Numa sociedade de atarefado quotidiano, a Geologia aparenta ser um elemento acessório, apenas pedras ou ambientes inóspitos para alguns especialistas estudarem. No entanto, esta é muito mais do que pedras, é um património comum de todos nós, reconhecido pela UNESCO através do Programa Internacional de Geociências e Geoparks, fomentando uma nova abordagem sobre a valorização, promoção e desenvolvimento dos territórios.
A serra da Estrela é um território com um notável património que pela sua relevância, singularidade e significado, constitui um legado comum que importa salvaguardar e valorizar. A sua história geológica estende-se por milhões de anos, desde os primórdios, em que o território se encontrava no fundo de um antigo oceano, passando por gigantescas cordilheiras montanhosas, semelhantes aos Himalaias, culminando com o surgimento da atual montanha e da pérola do património geológico da Estrela, as marcas deixadas pela última glaciação. Para nos contar esta História, destacam-se os geossítios, locais de interesse geológico, que correspondem a diferentes páginas do grande livro da evolução da Terra.
A ação dos antigos glaciares, contribuiu para os principais valores do Estrela Geopark. Estes moldaram a atual paisagem, originando locais únicos, como o Vale glaciário do Zêzere (Manteigas), o Covão da Ametade (Manteigas) ou a Lagoa Comprida (Seia). Também ligados ao frio, mas sem a presença do gelo, encontramos locais como as cascalheiras do Souto do Concelho (Manteigas) ou as do Alto da Pedrice (Covilhã).
Tendo por base as características das rochas e dos minerais, nos geossítios petrológicos (petros significa rocha em grego), enquadram-se por exemplo os xistos da Quinta da Taberna (Guarda), sendo as rochas mais antigas do território, ou o filão de quartzo onde assenta o castelo de Folgosinho (Gouveia), rochas de aspeto esbranquiçado que sobressaem na paisagem, e que outrora foram alvo de exploração mineira.
As formas graníticas caracterizam a paisagem da Estrela. Os largos milhões de anos desgastaram e moldaram as rochas, gerando variados geossítios, muitos deles com relevância cultural para as populações como, por exemplo, a Fraga da Pena (Fornos de Algodres), a Cabeça da Velha (Seia), ou a serra da Esperança (Belmonte). Também com elevado valor cultural, os geossítios de relevância mineira, demonstrando a importância da exploração dos recursos geológicos, mas também as consequências ambientais resultantes dessa prática, em locais como as minas do Círio (Seia) ou as dos Azibrais (Gouveia).
Neste “Castelo de Água” que é a Estrela, geossítios como a Cascata da Candeeira (Manteigas), ou o Sumo da Caniça (Seia) mostram a imponência da água e a sua capacidade de moldar a paisagem. Já em profundidade, a sua circulação no interior da Terra gera nascentes termais como as que podemos encontrar nas Caldas de Manteigas ou em Unhais da Serra (Covilhã), com variadas propriedades terapêuticas.
Por fim, os miradouros, pontos de observação que permitem interpretar a paisagem, os elementos naturais e a própria influência da ocupação humana milenar nesta montanha, visível em locais como o Colcurinho (Oliveira do Hospital), Linhares da Beira (Celorico da Beira) ou o miradouro do Mocho Real (Guarda).
Na verdade, o património Geológico do Estrela Geopark apresenta elevados valores científicos, cénicos, educativos, ambientais e turísticos, permitindo à Estrela ser um laboratório vivo de aprendizagem e valorização do património, que pretende mostrar que a geologia pode ser parte integrante de uma estratégia de desenvolvimento territorial sustentável. O seu valor e a importância para toda a humanidade, levou a UNESCO a classificar esta Estrela como Geopark Mundial… começa agora um novo desafio!