A vernácula da crónica é certamente o jornal impresso. As crónicas analisam e explanam episódios mais ou menos contemporâneos, apelando, simultaneamente, à reunião da razão, emoção e meditação.
O cronista palmilha a cidade, a região, o País e o mundo, observando os comportamentos e as deliberações dos indivíduos, bem como registando conjunturas e indagando soluções criativas e decifrações efectivas na sua imaginação e “idealidade”, sem nunca comunicar agressividade, e acumulando energia e entusiasmo para domar a realidade asfixiante.
Para o cronista, a crónica acaba por ser o texto que lhe oferece a independência de transitar, de forma concomitante, pelo real e ficcional, bem como pelo noticioso e literário. Através das crónicas, os leitores dos jornais podem beber o conhecimento dos acontecimentos, informar-se de tudo aquilo que sucede na contemporaneidade e arrecadar um conjunto de leituras da própria Humanidade.
O momentâneo do quotidiano e o imortal da condição literária constituem texturas que caminham lado a lado, nunca se definindo para não se limitarem e pontualizarem.
Em diversas ocasiões, a impessoalidade é ignorada e declinada pelos cronistas. Porém, aquilo que verdadeiramente cativa e estimula o leitor é o nosso ponto de vista, a nossa “leitura” da realidade, a nossa cogitação, a nossa subjectividade e a nossa opinião.
A identidade emotiva com que os cronistas interpretam e compreendem a sociedade ofuscará, em certa medida, a exactidão “objectiva” dos acontecimentos. Os cronistas não devem camuflar as suas vivências, pois, quer queiramos, quer não, as mesmas funcionam como um barómetro aquando da edificação de uma crónica.
O semblante íntegro da crónica encontra-se espelhado, não só na sua frescura, e no seu manancial de liberdade e de despretensão, como também na aproximação entre cronista, crónica e leitor.
As crónicas acolhem fragrâncias de apreciação e crítica em relação ao presente, podendo, conjuntamente, também abrigar uma exterioridade pessimista. Não será legítimo o cronista “publicar” constantemente um futuro renovado e substancialmente melhor, uma vez que corre o risco de se confundir com arquétipos de âmago propagandista e publicista, ou mesmo com a prédica política.
A crónica acaba por ser uma “redacção” subjectiva sobre o mundo que é externada por um autor que escreve com intimidade, informalidade, alegria e autonomia ao seu leitor.
A crónica desfila como uma espécie de compromisso, no qual não existem mediadores, autores subentendidos, opiniões indulgentes ou pérfidas e narradores, uma vez que se trata de um texto autenticado pelo olhar que contempla o “convívio” social e os ruídos do universo.
O texto mais ambíguo é aquele que alberga um maior número de opções, representações e interpretações, sendo, por essa razão, mais agradável para o ledor. Todavia, a construção textual tem obrigatoriamente que conter uma identidade de “portfólio” que permita ao leitor um delineamento ao nível da interpretação.
A nutação entre redundância e informação contribui seguramente para um conteúdo espaçoso e inteligível. Muitas crónicas aquartelam a ironia com a finalidade de se escrever algo que insinue o inverso, desmistificando, dessa forma, a “sintaxe” textual.
Apesar de a competitividade o “exigir” e de existirem vários casos conhecidos, eu, enquanto cronista, nunca senti a imposição de condições específicas na produção do texto.
Deste modo, será legítimo asseverar que a minha independência enquanto cronista nunca defrontou coarctações nos paradigmas ilustrados pela publicação.
Embora, a “ideologia” da máquina, direccionada e acondicionada entre proprietários e editores, condiga com as conveniências dos seus clientes, ainda há jornais que fazem da imparcialidade e da liberdade de expressão a sua bandeira.