Poema da minha autoria que espelha a necessidade de criar uma consciência social e política sobre a existência da violência contra a pessoa idosa e jamais aceitá-la como normal.

Frias madrugadas que acolhem sem dignidade os idosos
Bons ouvintes, transmissores excepcionais de conhecimento
Estradas percorridas e lágrimas que escorrem pelo rosto
Corpos privados de calor, carinho, amor e respeito.

Isolamento, silêncio e vazio
Carência de afectos, triste sina
Atitudes indecorosas daqueles que os apelidam de empecilhos ou fardos
Configurações pouco suaves, aromatizadas e ternas.

Sociedade desalinhada
Contextos morais e existenciais, almas cinzentas e pesarosas
Morrer de indiferença, falta de identidade
Impropério que ofusca o amor.

Intolerância, incompreensão, violência, preconceito, negligência e abandono
Tingem a aberração e o desenho impetuoso
Coléricos tiranos e tamanha crueldade
Assassinos camuflados, comunidade descontrolada.

Olhares meigos e sorriso ácido
Desabrigados e esquecidos
Dilacerante sentimento de culpa, instabilidade e fragilidade social
Abusos frequentes, aconchego dos ricos e dos pobres.

Ser velho no mundo contemporâneo, indumentária áspera
Fraternizar com o pânico e redigir a própria morte
Ser culpado pela sua condição de saúde, observados como camada social inferior
“Não sirvo para nada”, “Só estou a dar trabalho”.

O idoso edifica o futuro
Indigna expropriação de direitos, tempos escuros
Incluir a palavra envelhecimento no dicionário
Cuidar é amar.

Auto-estima desviada e cinéreos dependentes
Processos de exploração sem fim, indicadores de ruína
Maltratar com consciência e imposição de desejos
Difícil resolução.

Cultivar a solidariedade
Edificar um mundo mais prazenteiro
Reflectir sobre a velhice, texturas ferozes de ruptura e de marginalização
Realidade forte e verdadeira.

O idoso sonha, ensina, aprende e é útil
Outorga vida a qualquer cenário
A idade passa tão depressa
Tem projectos e saudade.

A velhice não é um problema, nem tão pouco a decadência do ser humano
Sociedade para todas as idades
Preservar a nossa história, tantos ensinamentos
Compreender o tempo e o espaço.

Urge perceber e respeitar a velhice
Conhecer, resguardar e aceitar todas as etapas da vida
Reconhecer e salvaguardar a cidadania
Garantir o nosso próprio espaço no futuro.