Para além das tecnologias de produção, os agricultores portugueses necessitam alcançar qualificações técnicas na transmutação dos produtos e uma intelectualidade inovadora.

Portugal aconchega recursos que possibilitam a diferenciação dos nossos produtos. É determinante financiar a médio prazo uma utilização que combata os vértices da desertificação que desfilam no território português. Os apoios à agricultura têm forçosamente que proporcionar, no futuro, a conservação e ampliação dos rendimentos em espaços rurais, o aumento dos graus de comodidade e tranquilidade para os agricultores, e o incremento do investimento no aprimoramento de tecnologias e sistemas de produção harmonizados aos nossos recursos. Será que o itinerário a seguir não é o de valorar, estimar, estimular e propagandear aquilo que produzimos? Será que a concepção, acomodação, utilização e perfilhação de erudição técnica, que considere o aproveitamento dos nossos recursos naturais para propósitos agrícolas, não constituem condições que devem ser consideradas prioritárias? Será que as políticas agrícolas não devem promover o desenvolvimento social e económico dos agricultores? Será que as mesmas não devem aguilhoar o desenvolvimento sustentado da agricultura portuguesa? Será que para garantir maiores pautas de rendimento não é necessário efectuar o redimensionamento das explorações agrícolas?


Para além das tecnologias de produção, os agricultores portugueses necessitam alcançar qualificações técnicas na transmutação dos produtos e uma intelectualidade inovadora, laboriosa e empreendedora para, concomitantemente, adquirirem a tão almejada capacidade e competência empresarial. Apetrechadas com estas “capacidades”, as empresas da indústria alimentar e da restauração acabam por utilizar técnicas de mercado, designadamente a publicidade e o marketing, para interligarem os seus produtos aos atributos e emblemas rurais de qualidade.


A agricultura de exportação acaba por não ser, por si só, uma alavanca leal do autêntico desenvolvimento. A agricultura familiar pode tornar-se mais produtiva, despertar o progresso rural integrado e diminuir as pardacentas paisagens de carência. O Estado deve aconchegar uma função activa e diligente que ofereça primazia à produtividade. A economia globalizada presenteia a agricultura familiar com oportunidades, contudo a mesma, para usufruir das oportunidades, não dispensa os apoios oriundos do Governo e as robustas fragrâncias de cariz organizativo. Os Países devem salvaguardar o direito de regimentar as suas importações e exportações, uma vez que os mesmos não devem aceitar as constantes restrições à sua capacidade de patrocinar e promover o desenvolvimento da indústria nacional. Será que não é essencial a aprovação de legislação que pontualize o poder de mercado imerecido das empresas transnacionais que tuteiam no mercado agrícola? Será que não é importante a edificação de programas que promovam a diversificação de produtos agrícolas?


Quando a agricultura já não constitui o sector preponderante no que diz respeito à economia, emprego rural e ocupação da área rural, bem como quando boa parte dos agricultores estão a tempo parcial e em regime de pluriactividade, compreende-se a relevância da diversificação das economias rurais para a conservação das exíguas explorações e funcionamentos agrícolas de silhueta familiar.


Os resultados das políticas agrícolas são desastrosos: Portugal apresenta um défice em determinadas produções que antigamente ocupavam o patamar de excedentárias; os proveitos oriundos da produtividade não “indemnizam” o desabamento de milhares de explorações agrícolas familiares; o remoçamento da nossa textura produtiva agrícola não existe; o meio rural emagreceu e desertificou-se; verificou-se um imenso e incompreensível aumento dos preços dos agentes de produção como as sementes, rações e combustíveis; confirmou-se uma colossal concentração de empresas de distribuição que pagam a produção a preços cada vez mais franzinos; os supermercados privilegiam a venda de produtos agrícolas estrangeiros; a agricultura não é uma actividade magnética para os jovens; a crescente especulação e volatilidade dos preços “deterioraram” os mercados; a gradual exposição aos mercados financeiros limitou os caminhos da produtividade; a imagem da agricultura está profundamente desarranjada; e os portugueses dependem do “exterior” para se alimentar. Será que não é esta penosa realidade que os governantes deviam identificar e encarar para conceber, apresentar e empregar políticas agrícolas e de mercado mais pigmentadas e suculentas? Será que no sector agrícola não desfilaram, ao longo dos tempos, indumentarias impregnadas de demagogia, manipulação, excessiva submissão e publicidade falaciosa? Será que em certos momentos os agricultores e as organizações agrícolas não foram tratados, pelos Governos, como autênticos inimigos? Será que não é fulcral defender junto da União Europeia (UE), o direito a produzir em Portugal para alimentar condignamente os portugueses? Será que em certas ocasiões a promoção da competitividade não acarinhou algumas doses de fraude e invencionice? Não será relevante promover a produção agrícola nacional? Será que não é fulcral o controlo severo das importações? Será que não é fundamental avigorar as verbas do Orçamento de Estado reservadas à agricultura? Será que a nossa soberania não está penhorada e entaliscada há muito tempo? Será que não existem estratégias para adquirir recursos? Será que existe algum tipo de preocupação política de emolduramento estratégico da condição alimentar? Não será Portugal um País excessivamente vulnerável? Será que a produção de bens alimentares não assume um papel de extrema importância para a nossa permanência e harmonia social?


A política de desenvolvimento rural tem que ter como metas: o incentivo a laborações complectivas que aumentem os postos de trabalho, contribuam para circunscrever o êxodo rural e revigorem as texturas económico-sociais das áreas rurais; a beneficiação dos contextos de vida e de labor; a recriação das redes de escoamento; o indigitamento da igualdade de oportunidades; a modernização das explorações agrícolas; a segurança e qualidade dos produtos alimentares; os rendimentos justos e estáveis para os agricultores; e a consideração e reflexão dos reptos ambientais. Habitar em superfícies rurais constitui uma opção alternativa à vida nos espaços urbanos, contudo para a mesma ter fundamento tem que estar asseverada a mobilidade das pessoas, as comunicações simplificadas e o emprego “cultivado”.


A maior parte dos agricultores deixaram de produzir para o mercado e rejeitaram a actividade, pois os aquedutos de escoamento e procura para os seus produtos continuam a ser “rudimentares”. As políticas “liberais” apadrinharam unicamente o sector do grande comércio de importação em detrimento do “plano” nacional.