Marques (2851N)

catiadamarques91@gmail.com