Não é difícil fazer diagnósticos em que o futuro se mostra “complicado” e a crise mais “nítida”.

As crises económicas e financeiras são mais frequentes do que possamos imaginar. A nossa média, em democracia, é vivermos uma crise por década. Na última década tivemos duas, sendo a derivada da crise pandémica muito significativa pois não há, desta vez, países a crescer acima da média que possam “puxar” pelas exportações.

Vai tudo bem…e eis que chega a crise?! Não é bem assim…as correções ou os ajustamentos económicos e financeiros são meros efeitos de políticas públicas acumuladas. Sejam internas ou externas. Sim, é verdade que podem existir “ateamentos” vindos de fora. Existirão sempre.

Por exemplo, com a dívida pública a crescer, podemos pensar que estamos a salvo de ajustamentos futuros?! Não vale a pena pensarmos que ía tudo bem até chegar a pandemia. No futuro, outros “bateres-de-asas” em qualquer país ou em setores da atividade económica poderão ter igualmente efeitos trágicos. Uma subida nos juros da dívida para os incomportáveis 5% (ou menos, que o valor absoluto da dívida é agora maior do que na crise de 2011-2014) e deitaria tudo a perder…

Apesar de eu ser um optimista – mesmo que não pareça – preparo sempre os que me rodeiam (familiares, amigos e alunos) para a emergência de uma ameaça que nos tire os sonhos. Não é difícil fazer diagnósticos em que o futuro se mostra “complicado” e a crise mais “nítida”.

Sabemos que teremos problemas com a demografia nas próximas décadas (há territórios a perder 12 a 15% da população em 10 anos); sabemos que os incêndios este ano encontram condições para que essa ameaça se torne mais verificável, sabemos que o tratamento das outras doenças ficou para trás, sabemos que as exportações vão ter um ciclo lento de recuperação, sabemos que a despesa com prestações sociais vai aumentar e que cairá ao mesmo tempo a cobrança fiscal por redução dos universos tributáveis em cada imposto. Menos pessoas a trabalhar; menos consumo interno e provindo do turismo; menos exportações enquanto os mercados dos outros não recuperarem; menos investimento, mais imparidades na banca e atraso no pagamento das faturas …a crise ainda não começou, verdadeiramente.