Algumas organizações passaram a concretizar políticas sociais que anteriormente eram funções e ocupações exclusivas do Estado. O desenvolvimento das organizações sociais institui uma “tensão” ininterrupta sobre as enfermidades produzidas pelo regime vigorante, numa conjuntura assinalada por desigualdades, tendenciosidades, desemprego e instabilidade laboral. Os cidadãos voluntários são “agentes” que executam empreitadas, desligados de contrapartidas financeiras ou recompensas materiais, em benefício de outros. Será que o voluntariado não consiste numa deliberação consciente, criteriosa, e livre dos indivíduos?
Os indivíduos, ao cumprirem configurações voluntárias, acabam por exteriorizar dissemelhantes necessidades que comummente estão coligadas à cultura, aos estilos de vida, e às texturas de valores e de crenças. A investigação sobre o entendimento dos propósitos que podem conduzir um cidadão a entregar-se a uma determinada organização, e a conservar-se na mesma, constitui uma condição pertinente na superfície da administração das organizações sociais, assim como nas análises e nos estudos que focam o comportamento organizacional. Será que no conjunto dos propósitos não estão incluídos o desenvolvimento; a filantropia; a aprendizagem; o sentimento de pertença; o reconhecimento social; a auto-estima; e a generosidade? Será que no âmago do altruísmo não podemos evidenciar o desejo de coadjuvar os outros; o sentido de incumbência; e a determinação em concretizar tarefas profícuas e coloridas? Será que o voluntariado não pode agasalhar, em simultâneo, configurações altruístas e temperamentos egocêntricos? Será que em determinadas circunstâncias não se procura recuperar a dignidade humana através do trabalho voluntário?
O trabalho voluntário talvez tenha começado a ser aperfeiçoado e disseminado aquando da necessidade de socorrer os enfermos “procedentes” das profundas epidemias e contágios que assolavam a população da época. Com o decorrer do tempo, o trabalho voluntário foi abandonando a chancela assistencialista, passando a ser mais organizado e nivelando-se às normas e às directivas estratégicas da Instituição na qual desfila. Será que o trabalho voluntário não é aquele que mais contentamento oferece? Será que aqueles que desenvolvem trabalhos voluntários não estão mais preparados para coabitar com as diferenças existentes nas comunidades?
Inúmeras empresas privadas e públicas têm vindo a implementar esforços em movimentos sociais, procurando não só o benefício do próximo, como também os índices de diferenciação e de competitividade nos seus concernentes mercados. Será que as Instituições não contribuem, ainda que de modo indirecto, para o aperfeiçoamento pessoal e profissional dos seus voluntários? Será que as mesmas não contribuem para que os voluntários encontrem novas aptidões e competências; aumentem a circunferência referente às amizades; e estimulem o sentimento de cidadania?
Ao longo da história da humanidade descobrimos e recuperamos algumas demostrações voluntárias de companheirismo, de afinidade, de benevolência, de caridade, de interajuda e de partilha, ou seja, configurações de concomitância social e de estruturação social que têm a finalidade de diminuir ou dissolver algumas questões prejudiciais de carácter individual e colectivo.
Em múltiplos locais do País confirmam-se algumas conjunções de inclusão social de crianças, em consequência de múltiplos factores, designadamente problemas económicos, sociais e familiares, que exigem o “fortalecimento” político, bem como um conjunto profícuo e abrangente de estratégias. Será que não se torna indispensável enrijecer a implementação de comportamentos voluntários?
A inclusão social alicerça-se em alguns preceitos como sejam: a aquiescência das diferenças individuais; a valorização e o apreço pela desigualdade humana; a equivalente importância das minorias quando comparadas com as maiorias; e o direito de pertencer e fazer parte integrante de toda uma estrutura ou dinâmica. De realçar que alguns conceitos, como discriminação, marginalização, apartheid, ostracismo e gueto, despontaram em diferentes contextos históricos, embrulhando, no seu cerne, a tela da classificação e do afastamento entre cidadãos de primeira e de segunda. Será que os contextos de inclusão não estão intimamente associados a um conjunto de valores?
Uma criança com necessidades especiais acarreta a indispensabilidade de um quadro de cuidados peculiares. Na mente dos progenitores aparecem sempre algumas questões, quadro este que acaba por ser normal. Quando se aborda o vocábulo normal, escreve-se geralmente sobre “corpo e mente saudável”. Qual é o motivo pelo qual chamamos de anormal a um indivíduo que tem um determinado comportamento? Será que a conduta das pessoas, ditas normais, não agasalha variáveis e argumentos que nem a ciência consegue explicar?
A educação inclusiva tem como objectivo impedir que as diferenças se metamorfoseiem em desigualdades de aprendizagem e de participação. Todas as crianças de uma determinada comunidade devem aprender concomitantemente, independentemente das suas circunstâncias individuais, culturais e sociais. Para incluir é necessário contemplar no sujeito a sua essência, aceitar as suas imperfeições e reverenciar os seus apanágios. Será que o indivíduo não alberga o direito de pertencer a um grupo? Será que pertencer não é conviver e participar verdadeiramente? Será que a discriminação e o preconceito não indumentaram a personalidade da sociedade?
As crianças com necessidades educativas especiais devem ingressar na escola regular. A escola agasalha o dever de recebê-los devidamente e acomodá-los pedagogicamente. A pedagogia aplicada deve, evidentemente, ser concentrada na criança, assim como ser capaz de satisfazer tais necessidades. Os estabelecimentos de ensino que hospedam traços de orientação inclusiva podem ser considerados como mecanismos bastante eficientes e convincentes de pelejar contra disposições segregadoras, colaborando, desse modo, para a edificação de sociedades hospitaleiras, justas, inclusivas e abrangentes. O voluntariado representou, constantemente, uma magnífica ferramenta de robustecimento da coesão social. Será que o voluntariado não é frequentemente relacionado com a justiça social?
A justiça social acaba por se materializar no campo comum, ou seja, na estruturação da cidadania. A sua expugnação está sujeita a planos, projectos e delineamentos que visam a totalidade da sociedade na superfície pública, devendo contar com entusiasmo político, com envolvimento social e com apoio por parte das Instituições. De referir que o espaço privado do voluntariado, apesar de albergar diversas actuações socialmente proveitosas, não faz esquecer, nem tão pouco substitui, o espaço público ao qual se entrega a responsabilidade pela intercessão de conveniências contraditórias, procurando incessantemente aquilo que é realmente e socialmente justo.