Numa sociedade fortemente concorrencial como é a nossa, para além dos produtos ou serviços publicitados, também os anúncios competem entre si com a inequívoca finalidade de conquistar e dominar a atenção do público.

Há a tentativa constante de metamorfosear o público-alvo em efectivo “público-consumidor”. O mundo capitalista vai aclamando a cultura fundamentada nas imagens e nas aparências. Logo, no seio do capitalismo existe a necessidade de proporcionar desafogados “padrões” de divertimento, uma vez que somente dessa forma se consegue inflamar o consumo e hipnotizar os prejuízos causados a certas camadas sociais.
A publicidade pode ser contemplada e compreendida como um meio de apresentação e subsequente reconhecimento de produtos, marcas ou serviços, tendo sempre em consideração um prévio estudo de mercado relacionado com as necessidades, paladares, ambições e apetites dos consumidores. Em variadíssimas ocasiões a publicidade também é responsável pela “descoberta” de novas indispensabilidades. Através da fundação de novos sabores, desejos, caprichos e costumes, a publicidade remete sistematicamente os indivíduos para modernos imaginários consumistas. Na verdade, as mensagens publicitárias procuram transformar necessidades falsas em verdadeiras. Será que a principal finalidade da publicidade não passa por fazer o público imaginar e sonhar, sem nunca se preocupar com o vocábulo informar?

A revolução dos cravos acarretou e fomentou várias transformações estruturais no País. A década de 80 assinalou a verdadeira mudança da publicidade em Portugal. Diversos factores colaboraram para essa conjuntura, tais como: a abertura, autonomia, liberdade, criatividade e espontaneidade que o 25 de Abril de 74 provocou; o aumento do equilíbrio político, cultural, social e económico; a adesão à Comunidade Europeia; a abertura a novos mercados e consequentemente a novos produtos e serviços; e a chegada de muitas organizações multinacionais. Passou a existir uma grande diversidade de preferências, selecções, “imposições”, deliberações, prédicas, gostos e vontades, bem como autênticos contextos de concorrência e de agressividade, tanto nos paradigmas da qualidade, como nos semblantes da publicidade.

A mensagem publicitária tem obrigatoriamente que ter em conta os contextos culturais, a economia de mercado e a própria sociedade. Numa primeira fase, o anúncio, através de uma panóplia de atributos, deve conseguir vender-se. Somente depois se irão considerar as hipóteses da venda real do produto. A necessidade de existência de sedução na publicidade está intimamente amarrada a esta conjuntura.
A realidade patenteia que ao longo dos tempos a comparência da mulher na publicidade tem vindo a aumentar, estando a mesma aglutinada a uma pluralidade de produtos e serviços. Contudo, será justo realçar que muitos desses produtos ou serviços não são destinados ao sexo feminino.
O nu e o semi-nu, que aparecem como elementos simbólicos naturais de sensualidade, sedução, sexualidade, beleza e “forma”, albergam múltiplos tipos de classificação. O serôdio aparecimento do nu na publicidade está profundamente associado a um conjunto de “preconceitos” relacionados com a moral, o pudor, a advertência, a “anotação”, a ditadura, a cultura, a censura e a crítica. Quando a sociedade não aceita algumas temáticas, torna-se difícil e arriscado a exposição das mesmas. A publicidade espelha a sociedade, contudo jamais se adianta à mesma, sendo, portanto, no caso da nudez necessário que esta, para ulteriormente a publicidade a reproduzir, se banalize na comunidade.

O modo como nas imagens publicitárias o corpo nos é apresentado e “declamado”, com dissemelhantes posições, atitudes e gestos, indiciam que a significação e a consequente interpretação podem permutar conforme os produtos e as “etiquetas” publicitadas. O corpo difundido pela mensagem publicitária constitui um paradigma indicativo da inclinação contemporânea para o abatimento dos preconceitos que ainda existem em relação ao físico, bem como da ousadia que vai emergindo nos diversos actores sociais que indumentam a sociedade. Todavia, o corpo também pode cumprir uma função de “objecto”, uma vez que o mesmo, em certas “conjunções”, é aproveitado de forma gratuita, infundamentada e indelicada.