São importantes as meditações e observações sobre a história da ciência e do conhecimento. A realidade, a exactidão e a certeza acabam, em certa medida, por ser determinadas pelos códigos, símbolos e regulamentos científicos.
A ciência é parte integrante da nossa existência. Comunicar, estudar e tomar fármacos, por exemplo, constituem conjunções que agasalham alguns conceitos obtidos no “dicionário” da ciência. Será que a maioria dos cidadãos tem noção desse “desenho”?
A ciência ainda continua a ser, embora em moldes diferentes de outrora, um porto de abrigo para o homem. Mais do que verdades e certezas, procuramos na ciência as opiniões isentas, consistentes e abalizadas.
Mas, será que a ciência consegue ser profundamente descritiva? Será que a ciência é verdadeiramente imparcial? Será que o pensamento humano não observou e saboreou o conhecimento de formas dissemelhantes?
Será que, em determinadas ocasiões, o cientista não influência objectivamente os resultados? Será que, em algumas circunstâncias, o mesmo não influi no método de pesquisar esses resultados?
Os progressos da medicina transferem elevadas doses de refolgo e alegria a muitas pessoas enfermas; as máquinas, com o decorrer do tempo, estão cada vez mais requintadas, oferecendo gigantescos benefícios em todas as “repartições” sociais; a evolução da construção civil abriga-nos de uma outra forma; e as missões espaciais destapam a existência de outros mundos.
O conhecimento acaba, deste modo, por ser expandindo a lugares nunca antes “imaginados”. A ciência e a tecnologia foram capazes de metamorfosear o semblante do Universo. Será que a ciência e a técnica não constituem alicerces de orgulho para o homem?
Será que o fascínio adjacente à técnica industrial não edifica um certo grau de apresamento? Será que a tecnologia, numa determinada perspectiva, não menospreza a capacidade criadora do homem? Será que a essência e a capacidade espiritual devem ser contempladas como um todo?
Será que a ciência e a técnica, de carimbo ocidental, têm aquiescência em outros paradigmas de cultura? Será que saber é poder?
A ciência moderna transforma a técnica em tecnologia. A máquina deixou de ser um instrumento comum para se metamorfosear numa autêntica ferramenta de exactidão, possibilitando e disseminando agnições mais rigorosas e correctas.
Os “utensílios” tecnológicos ultrapassam a correcção da nossa compreensão, uma vez que os mesmos rectificam imperfeições do nosso próprio pensamento. Na verdade, são mecanismos de inteligência artificial. Será que a inteligência artificial é mais conscienciosa do que a inteligência individual?
Obviamente que são os conhecimentos científicos que consentem a edificação desses instrumentos, transferindo-lhes “competências” que o indivíduo não aquartela. Os “equipamentos” técnicos e tecnológicos acabam por amplificar o “conceito” da ciência.
Os objectos técnicos são concebidos pela ciência como aparelhos de coadjuvação ao labor do homem. Será que o senso comum social não desconhece as transmutações, os compromissos e as transacções existentes entre a técnica e a ciência? Será que o mesmo não conhece unicamente os resultados mais directos e imediatos?
Os estudos científicos passaram a ser parte integrante dos mecanismos produtivos da sociedade, ou seja, são como uma espécie de componente dos vértices económicos produtivos. Acartaram modificações sociais de titânica escala na repartição social do trabalho, bem como na confecção, distribuição, disposição e consumo das matérias corpóreas.
Os autómatos, os sistemas informáticos e o universo das telecomunicações determinam: configurações de poder económico; paradigmas antigos; incrementos de velocidade na produção e distribuição de mercadorias; feições de estruturação do trabalho industrial; modelos de profissões novas; índices modernos de consumo; hodiernos “requintes” de vida; e texturas industriais e comerciais novas. A ciência metamorfoseou-se num verdadeiro agente económico e político.
Talvez por não compreenderem a jurisdição e autoridade económica das ciências, os cidadãos apenas combatem pelo acesso, propriedade e utilização dos mecanismos tecnológicos. Infelizmente, os cidadãos não se preocupam com o acesso às pesquisas científicas e ao conhecimento. Será que os indivíduos lutam pelo direito de deliberar sobre a configuração de inclusão, nos padrões económico e político, dos aparelhos tecnológicos?
Na realidade, as teorias científicas são confeccionadas a partir de determinadas deliberações, finalidades e selecções do cientista. Muitas vezes os resultados acabam por ser sisudos para o homem. Será que um dos enigmas emergente da superfície da ciência não é o seu uso?
Será que não é habitual o conjunto das teorias estar num patamar bastante mais avançado do que o das técnicas e tecnologias que possivelmente o irão aplicar? Será que o cientista acredita permanentemente que a teoria irá ter utilização prática? Será que o uso da ciência não é uma “matéria” delicada? Será que o mesmo não desaparece da “jurisdição” dos próprios cientistas?
Será que essa situação não é responsável pelo fabrico de armas nucleares, armas químicas, armas telecomandadas e satélites, assim como pela “internacionalização” da espionagem?
O desenvolvimento tecnológico divulga, em todos os capítulos do seu percurso, um penetrante “convívio” entre os estímulos e ensejos que apadrinham as inovações tecnológicas e os contextos socioculturais nos quais as mesmas aparecem.
Na realidade, as necessidades sociais, os recursos sociais e as atmosferas sociais benignas são “figuras” que acabam por estabelecer a perfilhação e vulgarização de uma determinada inovação ou modernização. Será que o propósito da necessidade não aconchega diversas indumentárias?
Na sociedade de consumo existem inúmeras necessidades que são desenhadas, de modo postiço, pela publicidade e pela apetência para a ostentação. Será que não é fundamental para a invenção e imaginação a presença de alguns cidadãos que exteriorizem as necessidades? Será que não é somente dessa maneira que se erige mercado para o produto ambicionado?
Será que os recursos sociais não são também imprescindíveis para que uma ocasionada inovação desagúe em águas calmas e cristalinas? Será que muitas invenções não britaram pelo facto de não existirem “recursos sociais” fundamentais para a sua concretização?
A “flexibilidade” de capital está intimamente associada com a presença de um remanescente na produção, bem como com índices organizativos aptos a encaminhar as verbas para o inventor. A sociedade deve estar satisfatoriamente ajaezada para que consiga fortalecer e empregar as inovações tecnológicas. Será que os incentivos ao labor dos inventores não foram, de modo ininterrupto, um agente importantíssimo para o desenvolvimento tecnológico?
A religião e a religiosidade podem ser saboreadas como produções humanas localizadas no campo da cultura. Acabam certamente por ser históricas.
Os conceitos religiosos e históricos são numerosos e multifacetados. Logo, há a necessidade de limar as arestas dos mesmos para que consigamos circular.
A religião pode naturalmente ser definida como o conjunto de doutrinas e procedimentos institucionalizados que têm a finalidade não só de estabelecer o vínculo entre o sagrado e o profano, como também de engrossar o percurso de reaproximação entre o Homem e Deus.
As diversas Igrejas existentes no mundo estabeleceram-se tradicionalmente como meio de exteriorização da religiosidade. Porém, é pertinente identificar que nem sempre a religiosidade se manifesta por meio de religiões oficializadas.
A devoção destapa uma particularidade humana de procura do sagrado, sem, no entanto, nunca caracterizar esse mesmo sagrado. As práticas da religiosidade, em algumas ocasiões, são apenas manifestações não institucionalizadas da religiosidade e precisamente, por essa razão, agasalham a chancela da liberdade e do sincretismo.