O conceito celebridade está intimamente ligado ao capitalismo, aos meios de comunicação social e às indústrias culturais. O pretérito perdeu o seu “preço”; as ideologias e os valores depauperaram-se; a fidelidade esfumou-se; a esperança e a sensatez abrandaram o ritmo; os saudáveis relacionamentos sociais e familiares desapareceram, o capital e a aparência vestiram-se de gala e encontram-se no cume da confraria, a sapiência foi ofuscada pela estupidez, e o culto ao consumo foi promovido a “senhor omnipresente”.
Em épocas mais sãs, o universo e os pensamentos eram frequentados por heróis oriundos da utilidade e grandeza do próprio homem. Eram períodos em que a dimensão de um indivíduo era determinada pelas suas conquistas, tomadas de decisão, e comportamentos de coragem e bravura. Adjacentes à elevação desses grandiosos homens estavam componentes de coragem, sacrifício ou religiosidade. Na verdade, o herói conseguia erigir-se a si mesmo, enquanto a celebridade acaba por ser uma produção dos meios de comunicação de massas. Será que as celebridades, consideradas por muitos como os verdadeiros ídolos do consumo e da quebra de regras, não espelham a opacidade da nossa própria existência? Será que a ilusão, aparência e fantasia constituem condomínios tão luxuosos ao ponto de existirem milhares de cidadãos a pretender habitar nos mesmos? Será que as celebridades confeccionadas “sem estrugido” não acabam por ofuscar, ainda que em circunstâncias sumárias, as celebridades edificadas no mérito e no talento?
Qualquer criação instantânea de celebridade feminina tem adjacente curvas corporais harmoniosas e esculturais. Esta conjuntura até que não é má para a vista, contudo o problema reside quando as mesmas abrem a boca, uma vez que geralmente só verbalizam disparates. Uma celebridade alicerçada somente nos dotes físicos e na celeridade do processo, jamais pode ser considerada uma “fidedigna” celebridade.
As indústrias do entretenimento partem diariamente à procura de novos talentos, mesmo dos talentos frágeis, com a finalidade de os metamorfosear em estrelas: perfilhando uma espécie de monólogo autoritário; implementado a maior velocidade possível; administrando as suas carreiras; escolhendo os caminhos a seguir; e impulsionando os seus próprios lucros. No fundo, superintendem os encadeamentos entre “imortais” e “mortais”, determinando as direcções e os contextos daquilo que se vai consumir. Logo, boa parte dos meios de comunicação e das indústrias do entretenimento confeccionam celebridades para terem a oportunidade de se alimentar das mesmas em movimentos assíduos.
As celebridades instantâneas podem mesmo ser consideradas mercadoria fast-food. No rótulo dessas celebridades está escrito que as mesmas não podem ser agitadas em contextos complexos e de delicada identificação e interpretação, uma vez que essa situação iria ter profundas contra-indicações para as suas silhuetas e maquilhagens. A chancela celebridade, em variadíssimas ocasiões, não pode ser degustada como sendo uma configuração individual alicerçada nos dons.
Todos os responsáveis pelo discurso mediático convivem no caminho do contratempo, correndo o risco de se tornarem os palhaços tristes do circo social, pois a vida é um espectáculo e os meios de comunicação o seu estrado. Infelizmente qualquer momento da história de um candidato a celebridade é “sobrevalorizado”, metamorfoseando-se em “parágrafo” e consumindo-se vorazmente como se de uma revista pornográfica se tratasse.