A publicidade apresenta um universo figurativo que nos faz acreditar na facilidade, no conforto, no contentamento, no aprazimento e na tranquilidade.

Geralmente a formosura está espiritualmente agremiada ao género feminino, enquanto o sucesso social e profissional está mais associado ao género masculino. O aproveitamento das “curvas” da mulher, enquanto objecto de encenação publicitária, torna-se legitimado e aceite de uma forma agradável pela sociedade.


O publicitário quando desenha a molde e o conteúdo da mensagem publicitária para uma determinada campanha tem que programar e arquitectar a mesma segundo uma multiplicidade de variáveis como são: o orçamento disponível; a adopção dos meios e técnicas publicitárias mais adequadas; a definição do público-alvo; e o estudo rigoroso da mensagem a transmitir. Neste sentido, quando se decide pelo emprego do erotismo na publicidade tem que se compreender não só a parte racional, como também o padrão emotivo do consumidor. Contemporaneamente, a voluptuosidade assumiu um papel fundamental no seio da publicidade, deixando variadíssimas soluções aos arquitectos publicitários.


A publicidade apresenta um universo figurativo que nos faz acreditar na facilidade, no conforto, no contentamento, no aprazimento e na tranquilidade. Esta “realidade” está sempre desenhada com pessoas felizes, flexíveis e alegres que estão inseridas em fragrâncias repletas de “expoentes” de bem-estar, sucesso e champanhe. Deste modo, comunica-se e aliena-se uma imagem exemplar e cheia de docilidade ao público.
Os signos têm obrigatoriamente que aconchegar a inteligência, capacidade e habilidade de representar um ocasionado objecto, uma vez que os mesmos nos fornecem compreensão sobre a sua essência. Através da linguagem, o ser humano amamenta reproduções e figurações de si próprio, dos outros indivíduos e da sociedade “ecuménica”.


Algumas características dos anúncios publicitários que “apreciam” e “consomem” a sensualidade feminina são: o desejo; a provocação; a sedução; o romantismo; a distinção; a liberdade; a rebeldia; e o desfile dos corpos esbeltos e sumptuosos. O carácter impregnado de simbolismo da publicidade também agasalha o objectivo de fantasiar, facultando ao produto particularidades meramente imaginárias e enganosas.


O erotismo está intimamente associado à “consistência” e realidade psicológica dos indivíduos, agasalhando conexões de grande proximidade com as texturas da paixão, da satisfação e do deleite. Porém, o espaço de actuação que desfruta nas estruturas da sociedade é bastante desordenado, disperso, impreciso e labiríntico.


A sensualidade e o erotismo residem na “consciência” e “inconsciência” dos contempladores. Por esse motivo, é legítimo asseverar que as interpretações da pintura erótica podem alternar segundo a cultura, o meio, a formação académica, e as experiências sociais e económicas dos indivíduos.


A imagem da mulher nas campanhas publicitárias, como componente convincente e persuasiva, acaba por não segmentar o público. Quando se publicita um determinado produto ou serviço com uma mulher altamente sensual, ou seja, com roupa curta e corpo deslumbrante, as outras mulheres acabam por se render a essa imagem, procurando encontrar algum padrão de identificação e “autenticação” com a “bólide” da campanha. Será que as campanhas publicitárias não têm em conta as expectativas adjacentes ao produto, bem como as sensações outorgadas ao seu consumo.


A verdade é que ser esteticamente bonita e atraente sempre foi uma indispensabilidade que desfilou no dia-a-dia da mulher. Todavia, não será menos verdade que esta aspiração também está relacionada com as exigências, injunções, “indumentárias” e pretensões da sociedade de consumo. A consciência contemporânea de perfeição abandonou há muito tempo a correspondência com o imaginário unicamente atingido nos esboços dos pincéis ou nos versos do porta-penas. Já não existem fronteiras “ingénitas” para a excelência, uma vez que os produtos e serviços de beleza vulgarizaram-se em grande escala, e a cirurgia estética “domina” as imperfeições, as máculas e o próprio envelhecimento.


Presentemente, e infelizmente, o cunho simbólico da publicidade acondiciona propósitos alicerçados, de forma quase exclusiva, na fantasia e na inverdade, procurando fazer sonhar os consumidores e adjudicando aos produtos mais-valias que, pura e simplesmente, não possuem.